quinta-feira, 30 de junho de 2011

Aluá, mungunzá e a bença de São Marçá

Por onde andará o aluá? Tenho me batido por estes terreiros, atrás de um bom vinho e não tenho encontrado. O aluá, que aqui entre nós é uma bebida feita com a casca do abacaxi, já fez e aconteceu na quadra junina. Tinha presença certa no arraiá, junto com o mingau de milho, com o bolo de macaxeira e a canjica.
Era respeitado. Em alguns casos, na falta da geladeira (noutros tempos não era qualquer pessoa que tinha a sua Gelomatic), havia o cuidado de acondicionar o suco em potes de barro ou bilhas, para conservá-lo geladinho. Ficava que era uma maravilha.
Hoje em dia, anda meio démodé, o aluá. Nem citado é nos roteiros culinários da ocasião.
Um exemplo disso é que num programa de TV, dei com uma especialista recomendando as comidas típicas de junho e integrando, surpreendentemente, ao nosso cardápio, o despropositado quentão. Ora quentão!
Eu sempre ouvi falar de quentão. Mas aqui em Belém, já com alguns anarriês no costado, já tendo saltado alguns formigueiros e me escabriado umas quantas vezes da chuva de mentira e da chuva de verdade, não lembro de ter tomado um tiquinho sequer desta bebida. Por isso, duvido que a tal recomendação tenha sido de vera (acho que essas referências controversas são ainda, heranças daqueles livros de Integração Social, que desconsideravam os considerandos regionais: integravam por demais). Se fosse o aluá, ainda vá, mas quentão! Aqui em Belém, quentão, só se for bem gelado, advertiu o meu compadre Edir Gaya, quando veio tomar um mungunzá aqui em casa, no aniversário da afilhada Amaranta Maria.
O quentão, o nome já tá dizendo: é uma bebida quente. E não é quentinha não. É uma cachaça aquecida a altas temperaturas e apurada com alguns temperos como o gengibre por exemplo. Tomei quentão, uma vez, num arraial tradicional em Rondônia, e me fiz de macho, porque o bicho é forte. Na primeira golada as lágrimas desceram dos’óio. Mas tive motivo para a audácia: por esta época do ano, a temperatura em Porto Velho beira os 15 graus. Então, com toda derrota, aquele caldo apimentado caía até bem para dar um calor à alma. Aqui em Belém se o camarada for tomar quentão, depois de marcar uma parte de forró com a cabrocha, ele estopora. Solta fumaça pelos ouvidos e fica só o endereço. Só a casqueta.
E por falar em casqueta, a gente já está na batida da campa das festas joaninas. O final de semana ainda nos traz boas e elegantes exibições de quadrilhas, pássaros, bois (domingo a terra vai tremer com a despedida do Pavulagem), mas os folguedos já se despedem. A cultura brasileira, no geral, e a paraense, em particular, ascendem aos píncaros com as manifestações folclóricas que se realizam em junho. As tradicionais homenagens aos santos, as simpatias, as danças, as relações de compadrio firmadas à luz da fogueira, consagram e certificam a ‘cultura popular’ verdadeiramente como cultura e inegavelmente como popular (tenho só alguns poréns quanto a incorporação de certos ritmos e aos movimentos contínuos e excitados que os cavalheiros fazem nos passos da ‘quadrilha moderna’, mas nada que fira o zelo e a simetria das prodigiosas coreografias. Não é por nada, não, é porque eu sou da antiga mesmo, do tempo do balancê nos seus devidos lugares).
Agora, tirando da grande roda, a incompatibilidade entre as propriedades do quentão e as do antigo aluá, passamos um aperreio danado no último dia 30, para acender uma fogueira. É que tá difícil achar paneiro hoje em dia, na cidade, e queimar saquinho plástico não tem combina, além do que, São Marçá é bem capaz de ralhá.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Mas é claro que o sol vai voltar...

No dia 21 de junho, o sol se pôs ali por detrás do hospital São José. Mas ele vai voltar, sim, pra perto d'eu.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Crônica remix


