segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A Marcha

“Quanto frio nós sentimos subjugadas à imponderável solidão em ermos descampados intermináveis, sujeitos a poeira e pó, 
mas conseguimos, enfim, respirar aliviadas ao fim de cada caminhada. 
Quanta dor nos consumiu as energias quando, por insuportáveis torturas, sucumbimos à força brutal da repressão impiedosa, 
porém, como a Fênix rediviva, desafiamos as trevas e, 
como resposta aos ataques, alçamos subversivos e desafiadores vôos rumo ao infinito.”


sábado, 27 de agosto de 2011

crônica da semana - amar e ...


Amar e outros medos (parte II)
Tenho medo que me pelo de cachorro. É psicológico. Problema do inconsciente. Não do meu. Do deles. Não podem me ver que querem tirar uma casquinha. E tanto faz os gitinhos ou os ‘rotvaileres’. Todos miram o meu calcanhar. Não tenho nada a ver com isso. Não tenho nada contra os cachorros, eles é que arengam comigo.
Há dias, porém, que a caravana passa, mas os cães não ladram. Domingo desses, houve d’eu tomar conta de uma cachorrinha. Nunca na história deste país isso havia acontecido. Minha amiga precisou entrar num supermercado e eu fiquei com a bichinha no colo. Não tive medo de uma mordida. Contrariando Newton, a reação seria infinitamente maior do que a ação porque a belezinha era deste tamaninho, coisa de palmo e meio! Tão pequenina que penso chamar aquele serzinho liliputeano de cachorra, seja até uma ofensa.
Para aquele mimo, mais caberia a designação de chaveirinho, brinde, suvenir, sei lá. Menos cachorra. Cachorrinha, cadelinha, mimi, bebê, tico-tico, cuticuticozinha-da-titia-e-de-todo-mundo-que-passa-e-fica-encantado, talvez. É de uma raça de cães considerada a de menor envergadura, pela federação Cinológica Internacional. O look dela inspira carinho e dengo. Sabe o Floquinho do Cebolinha? É bem parecida com ele. Não fossem os olhos pidões saltados, poderia muito bem ser confundida com um chumaço de algodão doce no meu colo. Daquela variação emplumada de Pincher, terna e graciosa, não há nem como ter medo.
Agora, tenho pavor daquele momento ali pelo final dos telejornais, quando um cantor é convidado para fechar a edição. Fico tenso. Me inquieto horrores com aquelas perguntas reincidentes e sem fim. E o pequeno lá, com o violão em riste pronto pra mandar o som. Quando enfim o cantor é acionado, ele também não ajuda. Faz é aumentar o temor. Desanda em malabarismos harmônicos e prolonga meu sofrimento. Outro dia, a coisa foi trágica (ou risível, sei lá). O pequeno debruçou-se sobre o violão e pôs-se a dedilhar. Dissonante pra cá, dissonante pra lá. Batidas alternadas, refinadas. Floreios e revolteios. Aí, quando fez menção pra cantar, pluft. Subiu o letreiro, cortaram o som e terminou o jornal. Pô, pirei com aquilo. Quase tive uma síncope.
Falando nisso, um medo que me perseguiu por esses dias foi o alheamento do meu violão. Entrava, saía de casa e o bichinho ali na parede com aquele ar imaculado, virginal.
Não sou bom tocador. Arranho uns quadrados e encarreiro uns nananãs porque não consigo decorar as letras das músicas. Mas meu violão é um companheiraço. Me avia em tudo em quanto. Na tristeza, na alegria, na pobreza (sempre pelo comum) e na riqueza (experiência ainda não vivida). Não tem nem por que ele ficar largado ali no canto da sala. Fiquei numa agonia. Numa apreensão. Num pé e noutro tentando entender aquele fastio. “Será que não vou mais dar trela pro meu violão, meu pai?” Me perguntava a cada trânsito indiferente e frígido pelo corredor.
Até q ue um dia, cheguei do trabalho e sem trocar a roupa, nem tomar banho, nem mesmo arrumar lugar para me ajeitar (sabe aquela situação de tesão incontrolável, tipo escada de prédio, elevador, pois é), resgatei da parede insensível, o meu companheiro. Fiz um Sol simplesinho e engatei em “Dodói” (que é uma música que dou maior ponto), do Juraíldes da Cruz. Toquei, toquei, toquei. De todo jeito e maneira. Depois sem patrulhamento ou pudor aceitei um link antigo do João Mineiro e Marciano: “é minha cara/mudei, minha cara/mas por dentro/ eu não mudo”. Fiquei um tempão ali com meu violão. E descobri que nosso amor ainda é tudo. Tudo.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

