sexta-feira, 29 de março de 2024

crônica da semana - di maior

 Di maior

Agora em março, na quarta 27, completei 18 anos escrevendo esta coluna. E lá vai o meu sestro matemático agir e me levar às continhas. São mais de 800 crônicas gravadas nestas páginas ao longo deste tempo. Algumas, marcando muito fortemente, a minha memória e a de muita gente. Mais de 3 milhões de ‘caracteres com espaço’ contando, descrevendo fatos, sentimentos, criando fantasias, reduzindo distâncias entre passado, presente, primeira légua de Belém, Xapuri, Amazônia,  esta Pedreira velha de guerra e paz que amo... e o mundo todo.

Números são importantes porque dão uma carga, uma medida à produção. Mas expressam também uma trajetória ao longo de uma reta que se move em várias direções. De estilo, temática, densidade (os tais caracteres com espaço), estética, composição e linguagem. Às vezes a gente nem malda, mas cuido de prestar reparo em tudo isso, quando escrevo. Daí, as crises, reflexões, e as mudanças que ocorreram na minha escrita, nesta jornada de 18 anos.

No balanço, destaco a grande alteração pela qual passou a envergadura do texto. Quando entrei aqui, era um desregrado, me desembestava a escrever e não acabava mais. Colaborava com jornais empresariais, periódicos comunitários de Barcarena, e editores como Fernando Jares, Jeniffer Galvão, Márcia Ferreira, aceitavam este meu desembestar e até davam corda para a farta fluidez. Encorpava as edições e me oferecia a chance de explorar várias pautas. Aqui o espaço é precioso. Embora sempre garantida à literatura, a vaguinha nesta coluna obedece às regras da diagramação empresarial. Acabei me adaptando e os toques (antigamente eu conhecia assim, como toques) calculadinhos já me são doces e íntimos.

Pelo caminho, topei com o dilema do lide. Perdi sono com essa regrinha do jornalismo que diz serem as primeiras linhas de um texto, integrais, fundamentais no adiantamento do que vem a seguir. Justo, acho justo. Ainda mais na crônica. Um parágrafo inicial rápido, com frases de efeito, palavras-chaves, pegam realmente o leitor pelo pé. Tem um porém. É regra. É comando. E a inspiração não tem comando. Não me desagrada o lide, mas, também, não me aprisiona.

Vira e mexe, me bato com o estilo. É uma questão fácil de resumir. Quando escrevo difícil para agradar uns, recebo de volta que ninguém entende. Quando tareio no verso mundano, tentando outros, ouço que escrevo simples e fácil, tipo redação ‘minhas férias’, da oitava. Pelo bem e pelo mal, ou como diria Guimarães Rosa, pelo io e pelo chio, sigo neste balangado muito à vontade. Nesta pisada até que, aqui-ali, aufiro uns louros de parte considerada dos entendidos nos ofícios que cuidam da composição literária..

Em 18 anos, não posso negar que tenho uma linha, sigo uma temática. Sou um memorialista. Um montão do que escrevo vem de lembranças ou de casos não vividos, que gostaria de tê-los vivido. E os desvelo na língua falada do meu lugar, visse! Boto fé que minha palavra escrita tem o som das ruas. Sou também regionalista. É recorrente nas minhas narrativas, a minha operacional relação com a Amazônia. Sou da barra: A Pedreira sempre está. E grato: Belém. Belém! Que me acolhe, me tolera e me permitiu ter um futuro.

Não tinha este sonho. Por outra, desde a Escola Técnica, me inclino a escrever. Comecei com um arremedo inocente de versos do grande Vinícius. Arredei um pouquinho na construção textual e me apeguei, me dei mesmo foi com a crônica. Dissecada, explicada bem explicadinha pelo gênio observador de Antônio Cândido: “a crônica é a vida ao rés-do-chão”.

Tenho nos números, também me ombreado neste espaço a jovens talentos como Juliana Silva, Carol Porto, Laila Maia, Argel Sodré. E com meu compadre Edir Gaya, que além destas oitocentas e poucas crônicas publicadas, acresceram minhas continhas com seus lindos textos. Borimbora pra frente. Agora di maior.

