segunda-feira, 26 de julho de 2010

Quem for brasileiro que me ziga


Continuo com a minha empreitada hercúlea de afirmar que toda palavra que tem som de zê, tem que ser escrita com zê, mesmo. Mas ninguém me liga.
Não me deixe só. Zenha a mim.

domingo, 25 de julho de 2010

Acre

pura arte
poesia cor
pela lente
de
Sérgio Souto cantador

novas news coletadas da mídia online (diálogo)


personagem 1 (citando Drumond)
- "Um dia desses, eu separo um tempinho e ponho em dia todos os choros que não tenho tido tempo de chorar.."

personagem 2, prestativo, amigo:
- Me avisa q eu vou alimpar suas lagrimas

personagem 1, agradecido:
- Esse é que é o amigo! valeu!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

nuvens baixas


"E foi tão bacana, ouvir o farfalhar das árvores. Tão atraente, foi a anarquia do tempo d’tardinha que nos entregamos à paisagem plúmbea, aos relâmpagos riscando o horizonte lá longe, ao vento moleque zunindo nas esquinas. Aceitamos a bandalha da baixa atmosfera e ficamos pulando feito menino besta, no meio da rua, querendo tocar o céu que estava logo ali. E nos pegamos recitanto exclamações extemporâneas: “éraste, parece São Paulo. Um friozinho! As nuvens cá embaixo. Tá parece São Paulo!"

terça-feira, 20 de julho de 2010

Dia do amigo


"Fiquei encucado...Mas aí ele apareceu...Era o amigo que eu já transava há muitos anos...
Eu falei pra ele da minha vontade de ir no auditório do Chacrinha. Ele falou que a dele era traçar seis chacretes num ano bissexto...
Então eu disse que tinha quinze paus para comprar cigarro, mas tava em falta. Daí, comprei um jornal...
Ele falou que é bom começar outros vícios...
Eu falei que quando a revolução triunfasse, iria passar o resto da vida numa ilha cercada de mulheres por todos os lados...
Ele riu.

Aí, a música parou de tocar.
Nos olhamos
nos sorrimos
nos beijamos um beijo de irmãos
nos demos as mãos
E subimos a avenida iluminada
No caminho, tomamos um guaraná garoto
pra distrair

segunda-feira, 19 de julho de 2010

simetria

(foto de José Miguel Alves)


Em mundos distantes
Descubro o riso
Rompendo barreiras
Travando batalhas
Vivendo da sorte

Invento o futuro
E fujo de mim
Tentando a solução

Busco em cada alma
A calma que chama
Com a palma da mão
O teu coração
Pela pobre carência
Da minha demência
Pelo triste final
Com gosto de sal
Que mais que rima
É fatalismo
É o pé em descaminho
Meio morto
Meio torto
Que tem o fim
No fim do abismo

sábado, 17 de julho de 2010

Capa



Um belo trabalho do amigo desenhista e cartunista Iran Leal
para o meu conto "A Filha do Holandês"

Esta foto foi tirada em um afloramento na BR 316. Mostra uma rocha dobrada. É uma demonstração contundente, das forças que atuam no interior da Terra.


Uma bela foto
A energia refinada
Objetiva
Da natureza
Um traçado ondulado
De eixo elegantemente horizontal
Com ligeiro e sensual caimento
Flancos suaves
Deslizantes
Sem direção preferencial
Mas achável
Tateável
Oportunamente dúctil
Moldável aos esforços
Compressivos
Indizíveis
Impossíveis
Desejáveis, ao menos
Expostos à superfície
Iluminados pelo sol
Do Equador
Essência da natureza mais bela
Se mostra
Delicada
Delineada
Silente
Presente em boas
E belas imagens
Tô falando da Roberta,
aí no canto esquerdo da foto,
é claro

