terça-feira, 30 de julho de 2013

crônica remix- vamos a la plaia II

VAMOS A LA PLAIA (PARTE II)

O dia chega com aquele friozinho de bater o queixo. Uma neblina alvinha desce sobre a vegetação silenciosa, à beira da estrada. E lá se vem ele, o ônibus do piquenique, varando a brisa matinal de Atalaia. Um olhar alerta, atento às belezuras da natureza, desejoso das benesses do Atlântico, espreita. Uma voz excitada, explode num antegozo:
_ Chegaaamuuus!
É rápido que se instala o caos dentro do ônibus. O despertar é imediato. E cada um trata de dar um jeito de se aprontar para um dia de praia. Os mais práticos improvisam um biombo, lá na cozinha, onde as damas podem vestir-se com os seus duas-peças prafrentex. O tráfego no corredor do ônibus é intenso, e quem estava sentado sobre as latas dos pastéis tem que levantar ou arredar um tiquinho. Menino, então, é quem mais se mexe. Eita, coisa que rende, é menino! Fuçam de uma ponta a outra e no meio do caminho, embrenham-se numa acirrada luta pela posse da cadeirinha do cobrador.
Hum, hum! Já dá pra sentir o cheirinho do mar. O motorista manobra, estuda o ambiente e consegue uma sombra pai d’ égua pra estacionar. O organizador dá o bê-a-bá sobre o passeio e mais de uma vez, alerta para o horário de retorno...E liberou geral!
Os meninos são os pri. Descem em desabalada e ganham a areia em direção a água. “Segura na não de Fulana”, esgoela-se a mãe, arrastando-se pela fofura do solo, numa luta desigual entre as havaianas e a areia abundante. “Menino, pega na mão de Sicrana, se não...”, ameaça a outra, equilibrando-se com um guarda sol, uma frasqueira e uma panela de arroz. Mas nem adianta gastar saliva com a petizada. Elas já deram o primeiro mergulho e se danam a chapinhar na água rasa, soltar perdigotos salgadinhos, virar carambela na areia e a correr atrás do tralhoto, o peixe que risca a água “em pezinho, eraste!”.
É, mas o deus Netuno não está lá muito católico com os nossos veranistas. “Tá enchendo?” “Olha, cuidado que, aqui, a maré enche pela beirada”. “Tá enchendo?” Não, não tá enchendo. A maré tá na vazante e é melhor aproveitar logo, enquanto a água tá bem ali. Daqui a pouco as ondas vão bater recatadas e silenciosa lá longe, na baixamar.
Depois do mergulho, as pessoas vão peruar lá pras bandas do lago da Coca-cola, posar no alto das dunas, para as fotos, e catar conchinhas de pedra, nos lajeiros expostos. Os mais novos, lançam olhares pidões àquelas vizinhas mocinhas, que na rua, não dão papo pra ninguém. E lá pelo meio-dia, quando vão ao ‘mergulho pra almoçar’, a água já se escondeu lá atrás do estirãozão de areia úmida.
Depois do almoço, aquela morrinha. O Cortezano esquenta as orelhas e derruba uns quantos nas redes atadas aos pés de pau. Os meninos, ufa! Pirilampam, agora, à sombra. E né que os rapazinhos são correspondidos nos olhares e , de mãos dadas com as vizinhas metidas, arvoram-se num passeio até lá no fim, e ... ah, não! Não é que vai chover! Os deuses não estão mesmo muito aquele com nossos banhistas, e aquela nuvem pesadona desaba acabando com o namoro dos pequenos e com a graça do passeio.
Sob a chuva torrencial (ah, os deuses!), o organizador comanda a retirada. “Falta alguém, falta alguém?” E lá vem quem estava faltando, varando sob o pampeiro . O rosto vermelho, parecendo um tomatão. A barba, os pelos do peito e da barriga avantajada, tudo afarinhado, algo como a sucursal de um pirex de farofa; um dedo de cortezano, diluído num mundo de água da chuva, num copo de alumínio com os dizeres “ao querido papai”. “vumbora, homem, te avia, que o ônibus tá saindo”.
Ao grupo, juntam-se uns caronas, “até ali, na curva da castanheira”. Vão em pé. Os rapazinhos aninham-se no colo das vizinhas bronzeadas, que esquecerão deles tão logo cheguem nesta dita curva da castanheira. Os mais espaçosos se esticam nos bancos, desalojando companheiros de viagem, que têm que se atar pelo corredor (“depois a gente troca”). O organizador dá um ‘suspiro de alívio’, o motorista dá a partida deixando para trás os chuviscos cintilantes sobre a maravilhosa Salinas. Os meninos, incansáveis, digladiam-se pelo direito de sentar-se na cadeirinha do cobrador. E simbora pra casa. Antes de chegar em Belém, uma paradinha no Apeú, pra tirar o sal.


Nenhum comentário:

Postar um comentário