 

 

quarta-feira, 27 de março de 2024

sábado, 23 de março de 2024

crônica da semana - Dona Silva

 Dona Silva

Era o que se costuma dizer hoje, uma guerreira. Criou sozinha três filhos homens, sustentava a casa com o salário de merendeira de uma escola do estado e era nossa vizinha parede-meia. Não é o caso explorar a história e descobrir por que Dona Silva ficou sozinha, embora seja necessário a gente identificar e discutir estes casos. Não é fácil. Sumiço, desaparecimento, o abandono do lar pelo marido, pelo pai é chaga que deixa marcas profundas na família. É um trauma e uma falta na organização familiar sentida a cada dia, principalmente, na luta incessante pela sobrevivência. E, infelizmente é tão comum esta prática cruel, este descompromisso, a ausência de qualquer responsabilidade, se não afetiva, pelo menos jurídica, social, de apoio, de cuidado com quem um dia o desertor teve alguma relação. Eu mesmo, se tirar das minhas relações comuns, devo contar que em torno de 80% das famílias que conheço, são assumidas apenas pela mãe.

O marido de Dona Silva foi embora e ela ficou com os três filhos. Não tinha mais ninguém. Quer dizer, éramos vizinhos. Dividíamos a mesma parede de uma casa de madeira pequenina de três cômodos, as duas famílias sob o comando de uma mulher: não estávamos sozinhos diante do destino. Tínhamos uns aos outros.

Tão atenta e generosa era que, não dava uma vez que recebesse o garantido ordenado do mês, mesmo que miúdo, fosse ao Supermercado Sandra, fizesse uma feira bem sortida e não trouxesse uma coisinha pra gente. Não providenciasse aquele quilo e meio de pá só com o osso da peça, inventasse um assado de panela e não reservasse a nós, uma prova. Ou mesmo preparasse um pratinho qualquer, uma gororoba, uma coisa, outra e não partilhasse conosco em momentos de um simbolismo comovente. Do nosso lado, nem o certo miúdo era garantido. Não tínhamos salário. Todo mundo se virava lá em casa, mas era um numerário flutuante, atrelado ao balançar das ondas de vendas ocasionais, cobranças, empréstimos, doações. Quando a gente tinha, mamãe tornava com um agrado para Dona Silva e os meninos. E assim, a vida era vivida. Nos segredos guardados entre as brechas da parede-meia, nos aperreios e consolos ritmados, em sinceras intenções e nas autênticas vontades de fazer o bem.

Dona Silva é bem dizer, a responsável por eu estar aqui, catando milho no teclado deste computador e elaborando uma narrativa, hoje, prosaica, sobre as suas condutas tão solidárias.

Certa vez, numa conversa com mamãe, expondo uma experiência vivida na própria família, apresentou uma possibilidade de futuro para mim. Orientou mamãe que me estimulasse a fazer a prova de admissão para a Escola Técnica. Dois dos filhos dela ainda beiravam concluir o curso e já estavam com empregos garantidos.

Para mim foi um sacolejo. A ideia de futuro além da oitava séria, em mim não existia nem no rés dos meus pensamentos. Tinha a luta diária, a “obrigação de acordar cedo para ir à escola”, um compromisso de não mais repetir de ano, mas daí, juntar estas coisas e formular um futuro, isso não existia não.

Acontece que agarrei e fui fazer a prova. Foi na arquibancada do ginásio da Escola de Educação Física, mina de gente e a papelada com as questões apoiada sobre os joelhos. Daquele dia e mais três anos e meio de uma dedicação aqui, ali abalada pelo peso dos desafios, ganhei meu diploma e menos de dois meses depois de formado, consegui meu primeiro emprego em Rondônia. Bingo, Dona Silva!

Com as conquistas proporcionadas pelas carreiras, os meninos de Dona Silva mudaram de vida, e ela também. Um deles foi para o Rio. Eu me passava quando Dona Silva rejuvenescida, toda no seu rouge, nos informava que iria visitar o filho no Rio de Janeiro.

