quinta-feira, 31 de março de 2011

contra o preconceito (crônica remix)


Alma não tem cor (ou Axé, vovozinho do Triássico)
Neste ano tenho me batido com algumas provações. Meus ‘amigos se foram com pálidos sonhos e restos de amor’, a economia mundial submergiu às profundezas abissais das incertezas, meu computador bugueou umas quantas e dramáticas vezes, cortaram a minha água, minha pressão subiu, minhas esperanças declinaram...Vai-te! Tenho encarado umas pegadas que têm me dado uma canseira! Coisa pra Jonas, sabe aquele da baleia? Minha paciência, que por vezes me abandona (mas, graças ao bom pai sempre volta) tem sido o meu bastião de integridade. E haja paciência.
No meio deste turbilhão, me veio não sei de onde, a tranqüilidade para dar uma parada, para dar uma avaliada na vida. Fazer uma reflexão mais ou menos como fez aquele personagem do Vargas Llosa em Conversa na Catedral. Quis localizar no tempo, uma causa para estes reveses inesperados, superáveis, diga-se, mas complicadinhos de se varar, reconheço.
Aí vem logo aquela coisa, né, da personalidade. ‘Colhemos aquilo que semeamos’. Apresentam-se vaticínios e conformismo. Mas sou racional. Faço estas introspecções sempre com um olho no peixe e outro no gato. Prego uma realidade rés-ao-chão, sem muito floreado.
E eis que me vi como um sujeito normal. Moldado por incontáveis defeitos, umas raras qualidades, atento à boa vontade, crente nos princípios que consideram sempre a urgência e a onipresença dos conceitos de justiça e lealdade.
Valeu a varredura na alma porque descobri que, das coisas que de mim se aproveitam, o assentimento às diversidades se apresenta como um dos meus maiores créditos. Não tenho preconceito de io ou de chio. Principalmente de cor. Não tenho nada contra os brancos.
Mesmo porque além desta fachada que exibimos como um pacote composto de umas células algo versáteis, muita água e um sorriso cálcico, acho que nós, os seres humanos, nos adiantamos um pouquinho. Vamos à alma. E ‘alma não tem cor’.
Por outro lado, sei que muitos pensam que este pacote orgânico pode alterar as relações e admitem a superioridade de um indivíduo sobre o outro por causa da cor da pele. Lembro que somos ramos da mesma cepa.
Formamos uma comunidade de mamíferos que se caracteriza pela desenvoltura bipedal, pela presença do tele-encéfalo desenvolvido e pela sagacidade motora do polegar opositor. Mas somos, no frigir dos ovos, mamíferos. Ricos, pobres. Pretos, brancos. Mulheres, homens...Somos todos descendentes da ‘ânsia da vida por si mesma’ (eita frasezinha que me persegue, esta do Gibran, tão atual, tão profunda...Evolucionista...). Este sapiens que conhecemos, que inventou tudo o que tem de bom neste mundo, temperado pela alma (e pelo polegar opositor, observo), refinado pelo sopro da sabedoria, não é nada mais que uma variação temporal de um bichinho que lá na mais remota história da Terra, venceu o poderio desmedido dos dinossauros e se firmou como uma espécie extraordinariamente capaz de sobreviver e de gerar primos engalanados e metidões como nosostros. Somos um produto elaborado de um ratinho chamado Morganucodon, um nome pomposo, como requer a taxonomia, mas que aqui entre nós pode ser chamado simplesmente de ‘o ratinho do Triássico’, numa educada alusão a sua longevidade.
De lá, do alvorecer da vida, herdamos esta indispensável capacidade de lutar por cada dia, apesar das agressões naturais, dos répteis modernos, das provações (dessas que a gente experimenta num ano bissexto), do preconceito e da brutalidade de Domingos Jorge Velho. E ganhamos também, mais tarde, a confortante certeza elaborada pelo tele-encéfalo de que a alma não tem cor.
Axé.

coisas que a laila faz

"Se a minha maquiagem é pesada, se meu jeito quieto é sem graça, se a minha voz é chata, se o meu perfume é forte demais pro teu cotidiano ou nem sequer sou para ser mostrada em público, é porque eu não sou pra ti. De fato!"
(Laila Costa)

