Di maior
Agora
em março, na quarta 27, completei 18 anos escrevendo esta coluna. E lá vai o
meu sestro matemático agir e me levar às continhas. São mais de 800 crônicas
gravadas nestas páginas ao longo deste tempo. Algumas, marcando muito
fortemente, a minha memória e a de muita gente. Mais de 3 milhões de ‘caracteres
com espaço’ contando, descrevendo fatos, sentimentos, criando fantasias,
reduzindo distâncias entre passado, presente, primeira légua de Belém, Xapuri,
Amazônia, esta Pedreira velha de guerra
e paz que amo... e o mundo todo.
Números
são importantes porque dão uma carga, uma medida à produção. Mas expressam
também uma trajetória ao longo de uma reta que se move em várias direções. De
estilo, temática, densidade (os tais caracteres com espaço), estética,
composição e linguagem. Às vezes a gente nem malda, mas cuido de prestar reparo
em tudo isso, quando escrevo. Daí, as crises, reflexões, e as mudanças que
ocorreram na minha escrita, nesta jornada de 18 anos.
No
balanço, destaco a grande alteração pela qual passou a envergadura do texto.
Quando entrei aqui, era um desregrado, me desembestava a escrever e não acabava
mais. Colaborava com jornais empresariais, periódicos comunitários de
Barcarena, e editores como Fernando Jares, Jeniffer Galvão, Márcia Ferreira,
aceitavam este meu desembestar e até davam corda para a farta fluidez.
Encorpava as edições e me oferecia a chance de explorar várias pautas. Aqui o
espaço é precioso. Embora sempre garantida à literatura, a vaguinha nesta
coluna obedece às regras da diagramação empresarial. Acabei me adaptando e os
toques (antigamente eu conhecia assim, como toques) calculadinhos já me são doces
e íntimos.
Pelo
caminho, topei com o dilema do lide. Perdi sono com essa regrinha do jornalismo
que diz serem as primeiras linhas de um texto, integrais, fundamentais no
adiantamento do que vem a seguir. Justo, acho justo. Ainda mais na crônica. Um
parágrafo inicial rápido, com frases de efeito, palavras-chaves, pegam
realmente o leitor pelo pé. Tem um porém. É regra. É comando. E a inspiração
não tem comando. Não me desagrada o lide, mas, também, não me aprisiona.
Vira
e mexe, me bato com o estilo. É uma questão fácil de resumir. Quando escrevo
difícil para agradar uns, recebo de volta que ninguém entende. Quando tareio no
verso mundano, tentando outros, ouço que escrevo simples e fácil, tipo redação
‘minhas férias’, da oitava. Pelo bem e pelo mal, ou como diria Guimarães Rosa,
pelo io e pelo chio, sigo neste balangado muito à vontade. Nesta pisada até
que, aqui-ali, aufiro uns louros de parte considerada dos entendidos nos
ofícios que cuidam da composição literária..
Em
18 anos, não posso negar que tenho uma linha, sigo uma temática. Sou um
memorialista. Um montão do que escrevo vem de lembranças ou de casos não vividos,
que gostaria de tê-los vivido. E os desvelo na língua falada do meu lugar,
visse! Boto fé que minha palavra escrita tem o som das ruas. Sou também
regionalista. É recorrente nas minhas narrativas, a minha operacional relação
com a Amazônia. Sou da barra: A Pedreira sempre está. E grato: Belém. Belém!
Que me acolhe, me tolera e me permitiu ter um futuro.
Não
tinha este sonho. Por outra, desde a Escola Técnica, me inclino a escrever.
Comecei com um arremedo inocente de versos do grande Vinícius. Arredei um
pouquinho na construção textual e me apeguei, me dei mesmo foi com a crônica. Dissecada,
explicada bem explicadinha pelo gênio observador de Antônio Cândido: “a crônica
é a vida ao rés-do-chão”.
Tenho
nos números, também me ombreado neste espaço a jovens talentos como Juliana
Silva, Carol Porto, Laila Maia, Argel Sodré. E com meu compadre Edir Gaya, que
além destas oitocentas e poucas crônicas publicadas, acresceram minhas
continhas com seus lindos textos. Borimbora pra frente. Agora di maior.
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