coisas que a laila faz


Não vou te abandonar.
Vou sair. Vou pensar. Vou mergulhar em mim.
E se eu demorar, não me procure, não me esqueça. Não olhe pra trás, não enlouqueça.
Caminhe em frente. Trilhe a vida. Prossiga sem dor.

É que eu te amo baixinho, quieta, longe do teu amor. Do teu sexo viciante. Dessa tua voz, tua barba... Minha droga!

Não hei de sanar-te de mim. Tua língua conhece meus melhores caminhos, minhas entradas e saídas alcançando meu prazer supremo. Tua saliva banha meu corpo em fiéis cuidados (assim) como a mãe protegendo a cria. Acalentas minha alma, me deixas em constante ereção. Teu sorriso enobrece meu semblante. Teus dentes me fazem querer ser a carne entre caninos teus. Faz-me fundir céu e inferno em nossos densos momentos atracados, nus sem pecados... Sou o bem e o mal.
Teu pênis como em uma faca afiada preenche meu interior, me santifica, me enlouquece, me traduz, me faz bicho. E me deixa sangrar aos poucos...
Esqueces meu valor.

É que hoje, eu cansei! 
Não te quero no escuro. Te quero pra vida inteira. 
Esse é o meu pedido!

E se, não fores o eterno sem marcas, haverás de ser minha cicatriz.
Laila Costa
                                                                                    

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Carimbó na Pedreira


o grupo Sancari elaborou uma rica programação para homenagear o Dia do Folclore e o Dia do Carimbó.
Faz parte do projeto " Pau e corda do carimbó" e vai de sexta até domingo
em diversos horários.
Tem cinema, tem brincadeiras legais e convidados aquilatados, tem consciência ambiental e rodas de carimbó.
Bori lá? Eu vou
É na Álvaro Adolfo, logo na entrada da Pedreira

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Geologia e poesia

O velho Cambará se reclina
E acumplicia com o granito
Seu geológico exílio.

Dura e cruel punição divina

Que humano amor teriam amado,
Que desvairado sonho teriam sonhado,
Que invejas aos céus provocado,
P’ra merecer tão triste sina.
                                                                    (Geól. Álvaro Santos)

sábado, 20 de agosto de 2011

Notícias de Patty

Nissei paraense que entende de malte e açaí e cuida para que o meu sábado seja inspirado

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

crônica da semana - esses pequenos...