Juraci Siqueira

Vem! Senta aqui na minha ilharga e vamos que vamos!
O poeta remando nas águas do Cajari - janeiro de 2011

“A Vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6a feira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre, sempre em frente...
( Mário Quintana
Poema: Seiscentos e Sessenta e Seis
do livro Nariz de Vidro)

lançamento de “Marés – poemas de argila e sol”


Serviço:

O encontro acontecerá no dia primeiro de abril, 
na sede da Academia Paraense de Letras, 
Rua João Diogo, 235, entre a Praça da Bandeira e a rua 16 de Novembro, 
a partir das 18 horas.





terça-feira, 29 de março de 2011

sexta-feira, 25 de março de 2011

Crônica da semana

Bilhetinho
Arte de Iran Leal

Eu ia até fazer a conta, aí gelei quando, de novo, pensei naquelas torturantes combinações matemáticas. Mas olha só, quase que dá certo. Não é hoje, não (já pensou se caísse benzinho num sábado? Éraste, ia ser muito paid’égua!). Mas amanhã...dia 27 de março é justinho o dia que inteiro 5 anos escrevendo aqui na coluna. Bodas de madeira.
Tudo o que o escritor quer lá no seu íntimo, lá no fundo, nas suas mais recônditas aspirações, é ser lido. E este espaço me dá esta chance. Proporciona a mim, há cinco anos, deixar este bilhetinho semanal na porta do coração das pessoas.
E pensando assim, não posso deixar de prestar a minha reverência aos meus dedicados e generosos leitores.
Não sou nenhum Paulo Coelho, mas sei que tenho uns quantos leitores. E em várias paragens também. Gostaria de destacar três pessoas que me acompanham durante esse tempo, para, em nome delas, afagar a todos os amigos que me dão cartaz, me toleram e me dedicam uma parte preciosa de sua atenção.
Uma delas é a Lorena (e ela vai ficar surpresa, quando vir seu nome aqui). Esta pequena, que agora é advogada formada, tem um peso legal na minha história de colunista. Foi dela, o primeiro e-mail que recebi. E o bacana é que ela é uma garota jovem, da atualidade, antenada com a modernidade e se identificou com um texto, aparentemente anacrônico (falava do Durval, personagem de um filme que trazia no enredo o apego aos discos em vinil, ou seja, algo sem dúvida, da antiga). Mas a Lorena mandou bem. Sacou minhas intenções, disse coisas legais, respeitosas. Encheu a minha bola e deu um empurrãozão para que eu continuasse escrevendo (peguei corda achando que eu era aquilo tudo que ela falou), e acabou virando um símbolo deste meu lustro de cronista.
D. Walda e Seu Fernando são nomes merecedores da minha mais apurada estima. É verdade, são os pais da minha comadre Valéria Nascimento e, por certo, conheceram meu trabalho por causa dessa relação. Mas daí, fazer o que fazem quando me encontram! Pra falar a verdade, nem sou digno. No Círio do ano passado, fui visitá-los. E Seu Fernando, condimentando seu discurso com alucinantes terrinas de pato no tucupi e maniçoba, revelou que o que escrevo faz parte do sábado deles (menos, e isso ele deixou bem claro, quando escrevo sobre o bicola. Tirando essa parte...). São meus leitores fiéis. E não é por causa da minha comadre, não. Ganharam o hábito de comprar o jornal. Integram-se ao texto. Discutem. Interagem (têm guardada uma crônica que escrevi sobre os pontos cardeais em Belém. Quando precisam se orientar, correm e vão pegar o jornal). Que bacana: o norte está perfeitamente determinado nas nossas vidas. Sou enormemente grato ao seu Fernando e à D. Walda por não perderem a chance de fazer com que eu me sinta um escritor de verdade.
Ser lido é a felicidade do escritor. As pessoas que citei foram abstraídas de um universo de muito brilho para representar as, não sei quantas, estrelas do meu céu. Aos meus leitores queridos, meus agradecimentos pela companhia.
Não posso esquecer dos culpados d’eu ter começado aqui: os jornalistas Edson Coelho e Edir Gaya; e os renitentes que fazem o caderno Magazine hoje, que me permitem ainda, me aturam e me salvam de quando em vez (olha, procuro não errar. Tenho o Ernani Terra sempre ao lado, para me prover da gramática, da sintaxe e do estilo, mas quando dou uma ratada, o auxílio luxuoso do pessoal da redação vem bem). Meus filhos também ajudam quando liberam o computador porque “hoje é dia do papai escrever”. Nesses cinco anos, saibam, sinto a respiração de todos vós... Aí, respiro também.