Nascido em 4 de junho
Naquele silencioso dia de junho, o meu amigo Sérgio Kleinfelder Rodriguez que, penso eu, com um sobrenome desses só pode ser descendente injustiçado de um poderoso e malvadão conde da média Catalúnia, largou-se sereno sobre o sofá.
A manhã estava molhada de chuva fina. Os morros lá pros lados da vila operária transpiravam alvas fumacinhas surdas, a quietude e o torpor do dia nos traziam fortes e indefensáveis lembranças.
Éramos muito jovens. Paulo Sérgio, Carneirinho, Fernando (lirico) Perdigão, Bolão e a família Bolota, Rosinha...Rosinha, índia insurreta, de ofuscante sorriso...Rosinha.
Estávamos engatinhando na vida. Desterrados. Ausentes e solitários naquele início friorento de junho.
Sérgio Kleinfelder aquietou-se no sofá e, divisando um ponto distante, inalcançável, sem sons ou imagens, quedou-se às lágrimas.
O dia 4 de junho era exatamente o dia do aniversário dele. E ali, perdido nas reentrâncias da selva rondoniense o nosso inquebrantável catalão não suportou a distância da família. Entregou-se ao sofrimento e à tristeza.
Saudades...Saudades.
E como dói! A saudade, já se sabe, “mata a gente”, no início refrigerado de junho.
Ô diazinho para se sentir saudade é quando o frio desce.
O clima ajuda. Pode reparar: há, realmente um certa inércia, uma íntima letargia quando o frio desce.
Em Rondônia, como em todo o extremo ocidental da Amazônia, faz frio. As baixas temperaturas começam pelo mês de maio e se estendem até agosto. Os dias de frio são salteados. Não são ininterruptos, não. São entremeados por períodos de intenso calor. E são mais graves quando as temperaturas no sul caem consideravelmente. Eu diria que Rondônia pega as raspas de inverno do Brasil meridional. É um ventinho gelado que desvia do planalto central, se infiltra pela planície pantaneira e atinge as baixas latitudes pelas calhas dobradas dos rios Madeira e Guaporé. (Lembro de um dia especial, o 24 de maio, dia de Nossa Senhora Auxiliadora. É feriado em Rondônia e nos tempos que passei por lá, era batata: a temperatura ia lá pra baixo neste dia, coisa de 8, 10 graus. Ah, eu me empacotava todo, e como era feriado, não saía de casa nem a ‘bufete’).
O friozinho, porém, tem caminho limitado. Não chega até aqui no Pará (o que é uma pena). Aliás, não desce o vale do Madeira além de Humaitá. A friagem seca se dissipa por ali em meio à grandiosidade úmida da floresta.
Este larilari meteorológico talvez explique as baixas temperaturas que ocorrem nesta época do ano em Rondônia. Mas não explica o calor latente, o rumor fremente, o grito reprimido que brandia no coração daqueles garotos, no dia 4 de junho.
Todos nós éramos muito jovens. Paulo Sérgio, Carneirinho, Fernando (lirico) Perdigão, Bolão e a família Bolota, Rosinha... Índia insurreta, de ofuscante sorriso...Rosinha, índia arredia, indomável discípula do Marechal Cândido Mariano. Índia que não se entrega, que não se adestra e que fugiu de mim para a mata amiga. Floríndia: Rosinha.
Éramos muito jovens, solitários e ausentes naquele início de junho geladinho lá pelos ermos ocidentais do Brasil. Carentes de um mimo, um agrado, um afago, ‘uma qualquer coisa cândida’ a nos rodear, um brinquedinho desejado para encher de alegria o coração do aniversariante. Mesmo assim, acreditávamos no amor e num futuro feliz.
Ledo engano alimentado pelo frio rondoniense. Vinte e seis anos depois, o solão de meio de ano me bate à porta, nos arredores abafados de Belém do Pará, para me lembrar que felicidade (como aquela desejada em 4 de junho) é brinquedo que não tem.

sábado, 25 de junho de 2011

o dia mais radiante, o sol mais brilhante, flores perfumadas, pássaros em sinfonia: é o aniversário de Amarata Maria. Parabéns, minha filha.



Amaranta no ninho




relax


geniosa

Amaranta quando chora é bonita, é bonita  e é bonita

olhos dos sodreres

A primeira conquista

Amaranta Maria lê
carrapatinho

Uma mocinha, a minha bebê. Uma bela mocinha

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Crônica da semana

Curuminha
Que me faltem as palavras. Que elas se pulverizem em conotações, em semânticas; que se diluam em partes do discurso e me leguem apenas o verbo amar. É o que me basta para que as nossas verdades se realizem.
Mesmo porque minha filha não gosta de muita prosa. Desconfia da fluência verbal e do pieguismo retórico. A enrolação não lhe apraz. É do tipo que metaboliza velozmente as intenções. A ela, meia palavra basta. O resto se cumpre pela sensibilidade, pelo tato, pelo brilho nos olhos, pelos gestos e expressões. Aprendi isso. Minha curuminha é exploradora de almas. E assim, temos nos entendido.
Respeito o jeito dela (e até gosto. Acho bacana essa personalidade reservada, exclusiva, que ela ostenta. Procura ser única. Não se influencia, não se entusiasma com discursos ou coquetes pragmáticos. Não se deixa levar pelo irmão, por exemplo, que vive me rasgando seda). Diz que me ama sem verbalizar flores, cores, fervores ou todas aquelas instituições cordiais que beiram a hipocrisia; e também, prefere que eu seja econômico quando quero dizer que a amo. Por isso, obedientemente, desenvolvi o meu mantra minimalista: Papai. Papai te ama, filha. Isso, para nós, diz tudo, porque ela sempre me responde com aquele ar imperioso e com o fulgor devastador daqueles olhos negros, concordando: “eu sei, eu sei”.
Mas se por um (conveniente) acordo tácito, a tagarelice devotada nos falta, grassa, entre nós, graças ao bom Pai, a cumplicidade, o apego. A intuição. Veladas confissões de amor nos equilibram os passos. Em momentos capitais, a nossa conivência permite que eu me sinta o Agamenon amado. Querido. Aquele que em algum momento da vida terá a lealdade e a tolerância da filha.
(Certa vez fizemos uma foto para o Jornal Amazônia. Era uma matéria especial que se referia a obra de Gabriel García Márquez. Por causa do nome de minha filha, fui convidado a integrar a reportagem. Na foto, Amaranta saiu agarradinha a mim, num abraço difícil de descolar, na mais perfeita ilustração do amor carrapatinho.
Em outra ocasião, ela ainda muito bebê, fez o mesmo. Foi no lançamento de uma coletânea de poesia que participei. Muita gente e badalação, naquele dia. A pequena se atracou no meu colo e não me largou um só instante. Palavra nenhuma para explicar aquele abraço compulsivo, pronunciou. Mas eu entendi).
Amaranta prima pela simbologia. Os sinais que ela elabora segredam um viés incontrolável da nossa relação: a menina tem uma liga com o pai. Não gosta de demonstrar. Não se exibe. Mas quando cisma, quando percebe concorrência ou se vê ameaçada; quando quer ser egoísta e presunçosa, ou simplesmente quando quer atenção e carinho, Amaranta Maria se apossa. Assim, como a mitológica Electra, queda-se zelosa e reparadora. Não divide o pai. Minha menina cuida e ama em silêncio, mas quando tem que lutar, posta-se agressiva à proa. E luta.
Para mim, ainda é a minha bebê (para os conceitos modernos, e principalmente, para uns moleques enxeridos, não). À revelia de minhas vontades, as primaveras deram a ‘fulorar’ inadvertidamente mandacarus lá nas secas distantes e sem que eu me desse conta, a menina enjoou da boneca e já pensa em namorar (oh, céus, o que faço?). Uma inquietação me desperta e eu, mais que depressa, ponho-me em guarda pronto para a luta...certo, porém, da natureza inglória desta batalha.
Que me faltem as palavras. Que elas se pulverizem em conotações, em semânticas; que se diluam em partes do discurso e me leguem apenas o verbo amar. É o que me basta para que as nossas verdades se realizem: Papai. Papai te ama, filha.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Amaranta Maria não sabe o que é hiato