Passados tantos anos, estou eu dando o mesmo papo. Mais com pouco passo um pó na cara, arrumo as malas e vou visitar meu filhinho, a nora, e a netinha no Rio.

sábado, 16 de março de 2024

crônica da semana - Pavãozinho do Pará

 Pavãozinho do Pará

Estou lendo agora uma edição bem bacana de “Aruanda” e “Banho de cheiro” de Eneida. Uma publicação bem bolada com as obras da escritora paraense marcadas por duas capas e as versões se encontrando de ponta-cabeça, de formas que, se iniciamos a leitura por “Aruanda”, ao terminar de ler a última crônica nos damos com os textos de “Banho de cheiro” do fim para o começo, e de cabeça pra baixo. Aí a gente vai e desvira o livro. Firme!

Eneida, que é minha vizinha nominando praça aqui na Pedreira, indo em cima e vindo em baixo no talento e no estilo, dá um banho de cheiro, de jeitos, modos e lembranças em narrativas que ora comovem, ora nos fazem refletir e em muitos casos nos põem lado a lado nas experiências. É o caso do Pavãozinho do Pará.

O pavão, aquele engalanado, posudo e exuberante, pra mim é como diz o samba: não sei, nunca vi, só ouço falar. Conheço só de fotos da National Geographic. Agora este um do Pará, já estivemos nós dois, de palmo em cima.

A grande cronista paraense, em algumas passagens das obras, faz citações, com temperos nostálgicos, do pavão e até trata as cenas como se comum fosse topar com um exemplar da ave ainda nos limites urbanos de Belém dos anos 20 e 30 do século passado.

Por aqui pela barra não vi não, mas em Rondônia, naquele início dos anos 80, no meio do caminho em mata virgem e fechada, tive a sorte de ter como companhia um pavãozinho. Com o direito a exibição do resplendor, bem modesto, com relação ao outro tipo, entretanto contendo em si, um arranjo de cores belo, suave. Sem aquela imponência vertical, comum ao mais famoso exemplar; mas de outra forma, com uma doçura, e com assumida humildade, a cauda se abria expressada em uma modéstia horizontal e encantadora, à minha vista. Naquele dia não sabia que tipo de ave era aquela, mas na óbvia dedução, imaginei ser um pavão. Ali, do segundo grupo de paletas. Mas, de certo, um pavão.

Este caminho era minha prova diária de coragem. Sem exagero, era uma brenha. Um ermo estirado e imprevisível. Andava por ali duas vezes ao dia. Pela manhã, quando me deslocava da vila em que morava para meu acampamento de pesquisa e, na volta à tarde, já com o canto da Guariba ao longe e o fiu fiu do Cricrió celebrando a brisazinha mais aquela de amena, no final do dia.

Era uma opção minha fazer esta caminhada que durava em torno de uma hora pela mata densa, em passadas de bom ritmo. Um varadouro que arriscava ensejar toda a sorte de encontros. Desde aqueles miúdos com as audaciosas formigas saca-saia até os empoderados, com as temidas onças caçadoras. Escapei de todos os indesejados. E, num dia bom, fui agraciado com a bem plumada presença do pavãozinho.

No tempo que fazia aquela caminhada, era verdinho em Rondônia. Passei meus primeiros meses numa vila isolada chamada Bom Futuro e de lá, me irradiava para as frentes de pesquisa. Meus dias eram roteirizados em saudades de Belém (como nos conta nas crônicas, Eneida, os eram, os dela). Vivi a minha solidão naquele caminho cheio de possibilidades e não tinha espaço emocional para ter medo. Tinha medo era da solidão, tão longe de Belém. Acudia-me às cartas que, quando menos demoravam, passavam 15 dias para me alcançar. E aos três dias por mês que me eram proporcionados de folga em Porto Velho. Boa parte deles, eu passava dentro das cabines de telefone, pagando uma grana preta na chave para as ligações interurbanas, perturbando o televizinho e pedindo pra chamar a mamãe lá do outro lado da rua.