Vermes

“Meu senhor (...) 
nós não sabemos absolutamente nada dos textos que roemos, 
nem escolhemos o que roemos, 
nem amamos ou detestamos o que roemos; 
nós roemos.” 
(confissão meio despeitada de um verme gordo criado pelo Machado de Assis)

quarta-feira, 23 de março de 2011

Saudade da água

Toda escola tem (antes tinha, não sei hoje) um hino (“nossa escola, Jarbas Passarinho que educa com orgulho e prazer/ vem agora cantar com carinho laraiá, laraiá, laraiá...”). Um clube de futebol tem (embora às vezes constituam mais um preciosismo cromático: “uma listra branca/outra listra azul...”; “atletas azulinos somos nós...”). As nações têm um hino (mesmo que os dizeres sejam abstrações inalcançáveis e o sujeito da oração, irreconhecível: “ouviram do Ipiranga as margens plácidas/de um povo heróico, o brado retumbante”).
Acho que o planeta também deveria ter um hino. Vou lançar aqui, o meu preferido. Proponho a canção “Planeta água” de Guilherme Arantes para representar os sentimentos de nosostros, seres de Gaia.
A música apareceu em 1981, e de lá pra cá arrebatou apaixonados fãs. Não foi a vencedora do Festival Shell daquele ano, ficou em segundo lugar. Mas para mim resiste como imperiosa mensagem ao longo do tempo.
É uma bela canção, meio hino ecológico, meio paixão desbragada; meio idílio árcade, meio contrato racionalista; meio excitação, meio embotamento; meio espera, meio solidão.
Tá bom, estou sendo passional. Tem a coisa do contexto. Tudo bem. Naquele ano, eu assisti àquela final apurpurinada, acompanhado de pessoas brilhantes sem as quais não vivo e nem viverei, como o meu padrinho Altair Rocha, ou o, hoje reverendo, Acir Conceição e com as aulas do Cláudio Barradas fervilhando incessantemente no meu cocuruto e aí, cabe a explicação da sugestão, do convencimento. Pode ser. Mas, talvez, nem tanto. Sei lá.
Naqueles tempos, nos postávamos diante da televisão com uma cartilha draconianamente revolucionária e os festivais funcionavam como válvula de escape. Deveriam traduzir inquietações. Quanto mais conflito, melhor.
Mas o mundo já estava mudando. Outros conceitos, que não entendíamos muito bem, instauravam-se. O próprio Walter Franco, que dois anos antes, agredira a hipocrisia formal e se desnudara em ‘uma dor canalha’, dessa vez, nos surpreendia com a intenção de ‘manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”.
‘Planeta água’ dali em diante, me serviu para um tudo. Eu estudava na Escola Técnica. No curso, havia umas cadeiras de Geologia, de Topografia, de Mineralogia. De modos que, para todos os trabalhos de escola a mim requeridos, eu fazia questão de incluir os versos do Guilherme Arantes. Embora a letra da canção atente mais para as influências da água nas nossas vidas, não escapa de ser um traçado evolutivo, de sobrevivência, incorporando indiretamente, todos os elementos da formação e manutenção dos sistemas que fazem a Terra girar sem parar. 
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://futurodaagua.atarde.com.br
Na época, o que chamava a atenção também, além dos versos compenetrados, era aquela melodia. Algo de dramático havia no arranjo musical. Acho que o Guilherme Arantes teve um insight, uma iluminação naqueles dias e anteviu as dificuldades que teríamos em tratar com o precioso líquido. Daí, a melodia ser um tanto triste  e ter um quê de saudade, de nostalgia, de vontade de estar perto.
Em Belém, a água das torneiras contradiz a formalidade conceitual: tem cheiro (algo parecido com cocô de galinha), tem gosto (indegustável, por sinal) e tem cor (amarelo-vergonha). E, ainda por cima, nos falta. Inconformidades que nos alertam para o tom dramático dos riscos que envolvem nosso planeta (que tem 2/3 da superfície ocupados por água).
Baixei um vídeo com “Planeta água”, depois daqueles dois dias de aridez em Belém. Todo dia assisto a um pedacinho para me purgar e para me inspirar um jeito que dê jeito neste mundo de contradições e saudades singularmente absurdas.