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Eu adoro comer verbos


Adoro. Não posso passar por uma banca de esquina que já me assanho e vou logo pegando uns intransitivos regulares, uns subjuntivos derivados, uns empanados verbos de ligação. Traço todos. Não precisa que sejam do presente do indicativo, é necessário apenas que indiquem um pretérito de bons modos temporais.
Importa, também, que se apresentem perfeitos, observo, mas por causa de algumas sintaxes calóricas, e por umas objetivas e diretas dicas do meu médico, hoje dou preferência aos mais facilmente defectíveis. Com enorme prazer estimulo a minha palatização, provoco revoadas linguodentais, realço a minha vocalização: huuummm! Hummmmm! E vou exercitando os meus mecanismos articulatórios, desarticulando em análises sensoriais os sabores dos radicais greco-romanos, franceses, saxões... tupi que seja; separando pro finzinho a vogal temática, nasalizando, percebendo as ambigüidades e por fim, me aquietando a espera de uma digestão tranqüila das desinências número-pessoais.
Se eu estiver com pressa, dispenso complementos. Mas se a conjugação estiver harmonicamente composta por um tempo de paz e por um presente do subjuntivo que permita que eu sente e que eu coma sossegadamente, procuro o conforto de um bom restaurante, a companhia de uma pessoa de singulares adjetivos e a luz confidente de uma vela ligeiramente oblíqua aos sujeitos.
Nestes momentos, uma boa música cai bem como aperitivo. Olhos nos olhos, mãos sobrepostas e afagos discretos somam-se como partes do discurso, agitam o meu íntimo infinitivo e impõem irrestritas locuções prepositivas acerca do verbo amar.
E é por isso que adoro comer verbos. Por causa das flexões possessivas: ‘nem sempre provocam a tua ação, e em hipótese nenhuma, imediatamente, atiçam a minha reação diante de um inominável adeus (o metabolismo da transitividade que transforma a tua ausência em minha solidão se dá ao longo de um tempo indefinido)’; os verbos me atraem ainda, por causa das digressões sensitivas do ser e do estar e também, das apreciações relativas dos fenômenos da natureza como daquele enluarado anoitecer que faz chover saudades em mim.
Não acho, no entanto, que sou um especialista. Não conheço todos os sabores. Sou um apreciador proclítico. Sou um pronome ali no início, suscetível aos destemperos de concordância, de conotação ou de significação mesmo. Desconheço completamente o gosto de uma mesóclise e me acanho diante de uma fulgurante construção em ênclise. Acho que por puro preconceito. Sei lá, acho que são petiscos degustados somente pelo alto clero. Não se vêem essas coisas nas esquinas da língua.
Alguns sabores me são distantes. Não sei dos segredos que compõem a receita de um ‘se tu vires’ condicional ou de um ‘para tu comeres’ impessoal. Mas adoro comer verbos. Apesar de alguns deles se dispersarem em receitas refinadas e exigirem articulações condoreiras, altas, muito altas...Altaneiras.
Mas se estiverem na base das frases, traço todos. Apesar de alguns fermentarem em meio a condimentos ocultos e depois sumirem no mundo, vaporizados pelos indecisos índices de indeterminação do sujeito. Quando me vejo nesta peleja, apelo para a minha partícula apassivadora e acabo me contentando com uns predicativos do objeto simpáticos ou com uns advérbios de intensidade legaizinhos.
Alguns verbos são amargos. Entram atravessados, dissonantes. Não são fáceis de engolir. Exibem-se em pratos frios como ‘morrer’, ‘sofrer’, ‘perder’.
Outros são doces, nos enchem de esperanças e nos estimulam a resistir, a amar, a cantar, a amar, a viver e a sorrir.
Eu adoro comer verbos.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O mar


O mar
Te leva
E traz

Me faz
Amar
E não
Faz

O mar
Te leva
E traz
Esta má
Impressão

O mar
O ir
E vir
Do mar
Te leva
E traz
A má
Impressão

De não

De nada
Ser Possível

quarta-feira, 7 de julho de 2010

verão amazônico


Uma belezura a Estrela Dalva dominando o cenário após o pôr-do-sol. Pode reparar, ali pros lados da baía, logo de noitinha. É o planeta Vênus luzindo no céu, solene, imponente, soberano. E se a gente olhar bem direitinho, vai ver Vênus mergulhando no horizonte protegida pelos irmãos mitológicos Castor e Pollux, as simétricas estrelas da constelação de Gêmeos...
São muitos os encantos do nosso verão amazônico

sábado, 3 de julho de 2010

Espelho


O brilho
Nos olhos de quem ama
É um lampejo
É uma chama
Que arrisca incendiar
Tudo em volta

Reluzente olhar
Indiscreto
Que se denuncia
Que se entrega
Risonho
Que explode feliz
De tanto que ama

Íris em festa
Tradução multicor
Da terna
Melodia
Que vem do coração

Céu nos olhos
É amor
Lua linda
Mar revolto
Flor nos olhos
É amor

Campos verdes
Óbvios encantos
Cândida insanidade
Nos olhos
É amor

O brilho
Nos olhos
De quem ama
É grito
Destemido
Diante do espelho
De mil imagens
Que pode até
Embaçar

Mas e daí
Se o bom
Do amor
É o risco
De Incendiar
Tudo em volta?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Íntimos (para o poeta Ribamar Araújo)

Eis a dor
De mim
Que és

E te vais

Mira a fenda
Anistiada
Do ventre
D’onde vieste

Fica comigo

És a minha
Aurora
Água fogo

No primeiro
Dia
Sempre existimos
Terra ar

Juntos
Juntos

Desde
Antes
De
Nós