E foi naquele caminho que encontrei o Pavãozinho do Pará abrindo a penugem e se revelando em beleza para mim. Nunca mais vi outro, nem ouvi falar. A não ser agora quando leio Eneida nesta edição muita das suas pai d’égua com suas páginas de cabeça pra baixo revirando lembranças.

sábado, 9 de março de 2024

crônica da semana - casa de táuba

 Casa de táuba

A gente pensa que não, que não acha mais por esta Pedreira de Deus, casa de tábua. Mas tem sim. E aqui, no caso que nos cabe, tinha. A casinha que abrigou gerações, agasalhou o desagasalhado, acolheu aquela ruma de gente nos tantos tempos que se sustentou na dignidade e vontade, no último sábado, foi demolida. Uma cerimônia braçal, movida a sentimento de equipe, levou ao chão a casinha da vó, na Pirajá. Não há fantasia nenhuma, simbologia que seja, quando afirmo que, cada tábua desapregada e lançada ao chão, levava consigo uma história imensa de luta pela sobrevivência. Argelzinho, meu filho, sensível à densidade do fato, entre lágrimas, nos representou os sentimentos em texto comovente. Reproduzo aqui algumas partes também como reverência a uma casa que era um coração. Um coração onde todos nós, durante algum tempo, nos aninhamos seguros.

Isso me fez pensar que quando meu bisavô, Seu Cruz, e a minha bisavó, Dona Sassá, chegaram nesse terreno alagado, na baixada da Pedreira, construíram um barracão de pau em cima da água e colocaram os filhos (as) e netos (as) dentro, a gente tinha tudo pra ficar ali pra sempre. Poderíamos nascer e morrer todos nós dentro da lama. A pobreza que a minha família vivia ali parecia que era sem fim. Eu nem consigo, na real, imaginar o que as pessoas que amo passavam ali. Sabemos por alto, quando mamãe, minhas tias e tios contam dos traumas herdados.

Basicamente, dependiam dos esforços da minha avó, dos salesianos, do resto da família Nunes, vizinhos e agregados para se alimentarem e terem o mínimo de dignidade. E assim, todos vingaram. E não só vingaram, como ousaram sonhar com futuro melhor. Mesmo passando mais de 50 anos em cima da lama.

E aí eu nasci, no meio de um monte de gente sonhadora.

Ainda lembro, quando vinha da Vila dos Cabanos, de ver pela brecha do assoalho, os peixinhos de vala, de ver os mussuns passeando, de andar pelas pontes. Mas quando vim morar definitivamente aqui, não havia mais as pontes, as grandes obras de engenharia do governo deram algum tipo de melhoria pras nossas vidas.

Nós tínhamos algumas poucas certezas nos dias ali: ia ter comida, cuidado e amor; a vovó ia arrumar briga com alguém; a tia Dina ia pular o portão uma vez por semana; algum morador ia embora e logo chegaria outro; e ia chegar alguém pra almoçar sem avisar; o carapanã ia dar um samba na gente; ia ter goteira e rato.

Mas todos tínhamos um sonho. Um dia a gente ia dar certo e íamos ter onde morar, uma casa nova, nosso cantinho, nossa privacidade e poder contribuir pro bem-estar da vovó. Entendendo que se o sonho virasse um pesadelo, tínhamos sempre o coraçãozinho de táuba.

Em 2020 eu fui embora, depois mamãe, papai e Amaranta foram também. Em, 2022, a vovó finalmente saiu da casa de madeira e foi morar na casa de tijolo, no final do terreno.

Nesse tempo, algumas pessoas passaram temporadas na casa de madeira, mas agora foram expulsas pelos ratos. Sim, invasão de ratos em pleno 2024, podem acreditar. Foi aí que começamos a especular a demolição da casa.

Nesse final de semana, mais precisamente no dia 02 de março de 2024, a ideia virou realidade. Sem morador além dos ratos e dos cupins, a casa de madeira, histórica casa da família Nunes, que abrigou tanta gente sonhadora, foi pro chão. A casa de táuba caiu, Mas não se desespere! Se precisarem, tem a casa de tijolo, no final do quintal, vovó sempre deixa a porta e o portão (FECHA ESSE PORTÃO, MARLENE) abertos.

E agora temos um quintal gigante, as crianças da nova geração podem brincar e os jovens, os adultos, podem fazer festas e ainda os saraus.