terça-feira, 22 de março de 2011

Hidrosfera

"Eu tenho mais que Entender o que é a água 
A água da torneira 
Da chuva Da poça da esquina Do riozinho Do oceano A água benta A água ouro Prata e platina 
A água que Corre dos olhos tristes...

sexta-feira, 18 de março de 2011

crônica da semana

Saco de dinheiro
Tá rolando pela internet um e-mail prevendo tais e quetais para o mês de julho, dizque porque neste ano, o mês vai comportar 5 sextas-feiras, 5 sábados e 5 domingos. Conta lá o texto que este é um evento extraordinário possível somente a cada 800 nos e traz presságios alvissareiros, mais especificamente, a possibilidade d’a gente encher o bolso de grana. Tem até um afortunado nome em inglês, este weekend adicional. É chamado de money bag, expressão que assim, numa livre tradução, poderia ser entendida como ‘um montão de dinheiro’. Oba!
Desconfio dessas coisas, até porque são proposições com enormes dificuldades de sustentação. Primeiro têm que se acertar quanto ao mês. Na primeira leva de mensagens, outubro era mês da vez. Acho que deram uma olhada na folhinha do ano e corrigiram para julho (porque em outubro rola outra seqüência). Depois têm que explicar melhor essa história dos dias da semana. Se um mês como julho, vem cheio de sextas-feiras e esta peculiaridade chama dinheiro, qual a perspectiva para agosto que nos brinda com 5 segundas-feiras? Ais e uis, como diz o Edgar Augusto? Engovs e arrependimentos encarreirados? Convenhamos, 5 alvíssaras segundas-feiras, isso sim, é que seria uma perspectiva extraordinária.
Por último: não me dei o trabalho de pesquisar (logo me veio à cabeça aquelas fórmulas apavorantes de fatoriais, de análises combinatórias, de exponenciais dificílimas na minha cabeça e desisti), mas fiquei meio aquele com este espaço de 800 anos. Se alguém se habilitar para checar essa recorrência, depois me informe do resultado, tá. Eu tô fora. Vou me abster das contas.
Tirei, então, uma conclusão para este fato inusitado que marca o mês de julho com 5 semanas. Sabe o que isso significa? Nada. Absolutamente nada (aliás, para quem gosta de entortar na sexta, significa um plus, uma chance para mais uma saideira. E só). Coisas da internet. Daqui a pouco aparece aquele outro engraçadinho anunciando que o planeta Marte vai aparecer no céu do tamanho da lua. Ali, pau-a-pau em brilho e envergadura com o nosso satélite. Essa é velha, Todo ano desponta no horizonte virtual. Pra gente ficar vacinado, li nas efemérides do astrônomo Marcos Calil que Marte, agora em março, sequer aparece no céu. Dorme o sono diurno nos braços do astro-rei. Então, não vem que não tem. Planetão no céu, talvez só lá pra julho e isso, só depois de muitas e muitas saideiras (sabe, né, por causa dos tais e quetais de tantos finais de semana).
Os dias, as noites, o ano sideral, as estações, são acontecimentos astronômicos. O encaixe dos dias da semana dentro dos meses tem uma relação íntima com as fases da lua (E a Igreja, sabendo disso tratou de ajeitar o domingo de Páscoa na primeira lua cheia que vem depois do equinócio). Somos atrelados temporalmente aos movimentos da terra em torno de si e em torno do sol. Calendários são artifícios para classificar e ordenar o tempo, mas servem também para criar o misticismo, como no caso das sextas-feiras enfieiradas, e também, para ilustrar o poder e as vaidades humanas (no calendário ocidental temos duas homenagens meio que forçadas aos imperadores romanos e a mão decisiva do Papa Gregório XIII).
Uma boa grana não vem assim, por uma coincidência da folhinha. Por isso, vou continuar acordando cedo pra batalhar o pão de cada dia. Agora, quanto ao equinócio, sim, este é de vera e fascinante. Ocorre amanhã às 20:20h e vem influenciando o espetáculo das marés mais altas do ano. Este ano vou assistir à subida das águas, estrategicamente posicionado, ali, nos arredores da ponte do Galo.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Navegar é Preciso