Esses pequenos...A tia!
A tia, depois do caso passado, do repasto festivo e da confraternização, olha com aquele semblante que é um misto de incredulidade, inocente saciedade, ironia e surpresa sem sal, e dispara mirando uma hastezinha de brócolis na quina azeitada da travessa: “quer dizer que tinha bacalhau aí, nessa salada, é?”...
Tudo começou quando o professor inventou de fazer uma enquete, na sala da minha filha para saber qual presente as crianças iriam dar para os pais. Amaranta Maria foi logo se adiantando: “meu pai falou que só quer o carinho dos filhos dele e um copo de acrílico amarelo que ele viu lá no comércio, pra tomar uísque”.
Verdade. Sobre o bem-querer dos meus meninos, não tem nem tentém, nem venvém. Nem palavreado vasto para reivindicá-lo ou abecedário complexo para descrevê-lo. Basta o “A” de amor mesmo. Nosso chamego é o que me vale. Nossa paixão é que me dá sustância e ânimo para as pelejas da vida. São, meus pequenos, minha glória diária e meu enlevo sem medida.
Agora, quanto ao copo de acrílico, foi um eufemismo. Quis dizer que bastaria para a minha felicidade, um presente simplesinho. Um mimo afetivo harmonioso ou um proveitoso treco funcional (que poderia até ser um copo de uísque amarelo-citrino porque é minha cor preferida e também porque aqui em casa só tem unzinho no jeito pra tomar uísque e quando chega uma visita para um papo filosófico, eu me vejo aperreado tendo que servir um importado and rocks chiquerérrimo que ganhei de presente de uma amiga nissei não menos refinada, numa xícara de louça barata que tem um girassol estampado. Credo, que pecado! E como me sinto à vontade para discutir Sociologia somente tomando um uisquinho, vai assim mesmo. Para dar um desconto, tenho o desplante de florear a gafe com a valência herege de dizer que aquela xícara tem o toque amaneirado de um Van Gogh. O papo flui. A gente avança nas questões da Geologia. Mas, sei lá. A gente não malda, mas sabe, né, acho que sempre rola o desconcerto e a maledicência sobre os parcos haveres da gente).
Tá certo que o pai aqui é avesso a esses surtos consumistas, mas radicalizar, também não vale. Nem o copo de acrílico rolou. É bem verdade que ganhei um ‘mimo afetivo harmonioso’ que vou guardar para o resto da vida, como anunciou Amaranta Maria (e que me emociona tanto a cada vez que olho pr’ele quem nem vou dizer aqui o que é, pois um isntantinho a me demorar apreciando o meu presentinho, é a conta para o coração se desmanchar num chororô de felicidade. Aí não acabo esta crônica).
Um quê de materialismo na vida de vez em quando cai bem. A minha versão austera, largada, tá meio démodé. Tava a fim de me permitir umas extravaganciazinhas como almoço nas docas, uns belengodengos pra minha casa; quem sabe, um tênis Bamba, para as minhas caminhadas. Como diria o grande Rubem Braga, essa garotada leva as coisas muito a sério.
Quem ousou um tiquinho assim em gestos e intenções, foi minha mulher Edna. Articulou um almoço-do-papai daqui, ó, com a iguaria que eu mais gosto: bacalhau (pero no mucho. Não sou de selecionar comida. Traço qualquer coisa. Já passei à farofa de manteiga e a macarrão com picadinho, mas um bacalhau tem o seu valor). Só que... Pobre é ralado. Não pode se entusiasmar. É só ver a missão que se afoba logo e descamba para a pirangagem. Se tiver duas qualidades de bacalhau no supermercado, a gente vai logo no mais barato. E esta opção é decisiva para o epílogo do almoço...
Compramos umas cervejas e convidamos tia Lea pra almoçar com a gente. E foi então, depois de traçar a salada, que ela fitou o talinho de brócolis e disparou pensativa: “quer dizer que...”


o melhor presente do mundo


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A arte do Lirico Fernando Perdigão

Lirico não é só um lírico paroxítona. É Fernando.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

"Uau, que cores!" - a galera da Geo

Poderia ser um comercial da Faber-Castell  ("vai voando/'colorindo' a imensa curva norte e sul")