Noite dessas, enquanto eu descarregava uma pissica da velha chica contra um participante do BBB, a minha filha, Amaranta Maria, que adormecera na redinha atada na penumbra do quarto, desandou a falar.
Falou dizeres incompreensíveis, desses que a gente fala dormindo mesmo, mas também, articulou perfeitamente frases pertinentes aos movimentos do seu dia: ralhou com o irmão, brincou com o gatinho, disse que ama o papaizinho, mandou fechar o portão...
Mas uma coisa, em meio ao fraseado, me tirou a atenção do sofrimento a que são submetidos os emparedados e me ligou a prosa inconsciente da minha menina. Ela disse: “eu não sei o que é hiato”.
É certo que faltaram só catorze anos para eu me formar de psicólogo, e que o livro que eu tinha sobre a interpretação dos sonhos, do Eduardo Mascarenhas, eu dei de presente para minha comadre Eliza Sena. Mas pelo que a gente ouve por aí, quando a gente fala dormindo, a gente revela os nossos conflitos reprimidos ou exageradamente vividos durante o dia (é por isso, por exemplo, que algumas pessoas, enquanto dormem, gritam ‘goooollll!’. Às vezes, porque foi e outras -olha lá a frustração- exatamente porque não foi gol).
No discurso noturno, as inquietações, as preocupações afloram. Segredos são revelados, indiscrições são cometidas, pecados são assumidos (cuidado, muito cuidado com a auto-trairagem do sono)...
Pelo sono turbulento de minha beibe, soube que ela estava tendo dificuldade no aprendizado da parte da Fonologia que trata dos encontros vocálicos.
No outro dia, já com a menina pronta para ir para a escola (é bem verdade que estimulada por sonoridades do tipo ‘vumboooora, Amaraaaanta! Já são sete hoooooras! Tu vais chegar atrasada, menina!), fui atrás. E ela confirmou . Disse que estava se havendo em Português por causa deste tal de hiato.
Ai, ai, ai, agora pegou, pensei ressentido. Minha filha não sabe o que é hiato.
Nem eu.
Na verdade, sei um pouco. Aquele tantinho na biqueira pra varar uma prova de Português com um cinquinho.
O hiato acontece quando uma semivogal, ‘i’ ou ‘u’, forma sílaba sozinha, ou seja, vira uma vogal. Como em sa-ú-de.
Ocorre também quando se separam as vogais idênticas como em Sa-a-ra. Confesso que esta parte eu não sabia. Para mim, hiato tinha a ver somente com os ís e us. Tendo o seu ‘i’ e o seu ‘u’, pra mim já era um hiato batido, jurado e sacramentado. E pronto. Mas que nada, a minha pesquisa aqui na Gramática do Ernani Terra já me vem com este negócio de ‘a’ dobrado, ‘o’ dobrado e complicaçõezinhas outras:
O termo ‘hiato’ assume, também, alguns valores conotativos. Um que me vem assim, de repente é o da temporalidade, na verdade, indica um intervalo de tempo. Diz-se, então “ele voltou à cidade, depois de um hiato de dez anos”. Tem, pois, um sentido de lacuna, de vaga, que cabe também nas construções de caráter espacial como: “só farei a pesquisa após um hiato de dez casas”.
Tá vendo, tem razão, a minha neguinha em preocupar-se. Se não cuidar, a gente corre o risco de compreender hiato como um termo que expressa breves interrupções, no lugar de dizer que é um encontro vocálico e aquela história toda de is, os, as e us.Compreendo o sono aperreado de minha pequena, mas não hio nem chio para amenizar o seu drama. Faço o meu papel de pai: ensino as coisinhas que sei e indico uma boa Gramática. Previno, porém, minha filhinha, que desde agora, na quarta série e ainda por um bom tempo, ela vai se pegar com as conspirações (ou inspirações, quem sabe?) da língua.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Curuminha


Amaranta Maria chegou assim, trazendo o charme estilístico da aliteração no nome. Para mim foi uma luz, uma prova da vida eterna, da reedição da esperança. A chegada de Amaranta representou pra mim a confirmação da “ânsia da vida por si mesma”. Minha filha nasceu com os olhos negros e graúdos dos Sodreres e herdou a boca avermelhada e bem desenhada da avó Luzia. Veio ao mundo para prover a minha alma de mais força feminina.

Ganhou o nome das páginas do romance do Gabriel García Márquez “Cem Anos de Solidão”. E é, verdadeiramente, uma menina ilustrada. Tem a elegância da fidalguia e o destempero descortinado da plebe. A tez escandinava inspira certa distância, mas ao mesmo tempo desperta encanto. Amaranta é amável, severa, sensível, implacável, doce e amara... Maravilhosa e sabiamente paradoxal.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O dia em que o sol para