Todas as gerações continuam sonhando. Só vamos parar de sonhar quando ninguém, NO MUNDO, precisar encarar tantos desafios, em meio à lama, para sobreviver.”

 

 

sábado, 2 de março de 2024

crônica da semana - Saqueiro

 Saqueiro! Saqueiro!

A principal atividade que realizavam era a de saqueiro. O produto era apregoado em cada canto. Nas feiras do Ver-o-Peso, da Pedreira, Jurunas, da Bandeira Branca. Vendiam um bem utilitário, não durável e advindo da reciclagem. O processo de elaboração se dava a partir do descarte dos sacos de cimento. Era um papel duro, vincado, grosso. A primeira fase contava com a escolha da face isenta de contaminação. Juntados, os fardos eram transportados, moldados e colados em tamanho de uma compra modesta na feira. Antes de ganhar a rua, ainda havia uma escala de qualidade. Saco simples, forrado em folhas duplas ou completado com saco plástico por fora, este, o saco do peixe. Dali eram distribuídos para os garotos. Os meninos arrumavam um jeitinho de se compor com a maior quantidade possível do produto. O método mais tradicional era uma peça de madeira linheira ou um cabo de vassoura de não mais que 50 centímetros atado a uma alça de barbante grosso nas duas extremidades, e que, lançada sobre o ombro, qual uma bolsa tira-colo, formava um conjunto equilibrado de modo a receber sobre a peça de madeira, os sacos dobrados uns sobre os outros em acamamento o certo que o peso fosse suportável. Abastecidos, ganhavam o mundo atrás da venda para ajudar ou mesmo para sustentar, como fonte única de renda, a família.

Mas a batalha diária não se limitava à venda dos sacos na feira. Havia, por certo, a concorrência, e a meninada corria atrás do di cumê de outras formas. Vendas de doces e salgados em tabuleiros atados também ao pescoço; bombons, cigarros, fósforos e outras precisões em bancas de esquina. Muitos recorriam aos semáforos e simplesmente pediam uma ajuda ou se davam a pequenos furtos. Para suportar as dores dos dias, não raro, quedavam-se ao alívio das colas de sapateiro.

Quando conheci mais de perto o trabalho da República do Pequeno Vendedor era a este universo que os educadores se dedicavam. Se entregavam com método, solidariedade e cuidado.

A República era uma organização social criada, liderada, orientada pelo Padre Bruno Sechi e suportada por uma legião de jovens incansáveis e inspirados. Muitos desses jovens eram daqui das bandas da Pedreira, Sacramenta. Iniciaram na missão através das campanhas de arrecadação de objetos usados, encaminhadas pelo Movimento de Emaús. A Grande Coleta, que se realizava com enorme repercussão a cada ano, era o suporte para as ações da República. Gerava recurso e também trazia voluntários de outros bairros para adensar o grupo de educadores e equipes de apoio.

As violências, as carências as quais os meninos e meninas estavam vulneráveis, eram identificadas no trabalho de rua, pelos educadores e resultavam em ações, medidas legais de proteção, proposições de amparo social e também nas campanhas de conscientização da comunidade, na expectativa que se tirasse das crianças os fardos, os pesos.

Um lugar onde aprender outros ofícios, senão aqueles da rua; ambiente seguro para matar a fome e se restabelecer dos conflitos diários foram conquistados. Tive experiências inesquecíveis na linha de frente. Acompanhei como se dava a acolhida dos meninos no restaurante do colégio do Carmo, no espaço comunitário da Padre Eutíquio e em pontos dispersos pelas ruas estreitas do cento de Belém.

O ECA e algumas políticas atuais surgiram com a contribuição do trabalho do Padre Bruno e equipe, com quem tive a honra de partilhar grandes momentos em favor dos jovens e crianças batalhadoras.

Este ano, o carnavalesco Eduardo Wagner Nunes, com a icoaraciense Boêmios da Vila Famosa leva para a avenida um enredo que homenageia e conta a trajetória de Padre Bruno, do Movimento de Emaús e das obras ligadas à defesa dos meninos e meninas de rua. É a folia esclarecendo, rememorando, alimentando o desejo de uma sociedade que transforme.