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

crônica da semana - follhas


Folhas
Hoje, remexendo as minhas coisas, achei uma agenda antiga. Do século passado. Do tempo em que as minhas agendas ainda eram temáticas e engajadas (mas, assim como hoje, serviam mais como porta-bagulho do que como depositárias de registros imprescindíveis ou programas inadiáveis). Sabendo que aquela encadernação de capa dura desviava da função a que era destinada, dei a folhear as páginas garimpando surpresas. Foi tiro e queda. Organizadas nos vincos das páginas centrais, encontrei uma sequência de folhas bem estioladas. Desclorofiladas. Todas muito mofinas, desmilinguidas, já apresentando bainhas pulverizadas e limbos transparentes. Eram folhas de seringueira.
Ao contrário de entender o estado daquelas folhas como indicador da decadência e do desânimo, como era de se prever, preferi compreender aquelas partes carcomidas da Hevea brasiliensis  como sinais de amores outrora vividos e de jeito e maneira, extintos. Admiti aqueles testemunhos de vida, como energias preservadas. Ricas heranças acreanas. Carinho latente. Desejo e saudade. Lembranças debilmente sólidas, mas solidamente fiéis de meu papai.
E sabe, pensando neste sentido mesmo, projetando a instituição de um símbolo, deduzo hoje, foi que coletei as folhas, numa viagem que fiz ao Acre, em 1992 em busca das histórias daquele seringueiro desconhecido e amado.
Não havia mais pai. Mas quem disse que nossos ídolos morrem?
Encontrei-o num jazigo modesto ao pegado do túmulo do Chico Mendes. Ao largo, um declive com plantas rasteiras e num nível mais abaixo ainda, umas poucas mais grandinhas, mais verdes e viçosas. Alguém me chamou a atenção para uma pequena árvore se destacando entre as ramagens. Era uma seringueira adolescente, fazendo sombra aos heróis da floresta.
Procurei algum lugar pra sentar, desfolhei um raminho da seringueira mirim e joguei sobre a laje um punhado de folhas sadias. Era como se estivéssemos nos apresentando um ao outro (depois de tanto tempo apartados pela incompreensão, pelo desconsolo e pelo silêncio distante), eu e meu pai. Era como se as folhas de seringueira nos unissem pelo verde e pela força.
Dali pra frente, desandei a falar. Tudo. Desde aquele dia em que deixamos o Xapuri, embarcados num batelão de linha.
Contei do tropeço que levou a minha irmã para as profundezas escuras do rio Acre e do milagre que a trouxe de volta assustada, chorosa, mas viva para o colo da mamãe; Do espetáculo impressionante que as luzes de potentes porongas proporcionavam, multiplicando-se pelos barrancos da cidade grande de Rio Branco; Dos três anos de viagem a bordo do Domingos Assmar, baixando o Amazonas; Do banzeiro que nos apavorou e nos pôs a chorar baixinho agarrados à barra da saia da doce Luzia, quando despontamos à jusante de Breves, já a poucas horas de Belém; Descrevi o alívio que a paz do furo do Arrozal nos trouxe, a emoção de ver o Mercado de Ferro de longe, as incertezas do desembarque nas Docas do Pará, a primeira viagem num carro de passeio modelo Aero Willys e elogiei aquele pedacinho de céu que nos abrigou em Belém conhecido como bairro da Pedreira.
Completei a minha catarse revelando como havia conseguido regressar ao Acre depois de tantos anos (luta, papai. Muita luta). Confessei minha saudade e minha tristeza por ele ter partido tão cedo.
Mas quem disse que pais morrem?
Recolhi as folhas espalhadas sobre o peito silente de meu pai, as acondicionei entre as páginas centrais da agenda temática e deixei o Acre orgulhoso de meu adorável seringueiro. Sabia que, num dia como hoje, nos reencontraríamos de novo.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Crônica remix - hoje é o seu dia