Em junho vivemos um dos momentos mais fascinantes e importantes para a história da humanidade.  Estamos passando pelo solstício. É fascinante porque, para ser bem simplesinho, é o dia em que o sol para.
O solstício acontece duas vezes por ano. Uma agora em junho, quando ratifica o verão no hemisfério norte e outra, em dezembro quando o sol se bandeia pra cá, para o sul. Nas duas ocasiões, o evento proporciona o dia mais longo do ano em cada hemisfério.
Em termos de deslocamento o solstício significa o ponto de maior afastamento do sol em relação à linha do Equador, ou seja, no hemisfério norte, é quando o sol se impõe sobre o Trópico de Câncer, e no sul, ocorre quando o sol posta-se soberano sobre a linha imaginária do Trópico de Capricórnio. Se a gente for olhar no mapa- mundi (que eu acho que é um material didático que nem existe mais) vai entender porque se diz que é um momento em que o sol para. É que a partir deste ponto, o sol “interrompe” seu percurso de afastamento do Equador, “para” e a seguir volta a movimentar-se para o meio do mundo, novamente.
amanhã o sol está na maior distância ao norte da linha do Equador. É o dia mais longo do ano no hemisfério norte, é o início do inverno e  a noite mais longa do ano no hemisfério sul
O solstício, no norte inspirou algumas crenças e estimulou a curiosidade dos homens. O exemplo da reverência a este evento é a edificação dos círculos de pedra erguidos na Inglaterra, o enigmático monumento de “stonehenge”. 
o misterioso stonehenge. Tem um desses na parte norte do Amapá
Uma construção datada de pelo menos 3.000 anos e que além de ser cultuada pelos druidas (um misto de sacerdote e curandeiro dos bretões), guarda em seus contornos os conhecimentos astronômicos daquela época: a junção entre as duas pedras que limitam o círculo está alinhada exatamente ao ponto em que o sol nasce no dia mais longo do ano. As pedras indicam o solstício de verão.
Aqui no Brasil, também temos o nosso “stonehenge”. Fica em Calçoene (que já está no hemisfério norte), no Amapá. É um arranjo de pedras, também. Não sei se este nosso monumento já atrai peregrinos para celebrar o solstício, mas não acho uma má idéia. Uma dose de magia e mistério serve também para que a gente entenda melhor as afetações do planeta...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Crônica da semana

Estrelinhas tão cintilantes
Estive domingo no primeiro Arrastão junino do Arraial do Pavulagem.
Por conta de umas ‘questões paralelas’, fiquei um pouco distante do palco. Abriguei-me em uma nesga de sombra ao lado do anfiteatro, e de lá não arredei, já que o sol estava de rachar o cocuruto. Ali tem um relevo bacana. O terreno forma uma elevação que permite a gente ter a visão de pontos estratégicos da praça e, por isso, nos oferece obliquamente a belezura daquela estátua de mármore em que a figura de uma mulher representa a liberdade, e ao lado, as evoluções pávulas e acetinadas do batalhão. É como se, confortavelmente, houvéssemos a fritar o peixe e a olhar pro gato.
Esta característica do relevo aliada a minha sombrinha preciosa (ouro, prata e brilhante), me cativa. Não tem quem me tire dali...A não ser as ‘estrelinhas tão cintilantes’.  Fico por lá, quieto, até quando ouço os primeiros acordes da música “Iniciais BP”. (que eu prezo como o hino do grupo). Quando toca essa música, eu piro e vou lá pro meião arriscar uns passinhos consoantes com a coreografia.
Todo mundo pira, essa é que é a verdade. Esta música entra como uma apoteose. É o ápice. O esplendor. O sentimento que inspira é que ela entra no show para coroar o esforço de uma pá de gente que luta para colocar o folguedo do Pavulagem na rua. Penso que ela tem este quê de restauro, de sublimação, realiza-se como um prazer compensatório.
Para nosotros que nos animamos e nos inebriamos com a canção, ela entra para encher o coração de alegria (porque potencializa o valor da cultura popular, rejuvenesce a fé em coisas boas, revigora desejos e recompõe ânimos). A canção incendeia a multidão. Causa delírios e prazeres tórridos (o sol, né, no zênite, tinindo). No trinado de uma senhora duma guitarra bem tocada, ela se anuncia devastadora. A terra treme, as fitas flutuam ao vento, os corpos erguem-se no ar, as estrelas do dia cintilam. E a gente se entrega alucinado e feliz ao ritmo.
E eu tento traduzir isso com uma palavra. Fenômeno. O Pavulagem é um fenômeno.
Tá bom. Tô sendo parcial, tietando indecorosamente. É verdade que gosto dos meninos do Arraial. Admiro o conjunto da obra que se mostra no Arrastão. Mas há outros motivos para a rasgação de seda (porque agitação e êxtase também foram ingredientes do show do Iron Maiden, por outro lado, tem gente que se descontrola vendo os sertanejos Victor e Léo. Emoção, portanto, é sentimento comum nessas horas). Fico procurando outras origens para aquela sensação de felicidade que nos desperta na manhã seguinte ao domingo de festa (porque há um tanto de fármacos que estimulam a atividade dos neurotransmissores no cérebro e nos regulam o humor com eficácia. A felicidade é uma reação química). Pondero, ainda: não é só no Arraial que vemos um mundo de gente em ebulição.
O segredo do Arraial pra pegar a gente pelo pé (literalmente) permeia os campos da amizade (sempre proporciona grandes encontros), da longevidade (com 24 anos de existência, o Arraial já contabiliza boas histórias), da preservação cultural (a bênção dos santos joaninos protege, por certo, a festa). E o fundamental, o que para mim determina a empatia do grupo com o público: é a afirmação de uma arte sedutoramente sonora e radiantemente poética.
Domingo, lá ‘pelas uma e pouca’, como diz a galera, quando terminou o show na Praça da República, já perfeitamente refeito do transe, banquei a tradução: o Arraial do Pavulagem é um fenômeno. Um delicioso fenômeno junino. Desaloja a gente da sombra, da obliquidade discreta e ilumina com cintilantes estrelas, os escurinhos do nosso coração. Amanhã tô lá.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O espetáculo do mês

A constelação de Escorpião é uma das mais belas do céu. E é a mais fiel. É um ícone. Aquela que mais se parece com o ser representado.
Agora em junho, tá fácil de achá-la no céu. Ela se destaca pelas duas estrelinhas no final sinuoso da figura, que lembram o ferrão do escorpião, e pelo brilho arrogante da Antares, no centro do traçado.
Desponta ao anoitecer no horizonte Leste.
O Leste, para quem mora em Belém, é ali pros lados da Terra Firme
Para quem está na Vila dos Cabanos, fica na direção do Laranjal
e para quem está em qualquer lugar do mundo, é o horizonte oposto àquele em que se põe o sol. 
'percure' e curta o bichinho.