Uma aventura inconseqüente. Esta é a primeira impressão que temos ao nos depararmos com os relatos de Amyr KlinK sobre a sua louca travessia do Atlântico.
Mas valeu a pena?
E o navegador introduz a sua saga com os versos de Fernando Pessoa na edição do livro  Cem dias entre o céu e o mar (Companhia de bolso, 2005): “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Em 10 de julho de 1984 um brasileiro incompreendido zarpava sozinho do litoral africano em direção à costa brasileira, pilotando um pequeno barco a remo.
Os momentos dessa viagem, mesmo aquelas coincidências que se anteciparam a partida, até os pormenores operacionais em meio à grandiosa massa de água atlântica são descritos com muita propriedade e concisão no livro, pelo navegador solitário.
O suspense, a emoção, o vislumbre de um mundo de água, para nós distante. Os fenômenos naturais anticiclônicos do Atlântico sul, a explicação para a descoberta (sem muito esforço, vá lá), do Brasil; a história regada pelo cientificismo náutico inaugurado pelos portugueses, são ingredientes que atraem e nos prendem a atenção numa leitura prazerosa. Nos levam sem medos ao mar sem fim de Diogo Cão e Fernando Pessoa.  
Enfim, quando aportou na praia da Espera, litoral baiano, Amyr havia cumprido uma aventura impensada por qualquer um de nós pobres mortais. Havia desafiado a solidão e encontrado motivos dos mais simples, no meio do mar, para perseverar.
Os relatos de Amyr, além de esclarecedores sobre a dinâmica das rotas oceânicas são uma vitamina para a alma. São aditivos para superar as nossas fraquezas tão rotineiras. Afinal de contas no nosso dia-a-dia não nos deparamos ocasionalmente com nenhuma baleia de 20 metros ou com uma vuca de tubarões nada amistosos. No nosso vaivém diário não nos vemos emborcados por uma onda salgada de 8 metros. Amyr tirou de letra estas situações acreditando em si mesmo, em seus estudos e em sua capacidade. Mas acima de tudo na sua sanidade física e mental. Puro e legítimo controle de si. Isso o livro nos ensina.
Já encostando na praia de Salvador Amyr foi abordado por um barco de pescadores. Perguntaram como foi a pescaria. Ele disse que não havia pescado nada. E de onde vinha? completaram os pescadores. Da África, respondeu Amyr. E esta praia é muito longe? Inquietaram-se os homens do mar. Um pouquinho. Um pouquinho longe, devolveu Amyr, com incontida alegria por avistar ao largo, os primeiros coqueiros em terra firme.
Cem dias entre o céu e o mar é uma odisséia moderna cheia de surpresas e perigos suportáveis apenas por heróis. Amyr cruzou da África para o Brasil num pequeno barco utilizando as correntes de deriva, muita técnica, mas acima de tudo valendo-se da fé num credo antigo que reza que ‘navegar é preciso’.
(E por falar nisso, vou aqui deixar uma pulga a incomodar as orelhas mais curiosas: a frase “navegar é preciso...” é creditada, pelos mais novos ou mesmo por aqueles tropicalistas de fim-de-semana-na-casa-do-tio-ouvindo-aqueles-discos-antigos ao baiano Caetano Veloso, por causa, é claro, da canção ‘Os argonautas’. Já os mais zelosos reconhecem a frase como um raio humanista deflagrado pelo eletrizado espírito poético de Fernando Pessoa. Só que, lendo aqui e ali, pesquisando acolá, dei com uma origem um tanto Antiga para esta frase tão atual. Diz-se que ela vem lá de Roma. Foi proferida pelo general Pompeu em uma de suas batalhas pela pax no império. Eu fico com o Fernando Pessoa porque sou poeta-parcial, mas enfim, se ‘navegar é preciso’ e ‘viver não é preciso’, a pulga incomoda).