Hoje é o seu dia, hoje ele não sai
Há algum tempo, não faz muito tempo não, de vez em vez, para alentar meu ego, para mitigar anárquicas frustrações, ou mesmo para golpear as circunstantes conformações estéticas eu perguntava para a minha filha, ainda bebê: “filhinha, quem é mais bonito, o Gianechini, o Eric Marmo ou o papai? E ela, convicta, decidida, íntegra na resposta. Assegurando fidelidade e cumplicidade, disparava cheia de dengos: “o paaapaaaai”.
Filhos, filhos... Por isso tê-los!
Minha filha cresceu, não vi mais o Eric Marmo em papel de ponta e não me sinto nem um pouquinho seguro para novas sabatinas de beleza com ela hoje em dia. Ainda mais agora que a menina quedou-se para os lados da vaidade infanto-juvenil. Vive de par com brilhos altivos e arrogantes perfumes. Deus me livre e guarde, não faço mais aquelas disputas de boniteza com ela não. Tenho medo da resposta.
Com o tempo, a natureza se encarrega de dotar nossos pequenos de necessária racionalidade. E o papai tem que atentar para o tilintar da ficha, reorientar o discurso e redimensionar a conduta...
No início do ano passado, em meio à correria do dia-a-dia, às atribulações rotineiras, peguei uma lição das grandes do meu menino. Ele queria que eu fosse vê-lo nas competições da escola. Depois de checados horários, verifiquei que seria impossível acompanhá-lo. Ele se abateu um pouco, mas depois, se virou para mim imperioso e lembrou-me com (severa) docilidade que o pai tem que priorizar os filhos. Pô, descadeirei. Mas não foi dessa vez. Não descartei meus compromissos. Só que fiquei com aquilo martelando, sabe... “O pai tem que priorizar os filhos...”.
Perdi meu pai cedo (mas apesar da separação precoce, a imagem que tenho de meu pai hoje é de um homem bem mais bonito do que o Gianechini, o Tom Cruise, o Brad Pit e o Eric Marmo tudo junto. Para mim a racionalidade está aquém da liberdade de criar, de desejar, de intuir. Acho que em se tratando de pai, a razão nem me triscou).
Sei o quanto sofri sem ter um pai do lado. Depois daquela frase, refleti e cheguei à conclusão de que não poderia reproduzir nos meus meninos essa mesma inquietação que senti (e que sinto até hoje) pela ausência de pai. Acho que foi isso que Argel quis dizer com a frase ou o que a Amaranta quis demonstrar, quando bebê. A intenção deles foi me dar uns toques, me avisar que havia a hora da fantasia, quando eu era eleito o mais belo dentre as beldades, mas que a vida nos é entregue na mais nítida realidade. E a presença do pai na arquibancada, torcendo pelo time da sala é a realidade e ao mesmo tempo sonho deles.
Não que isso signifique dependência, intimidação ou egoísmo besta. Não. É mais um chamado para nos conhecermos melhor. Um alô necessário.
Amanhã, no dia dos pais, não quero nada, a não ser o amor, o perdão (quando falto lá na arquibancada), o carinho e a compreensão de meus meninos. Sei, porém, que Amaranta vem juntando uma graninha para comprar um presente pra mim (já se acha livre para comandar meus gostos). Falei que não preciso de nada e que nós não vamos nos bandear para estes apelos consumistas do mês de agosto, e pelo que sei sobre o montante arrecadado até agora (coisa de 3 Reais e uns caroços), acho que meu desejo será atendido.
O que eu queria mesmo era ser reconhecido como um pai que de uns tempos pra cá se esforça para entender melhor a sua importância e o seu papel na arquibancada da vida (e se fosse possível, queria também que me dedicassem, num programa qualquer de rádio, aquela canção: “hoje é o seu dia, hoje ele não sai, laraiaraiá...laraiá...papai”).

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Crônica remix - a classe operária vai...