terça-feira, 14 de junho de 2011

Caminhar com razão


Comecei a caminhar. Já estou nessa pisada há uns quinze dias. Acordo de manhãzinha, antes do sol aparecer, e ainda em tempo de ver a estrela Dalva luzindo poderosa, acima do horizonte.
É a minha resposta a uns ‘pobremas’ que me espreitam sorrateiros. Uma alteração na pressão, aqui, outra ali, e de novo, e a bicha nada de tornar pra’queles saudosos 13 por 7 do bem. Daí, tive que apelar para um remelexozinho no corpo e na vida.
Sempre resisti. Brincava, como todo machinho presunçoso, dizendo que meu esporte preferido era levantamento de copo e que a minha soberba muscular se dava no extremo anterior do pé direito, ali, perto do dedão (para ser mais exato, o ladinho do pé que embala a rede). Não me animava mesmo. E a pança, só crescendo, e o ócio reinando, e o metabolismo alterando. Não tenho bugs, não. Mas tenho a impressão que, com metro e meio de altura, pesando 68 mil gramas, só não vivo dando passamento pelas partes, por obra e graça da providência divina. Por aí a gente tira, um gordinho-baixolinha-preguiçosinho-sortudo. Tô assim, com um perímetro tão anatomicamente desleixado, com as arestas de tal forma aparadas, que se eu cair, eu rolo, numa evolução digna da mais arrojada coreografia ‘mister bolinha’.
Diante desses apelos, atendendo a pressões (inclusive a arterial) vindas de todos os lados, me convenci de que preciso perder uns quilinhos. A minha bronca, ressalte-se, não é estética (porque se assim fosse, teria que chamar a mamãe para fazer outro eu), estou mesmo é interessado em dar minha contribuição necessária e verdadeira para a manutenção da vida. Adoro viver. Preciso (tenho alguns livros pra lançar).
Sucede que nos últimos dias, mudei minha rotina. Vivo mais (acordo às cinco da matina, né), e melhor. E com esse negócio de madrugar, acabei percebendo detalhes de um mundo meio esquecido, mas de toda sorte encantador. O amanhecer é escandalosamente bonito com aqueles tons e contra-tons de azul e laranja (tá certo o Roberto Carlos naquela canção “o amanhecer é lindo laraiá laiá laiá”). Sabe aquela coisa de passarada? Daqui de casa, consigo discernir pelo menos 10 cantos diferentes de passarinhos. Todos muito animados para o dia. Além dos delicados gorjeios ainda dá pra identificar também o sincopado cocoricó de um galo perdido no ermo (olha só, gente, por falar em galo, me vem à cabeça um inconformismo. Não conheço ninguém que crie um galo. Não encontro com um galo sequer ciscando por aqui pelas redondezas, não ouço histórias de galanteios de galo nenhum dirigidos, sem decoro, a galinhas fogosas entre quintais. E toda manhã me pinta a onipresença deste cocoricó chatérrimo. Éraste, parece uma coisa!).
Uma missão que foi aceita meio que na marra, essa da caminhada matinal. Mas que tem resultado em momentos de oportunas reflexões e de reavaliação de condutas corriqueiras. Não sou subordinado a traçados impositivos. Meu itinerário é arbitrário, a minha direção é anárquica. Isso me torna livre. Nessa hora não há conflitos com o espaço (no início, atravessava a rua intempestivamente, subia o meio-fio, cortava caminho... Pra que isso, já?). Para caminhar a gente precisa estar livre para poder se relacionar harmoniosamente com a geografia da nossa batidinha urbana...Coloco meu tênis, meu fone de ouvido e vou bater no rio Murucupi. Falo com aquela árvore extraordinariamente simétrica que separa o rio da mais nova invasão, pergunto pra ela como está a sua simetria e volto...caminhando e aprendendo. E essa experiência de releitura do cotidiano rebato, com espírito renovado, para o resto do meu dia e fico na paz.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Entrevista (Salve o poeta)


 
P:  Por que o senhor escreveu um  poema?

R: Bem, porque eu amo a poesia.

P: Por que o senhor escreveu?

R: Bem , porque eu amo.

P: Por que o senhor?

R: Bem, porque eu...

P: Por quê?
R: Bem...

domingo, 12 de junho de 2011

Dia dos namorados

Tenho mais que Me ater a detalhes românticos Mandar flores sem quê nem Pra quê Uns bombonzinhos de chocolate finos Beijinhos na praça Mãos dadas E um ursinho de pelúcia Com gravatinha borboleta De aniversário
Tenho mais que Desfiar o verbo amar Profusamente e Sob qualquer circunstância Mesmo sob tortura Ou risco de vida Mesmo julgado E condenado pela gramática Eu amo tu Eu amo tu Eu amo tu E ser feliz porque Tu ama eu.
Eu tenho mais que No domingo Descolado Desligado Sereno Livre Um tanto santo Um tanto cego Um tanto atento Um tanto incerto Um tanto breve
Um outro tanto eterno
Neste dia Um tanto melodia Um outro tanto pôr do sol Neste dia  Dia do Senhor Penitente Redivivo Tenho que Querer viver Só de amor.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Crônica da semana