Ao paraíso (a classe operária vai, vai, vai...)
Eu sempre fui comunista. Sempre tive barba, sempre usei embornal verde-líquen-meio-enferrujado cheio de exemplares velhos de jornais clandestinos; sempre quis ir pra ilha de Cuba e sempre gostei de um uisquinho and rock. Não li Marx no original em alemão e nem em português. Aliás, não li Marx. Fora a cartilhinha mimeografada que guardo comigo desde os tempos das reuniões clandestinas na Escola Técnica, pouca coisa sei sobre O Capital.
Há alguns anos, porém, desisti da revolução e resolvi me render ao capitalismo globalizado. Entrei para o mercado de capitais, comprei aí umas açõezinhas de uma poderosa empresa nacional, coisa pouca, só para começar...
Olha só no que deu!
O pobre é ralado mesmo, na hora em que resolve ser capitalista a crise vem e acaba com a festa.
Éraste, jamais pensei que, logo na minha vez, o capitalismo fosse mostrar as suas fragilidades. Que logo agora quando eu estava me animando com os saltitos tentadores da bolsa a tal crise do capitalismo (desde antes anunciada pelos comunistas) iria explodir.
Caramba, Parece uma coisa! É a tal pissica da velha chica que me persegue, inda mais agora que eu estava sonhando em ser um magnata do insensível e frio mundo da grana. Já estava me sentindo um operário luxento todo prosa-cor- de- rosa chegando ao paraíso.
Mas quando! Tô na pira. Nem consulta ao banco, faço mais. Toda vez que vou lá me deparo com um cenário cada vez mais assombroso. Vôte, fico à beira de um chiliquito.
A culpa é dos americanos. É o que eu digo sempre, eles só querem ser o que a folhinha do ano não marca. Fazem as deles, dão calote, e parecem aquela madame dos meus tempos de empacotador de supermercado, que aparecia na loja toda emperiquitada, nariz empinado, farta maquilagem, cheia de jóias... Mas quite, tudo michelin das boas, peças facilmente encontradas nas bancas da Santo Antônio ou nas boas lojas do ramo. Só pose. Os americanos mostraram que atrás daquela arrogância residia (aliás, nem residem mais, foram despejados) uma imensa e inflexível bolha imobiliária apta para empastelar a economia mundial (não tô falando, a crise é coisa de americano mesmo: estampido ufanista, indiscreto, grandioso. Não bastaria que arrebentassem a si. Haveriam de levar, ora veja, a mim também, ladeira abaixo com meus reaizinhos cada vez mais raquíticos. Ah, esses americanos!).
Para amenizar o sofrimento resolvi dar uma injeção de esperança nas minhas aplicações, e, um dia desses de maus presságios para mercado, me peguei com a poesia otimista dos anos 70 admitindo que “o que importa é não estar vencido”.
Doce Ilusão. A vida, num momento delicado como este, caprichosamente, não imita a arte e no outro dia as bolsas sofreram uma das maiores quedas da história e veio gente de tudo quanto é tamanho na enxurrada. Americanos, japoneses, britânicos, alemães, até a Finlândia, olha só, que era um país que eu pensei que só existisse no National Geografic veio no meio da quebradeira com um superdotado IDH e tudo. Na fila, na fila.
No dia do Círio, fiz discretamente, um pedido para a santa pr’ela dar uma ajudazinha lá em Wall Street (os americanos estão me devendo essa).  Fiz o pedido assim, como quem não quer e querendo, sabe, porque acho que a santa não gosta dessas coisas, desses despudores com grana, desses clamores pelo mercado de capital, acho que não, afinal os membros das primeiras comunidades cristãs dividiam tudo, viviam irmanados, valorizavam a igualdade, a fraternidade...
Sabe, pensando bem, acho que vou procurar minha cartilhinha de comunista e rever algumas lições.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

crônica da semana - aquém do horizonte



Às vezes acho mesmo que comi manga com febre. Me bato com cada coisa. Reles haveres, fazeres Permeáveis, ocupações fugazes. Sofro por isso. Perco sono. Quedo-me enfastiado e ausente. Quando implico com uma coisa, não tem quem me faça desvanecer. Fuço, me emboleto nas pistas, nos sinais, até conseguir um resultado. E é tão grave a minha cisma que por vezes, fico meio pateta. Olha que as vistas ardem às pampas agora, enquanto escrevo esta crônica porque fui comprar o colírio do uso, dia desses e, simplesmente, por dispersar o pensamento, no caminho para a farmácia, mirando a constelação do Cruzeiro do Sul, esqueci o nome do remédio. Pois foi: na ocasião, esqueci, inclusive, o que fui fazer na farmácia, tanto que estava mundeado com a nitidez da cruz no céu. Cheguei lá, olhei uma coisa, outra, apreciei um programa na TV de plasma no alto do balcão, borrifei um desodorante barato no antebraço e achei bom, folheei um encarte que lembrou o Almanaque Fontoura, mas tava anuviado, sem um quê pra dizer. A vendedora quis me ajudar. Perguntou o que me apetecia. Eu, sem saber a minha precisão, pensei em algum comprimido, algum remedinho comum que começasse com a letra A. Ela, respondendo a instintos, me aviou um Anador. Eu me dei por satisfeito e agora me questiono sobre a serventia daquele envelopinho ali, intocado, no canto do rack. Meus olhos ardem de marré e desde aquele dia o remédio tomou doril da minha memória (sei que começa com A. Alguém de vós, leitores, conheceis um colírio que comece com a letra A? Acudam-me e me voltem, se souberem). Este embaraço todo, de dordolho sem cuidado, tem, porém, uma razão justa de estar. É que uma das minhas tenras curiosidades do momento consiste exatamente na evolução do Cruzeiro do Sul. É uma constelação espetacular. Tem um movimento fashion. Só seu. As constelações do zodíaco fazem um percurso tradicional: nascem no Leste e se põem no Oeste. O Cruzeiro do Sul, não. Está numa posição tal, com relação à terra que se pode dizer que flutua sobre nossas cabeças. Bem em cima do nosso cocuruto. Não acompanha o traçado da abóbada celeste. Gira como o ponteiro de um relógio (Ah, houve, em algum momento, na história da civilização, uma coisa chamada relógio com ponteiro). E nem é esta a comparação mais perfeita. Pera lá: sabe aqueles moleques que no São João amarravam a palha de aço acesa no barbante, rodavam em torno de sua cabeças (valendo-se da força centrífuga) e provocavam um círculo de fogo. É mais ou menos assim. A cruz do Cruzeiro traça um círculo no céu. Pode reparar. No início da noite, a cruz está em pé’zinha, brilhando aqui do nosso lado direito. Com o passar das horas, ela vai deitando, deitando...Até tocar no horizonte. E se a gente conseguisse discernir alguma coisa nessa atmosfera extensa e densa, veríamos no meio da madrugada, a cruz de cabeça pra baixo, já do nosso lado esquerdo (para saber quem é lado direito ou esquerdo, basta ter como referência uma árvore, uma casa, ou outro elemento da paisagem. Eu uso uma estrela bem brilhante ali de perto, pra isso). E depois, ela, a cruz, voltar subindo, se ajeitando, deitando de novo, no ponto mais alto do círculo imaginário, até tornar em pé’zinha para o lado direito outra vez (não vemos a cruz de cabeça pra baixo, também, porque quase a totalidade deste movimento ‘canhoto’ muito doido acontece durante o dia, e com o encadeamento do sol, não tem combate, né). Este movimento, que se realiza dia após dia, é que, por ora, me entontece.
Ah, ia falar alguma coisa sobre o horizonte, n’era? Mas, tá vendo só, esqueci.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Poema paleontológico do Válber para "A areia..."




microfósseis...
foraminíferos 
(planoespiral)
porífera 
(desmospongia: mono e triaxônico)
nautiliodes pequenos etc.
(vidas extintas) importantíssimas!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Topázio Imperial

 Meu precioso
Já tive um desses, assim, na palma da mão                            
trouxe de Minas
Presente do meu amigo Adão Jorge, o Bode
Mas um amigo chegou à minha casa
certo dia
trouxe namorada e cachorro
e eu não disse nada
Apossou-se do meu quarto e da minha redinha
e eu não disse nada
Bebeu do meu vinho
e do meu uisquinho importado
e eu não disse nada
Pôs disco na vitrola
olhou a lua com minha luneta
E meu coração solidário me dizia que eu
só fazia o bem
Antes de ir embora
abriu minha gaveta
pegou meu precioso
e sumiu
e eu não disse nada
só chorei