Amigo meu   
Minha mãe amanhecia e anoitecia o dia agradecendo a Deus por ele ter aparecido na minha vida. Não que eu fosse desguiado, largado à bandalha. Moleque péssimo, eu não era não, eu. Em 1979 eu já tinha 4 anos de carteira assinada. Era um pacato cidadãozinho cuja única piração era o jogo de bola todos os sábados defendendo o glorioso Internacional da Mauriti, pelos campos do Asas do Brasil e do Areal.
Mas ele deu, realmente, uma mexida na minha vida. Não se usava o estrangeirismo ‘apigrêide’, naquela época, mas foi por aí. Algumas fagulhas que chamuscavam dentro de mim, se acenderam, de vez, quando o conheci.
Saí ganhando. Afinal o cara é iluminado. Em todos os sentidos. É meu ídolo. Com exceção de umas travas reincidentes para continhas básicas de matemática, é minha referência para um tudo. Se me encalacro em algum conceito, alguma definição, bato um fio e logo ele me oferece uma saída elegante. Se perco o rumo de uma prosa, ele dissipa, com fluência, apreensões e refaz caminhos. Dirime inquietações. Tão altivo, quanto sereno. Tão extenso, quanto humilde. Exato e dócil, tem um conhecimento vastíssimo. Domina o hio e o chio dos questionamentos humanos (porque, quando adolescente, leu um feixe assim de livros do Herman Hesse e as imprescindíveis obras do Gibran, deduzo) e jamais escreveria três vezes a palavra ‘exceção’ até acertar, como fez este humilde usuário de umas das variantes da língua portuguesa, lá atrás (Porque lê, certifico).
Mas nem só do saber e da profusão intelectual vive o homem.
Tão desvelada declaração da minha mãe, não guardava muita coisa com a facilidade que meu amigo tinha para apreender a realidade. Advinha, mais precisamente, do fato de, pelas mãos dele, eu ter me tornado um membro das fileiras salesianas. Deus te livre e guarde. Para ela, era o Pai no céu e este pequeno na Terra. Tudo por causa da minha conversão. Foi o facilitador da minha Primeira Comunhão e Crisma. Somos irmãos em Cristo. Somos compadres de pia e amigos de coração e mente. Enveredamos por construir uma relação sagrada, compromissada na fé e na confiança. Edificamos ao longo desses anos, aquilo que se pode chamar de uma amizade inquebrantável. Do tipo: ‘a tudo, a ela (a nossa amizade) seremos atentos, antes’.
E aí, quando eu penso nos anos que temos nos completado, torno para as dificuldades que meu amigo tem com os minuendos e subtraendos. Se não angariamos, num longo período, grandes controvérsias ou graves desapontamentos, um resultado diverso para um ‘arme e efetue’ simples, tem nos abatido, tem abalado as nossas tão inabaláveis interações, nos últimos tempos. Discordamos sobre a longevidade de nossa amizade. Para mim, completaríamos 30 risonhas primaveras juntos, em 2009 ( tomo o primeiro semestre em que estudamos na Escola Técnica, como referência). Meu amigo, por sua vez, não abona essa fase. Situa este período como o de sondagem (a gente estava se conhecendo. Não era nada valendo ainda). E acha que começamos a nos dar, mesmo, a partir do maio de 1980, no movimento jovem salesiano e na política estudantil. Pronto. Barraco. Me arrumei todo para a nossa comemoração em 2009 e ele, ó, nem deu bola. E eu idem, em 2010. E por isso ficou.
Aqui reforço que operações matemáticas são convenções. A contagem de épocas e eras são abstrações íntimas do cocuruto. Representam a realidade. Mas não são a realidade. E hoje tenho a certeza de que amanheço e anoiteço os dias, agradecendo a Deus, como minha mãe fazia, por Ele ter colocado no meu caminho, um cara fantástico. Apesar das continhas inexatas, continuamos unidos feito unha e carne.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Mais sobre o Arrastão do Pavulagem

O grupo Sancari é quem confecciona, ornamenta, guarda e tem a honra de entregar os mastros para os ritos do cortejo

"Os mastros de São João e os bois ‘Pavulagem’, ‘Malhadinho’ e ‘Orube’ chegam de barco no cais da Escadinha da Estação das Docas, onde o público já espera o início do cortejo em meio a uma roda cantada, na qual as músicas, ensaiadas pelo Batalhão da Estrela nas oficinas de canto popular, são entoadas até a partida rumo à Praça da República.
No Batalhão, há jovens, idosos e adultos de todos os estilos possíveis 

Alguns dos estilos possíveis no Arrastão
 e de todos os cantos de Belém. Aparentemente pessoas que não tem nenhuma afinidade entre si, mas no Arraial estão lado a lado, convivendo no mesmo espaço e compartilhando histórias."

"No Arrastão do Pavulagem, a cultura popular é a grande homenageada. O Arrastão representa a quadra junina e traz para o cortejo a figura dos santos milagrosos: Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal, comemorados em 13, 24, 29 e 30 de junho respectivamente. A homenagem é enriquecida e reinterpretada com ritmos, cores, danças, cantos e cheiros da Amazônia, numa forma de manter viva nossa própria identidade, enraizada na cultura popular, na memória e na oralidade de nossos ancestrais"

Serviço:
Arrastão do Pavulagem
Data: 12 de junho (domingo)
Local: Escadinha do Cais da Estação das Docas
Endereço: Rua Boulevard Castilhos França, bairro da Campina, Belém.
Hora: Concentração 9 horas, com roda cantada para esperar a chegada dos mastros de São João e do Boi Pavulagem que vêm de barco pela Baía do Guajará. As músicas da roda cantada estão disponíveis no blog do Arraial

* Textos extraídos do site do Arraial do pavulagem   http://www.arraialdopavulagem.com.br/ 

As sereias do Sancari

Batalhão de Estrelas

Tenho em mim o pecado da inveja. Mas uma inveja bacana, boa de ter, inofensiva.
Data de um certo domingo quando dei com o Ronaldo Silva num bar lá em cima do barranco que ladeia a praça Eduardo Angelim, na Sacramenta. Ali estava uma turma animada e naquele dia tive a oportunidade de conhecer, pessoalmente, o meu ídolo.




Confesso que me senti surpreso. Trazia em mim uma imagem distante, sagrada do artista e fiquei por ali, meio sem jeito, na minha condição de fã devotado. Mas o Ronaldo desfez todas as travas com muita simpatia e bom humor. Era mês de junho, o Sandro Becker estava estourado nas paradas, e o Ronaldo entre um e outro clássico da quadra junina, mandava no violão trechos da Julieta-tá/ tá me chamando.
Aquela guinada aos meandros populares da música mostrou para mim o quanto livre era Ronaldo. Um músico sem preconceitos que retrabalhava o mais elementar acorde ou a construção mais simples, sempre em uma essência agradável, uma substância prazeroza. Dei um nome para isso: talento.



Naquele dia, na sacramenta, reparei direitinho no baque do artista. Ali na turma ele não se exibia com vaivéns dissonantes ou preciosismos estéticos. Ao contrário, com o aval das construções de Becker, fazia um Ré básico, um Fá responsável, um obediente Sol, mas quando juntava as notas, meu pai! a harmonia surgia soberana, envolvente.
Não sou crítico de música nem nada, mas conheço alguns bons músicos e me engano há um tempão achando que toco um pouquinho de violão. E por aí eu tiro: caramba! Faço as mesmas notas que o Ronaldo, mas quede que consigo fazer canções como ele (fico longe até do Sandro Becker, ora, ora!). A explicação para isso é o talento extraordinário que Ronaldo Silva tem e que eu não tenho (daí a inveja).



Este talento, esta luz, faz do Ronaldo um dos nossos mais importantes artistas contemporâneos. 
E esta luz se espraiou, se amalgamou a cúmplices aquilatados como o saudoso Rui Baldez e iluminou uma idéia fértil construída a partir de arrodeios à praça da República, nos domingos de junho. Daí surgiu o Arraial do Pavulagem.
Agora a luz vem de um batalhão de estrelas.
Seja na quadra junina, seja no arrastão do Círio, o Arraial se impõe pela alegria, pelo compromisso com a cultura e por uma certa disciplina nas dinâmicas do evento (não é do chega e vai ficando, não. Tem que fazer as oficinas, entender o espírito da coisa, ser conivente com as mais nobres intenções do folguedo).
E, por isso, pelo respeito com que trata a criação popular, O Arraial é um momento único de celebração da arte.
Encantando sempre.
Domingo, estarei lá!

O Sancari é uma das estrelas do Batalhão


terça-feira, 7 de junho de 2011

crônica remix

Estou apaixonado pela jennifer Lopez, e agora? 



Um problemão, né? Primeiro porque ela não está nem thum para este ex-centroavante do glorioso Internacional da Mauriti. Segundo porque depois de ter dado uns abracinhos calientes no Richard Gere (aquele chato metido a bonitão) no filme “Quer dançar comigo?”, acho difícil a gata porto-riquenha se engraçar por qualquer outro mortal.
Mas eu não ligo, não. Vou me conformar com a impossibilidade total de dar umas bitocas na Jenne (saca só a intimidade!) e me recolher, resignado, ao meu amor platônico.
O que tiro dessa desatinada história é a certeza de que estou muito desligado de cinema. Ora veja, logo eu que me queixo ser cria do Cinemania (aquele do Wilson Cunha e da gatésima Tânia Rodrigues) e que cheguei até a varrer o cine Paraíso, lá pelos  idos de setenta e poucos, só para de noite, entrar de graça e me deslumbrar com o colo farto, generoso, da Úrsula Andrews.
O certo é que, mesmo me amarrando no escurinho do cinema, estou aéreo sobre as últimas do mundo das estrelas: sabia que eu não conhecia a Jennifer Lopez?
Pois é, vim conhecê-la agora, coisa de ano passado pra cá, quando passou “A Cela” na TV, por um ou dois clipes e pelo DVD com o presunçoso do Richard Gere, que tomei emprestado de uma jovem fã (fã dele, do virtuoso - Não sei, não sei mesmo o que essas menininhas foguentas vêem no Richar Gere).
Isso é mais uma prova de que me distanciei muito das salas escuras (também, com o preço que andam cobrando!), porque deu pra sacar que a Jenne não é uma revelação de agora (o filme com o  Richard, por exemplo, é de 2004, e, na época, ela já era uma estrela). Sinto que estou meio alerdado para as coisas da sétima arte.
Pior pra mim. Perdi foi muito em não ter descoberto a jenne antes. A pequena é um primor. Caseia e chuleia. Canta, dança, vira, mexe, pinta os canecos.  E é uma atriz convincente. Além de, é claro, é claro, ter uma beleza singular, agressiva, provocante. Além de exibir uma tez latina, aporcelanada, ofuscante. Coisa de endoidecer mesmo.
Gostei da pequena. Tem talento (e outras tantas cositas mas). Fica porém, a estrela brilhando só aqui no meu cocuruto. Vive a bela, somente no mundo dos meus inconfessáveis pensamentos. No mundo da ilusão e da fantasia. Para o nosso bem. Afinal de contas sou comprometido.
É, não ia rolar mesmo, Jenne. Te conforma por aí com os abracinhos do Richard Gere.
Essa história de se apaixonar por artista, comigo, é coisa comum. Acontece sempre.
A minha primeira grande paixão foi a Emilinha Borba. Eu era bebê e ficava ligado nos filmes da Atlântida nas sessões vespertinas. Adorava quando ela aparecia. Podia estar fazendo o que fosse. Largava tudo para ver a Emilinha.
Depois veio a Elba Ramalho. Foi uma paixão alucinante. Juntou tudo. O glamour do Teatro da Paz, o fogo adolescente, o preço bem em conta do ingresso no Projeto Pixinguinha, e...aquele belo par de pernas. A paixão pela Elba teve o seu quê de concupiscente, de apimentada. A moça me consumiu as forças e me deu até tosse. Quase caí enfraquecido. Garoto novo, né? Já viu.
Não posso negar que com a Xuxa, rolou um clima também. Mais
pelos rodopios e ilariês matinais do que pela performance que ela fez no filme “Amor, estranho amor”.
 Por último, foi a Cláudia Abreu. Aquele jeitinho de menina parecendo uma vizinha da gente que mora ali na esquina, simplesinha, educada, dada, foi essencial para uma paixão alegre, moleca, meio anárquica.
Pensei que eu já estivesse vacinado disso tudo. Mas eis que agora, na batida da campa, me aparece a jenne para bagunçar o coreto.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Qualquer semelhência é mera coincidância

As asas de Brasília

As asas de Laranjal do Jari

domingo, 5 de junho de 2011

Joelma Kláudia na América

Joelma Klaudia está indo para Washington (EUA) nesta terça, 7, para fazer show na quinta, dia 9, a convite do projeto Afro Brazilian Arts. A cantora está representando o Pará e a Amazônia, apresentando em versão acústica o repertório de seu primeiro CD, Dias Assim. Joelma considera o convite um presente pelos seus 8 anos de cantoria pelos palcos de Belém.
- Vou cantar canções do meu CD, incluindo uma música minha e do Rogério Avelar, "Dias Assim" em inglês, o que encaro como uma forma de fazer o público norte-americano mais próximo da minha arte, além de mostrar que não canto só em português - explica a cantora.
Joelma vem se destacando no cenário paraense, já tendo recebido prêmios como a Plaqueta Waldemar Henrique, o 5º lugar no 1º Festival da Música Popular Paraense, Cantora Revelação de 2009 e o Prêmio Secult Circulação. Em setembro, deve lançar seu primeiro DVD, gravado em sua cidade natal, Altamira. 
(Extraído do Somdonorte. http://somdonorte.blogspot.com/2011/06/joelma-klaudia-viaja-para-washington.html)

sábado, 4 de junho de 2011

Crônica da semana


Inimigo meu
Até na guerra há uma lei. Há aquela imposição de se ter a certeza do confronto. Mesmo que haja diferença de forças ou derrotados prévios, há tênues contornos éticos delimitando a selvageria das guerras (a devolução do corpo do guerreiro Heitor para um funeral digno, como herói de Tróia, é uma prova dramática de como, mesmo na guerra, se pode respeitar os valores, a honra e os sentimentos do inimigo).
Sei de casos de embates na região do Xingu, em que os índios expunham a cabeça do inimigo no meio da aldeia. Esta cerimônia queria dizer que aquele combatente havia sido muito forte. O rito ilustrava a valentia do adversário. Era um reconhecimento dos valores do oponente.
Se o índio sabe que seu adversário é forte e se os gregos reconheceram a Heitor o direito de ser velado pelos seus pares, intui-se a concessão do confronto aberto. O enfrentamento mesmo que feroz, é justo. Mirar-se face-a-face é pressuposto do bom combate. Dá a chance de estratégias e defesas. A tocaia, não. A emboscada ardilosa, não. A surpresa desleal não. A tocaia é a tradução da covardia. Quem usa deste expediente para aniquilar seus inimigos, mesmo que os mate, os destrua, entra para a história como um assassino ordinário, vulgar (sequer ilustra um banquete, porque, como afirmavam os antropófagos, “não se devora corvarde”).
Eu sempre tive bem clara a figura do bom inimigo. Já os tive de ruma. É aquele que se anuncia. Que esbraveja. Rosna na tua frente. Atem-se a parvoíces, a macaquices. Mostram logo os dentes. São límpidos e claros. Melhor tê-los a eles, do que os silenciosos, do que os dissimulados. Do que aqueles que te esperam na curva.
Tive um maravilhoso inimigo. Seu Barroso. Era empreendedor em Altamira. Tínhamos opiniões diversas até quanto à cor do céu. Por aí a gente tira. Vivíamos nos arengando. Mas nos respeitávamos horrores. Ai de que quem falasse mal de seu Barroso perto de mim.
Era o tempo da primeira candidatura do Lula. Seu Barroso, que era ‘direitão’, tinha uma queda pelo pessoal da UDR e achincalhava o Caiado dizendo que ele, o Ronaldo Caiado, ora veja, era um socialistazinho enrustido. Meu Deus!
Seu Barroso era da nossa turminha. Gente da mineração, administradores, secretárias, geólogos, empresários. Uma galera plural e bastante ativa. Nosso point era o restaurante do Carioca, um cara de muita coragem porque nos fiava a conta, mesmo naquela época, com a inflação batendo os 80% ao mês. Era gente da gente, o dono do restaurante. Houve, de tão acaloradas e iminentes que estavam as nossas discussões, de o Carioca deixar a chave do bar com a gente e ir pra casa. Amanhecíamos ali, nos enfrentando e, na contradição, procurando um rumo para o Brasil.
No calor da hora, Seu Barroso era bem objetivo. Dizia que se ele fosse para o poder, eu tava ferrado. Não acabaria comigo de prima. Segundo ele, me poria pendurado numa árvore e todo dia tiraria um pedacinho de mim. Comunista, segundo ele, tinha que ser tratado dessa forma. Eu por mim, atava-me ao poder justiceiro das revoluções. Rebatia que o colocaria no paredão e pronto. E assim, íamos nos prometendo, nos admirando um ao outro. Seu Barroso me desafiava. Eu era um bebê de vinte e poucos anos e ele assegurava que eu não teria responsabilidade depois de uma noite de gandaia. Quite. Tomávamos todas e às sete e meia da manhã eu passava no escritório dele para um café, antes do trampo. Só pra provar que o Brasil ficaria em boas mãos com gente da minha laia.
O Brasil não precisou que eu e seu Barroso nos exterminássemos. Por isso ele é umas das minhas mais estimadas lembranças. Entretanto, no Pará, gente estúpida ainda há, sem coragem de mostrar-se para o combate, que mata de tocaia.