segunda-feira, 14 de março de 2011

As poetas paraenses

Um homem
Tocava sax na praia
Entre sóis e mais
Do mar
O homem era um ponto brilhante
Do homem
O mar era um gigante
Por cerveja
O homem tocava o sax
Por desespero
O sax tocava o homem
Por nada
O mar tocava os dois
                                           (Heliana Barriga)


a minha timidez
pediu silêncio para a vizinhança

ainda não aprendi a ser como a chuva...
                                                                  (Roseli Sousa)



devoro a asa / em voos
viajo

volto um dia / enterro o medo de partir

daqui não volto mais / invólucro-pedra

atirar-me ao abismo / ao eco
ao aço das paredes / ao abraço de minhas asas

retirar-me dos lugares / entre raízes / ser como as folhas

um dia sem a mesma sensação / dei-me à esmo pelos caminhos mortos
fiz a ponte / fiz da primeira pedra / atirar-se do rio como suicida
atirar-se bem longe / sem mira / para poder ter / o domínio das mãos
tirar de perto a origem / a miragem do moinho
a moer grãos / de um passado liquefeito


nunca mais / viver de passagens
viver de miragens do mundo / viver de grãos

nunca mais
                                               (josette lassance)


Há muito que aqui no meu peito
Murmuram saudades azuis do teu céu
Respingos de ausência me acordam
Luando telhados que a chuva cantou
O que é que tens feito
Que estás tão faceira
Mais jovem que os jovens irmãos que deixei
Mais sábia que toda a ciência da terra
Mais terra, mais dona do amor que te dei

Onde anda meu povo, meu rio, meu peixe
Meu sol, minha rêde, meu tamba-tajá
A sesta o sossego da tarde descalça
O sono suado do amor que se dá
E o orvalho invisível na flôr se embrulhando
Com medo das asas do galo cantando
Um novo dia vai anunciando
Cantando e varando silêncios de lar

Me abraça apertado, que eu venho chegando
Sem sol e sem lua, sem rima e sem mar
Coberta de neve, lavada no pranto
Dos ventos que engolem cidades no ar
Procuro o meu barco de vela azulada
Que foi de panada sumindo sem dó
Procuro a lembrança da infância na grama
Dos campos tranquilos do meu Marajó

Belém minha terra, minha casa, meu chão
Meu sol de janeiro a janeiro a suar
Me beija, me abraça que quero matar
A doída saudade que quer me acabar
Sem círio da virgem, sem cheiro cheiroso
Sem a "chuva das duas " que não pode faltar
Cochilo saudades na noite abanando
Teu leque de estrelas, Belém do Pará!
                                                         (Adalcinda Camarão)




Se por um acaso me quiseres, te aviso logo: Sou só mais uma dessas mulheres, que não dizem nada...
                                   (Laila Costa)



Além.da.casca.da.casa.dos.palcos.que.brincas.ser.
teus.olhos.têm.mais.por.saber.
Além.da.beleza.espontânea.que.te.deixou.o.vento.
Além.do.teu.gosto.moreno.e.do.sorriso.honesto.
Além.das.tuas.formas.de.areia.do.teu.cheiro.de.mata.
Além.dos.cabelos.de.mola.e.cor.de.madeira.

Além-mar...

Dentre tanto de ti,
são.teus.olhos.brilhantes.que.de.ti.sobre.ti.por.ti.me.revelam-se.em.ti.

Além-mar...

Além.desses.rios.que.parecem.mar.
são.eles.que.vejo.em.teu.olhar.e.a.eles.me.levas.tu

Deixa?

Deixa.nesse.mar.de.rio.eu.mergulhar ?
deixa.me.neles.e.por.eles.em.ti.adentrar?

(Briella daMata)



Noites dessas..
Morri!
Num buraco cavado em vértice
Numa pirâmide  inversa
Via-Me decomposta..
Ossos
Órgãos
Vísceras
Compostos em mandala

Via-Me paisagem púrpura..
Oferenda de Mim

Num poço oco
Num fosso de entranhas
Sentia-me Náufrago
Sôfrego
Submerso..

Quando
Num lampejo de sobrevivência
Solto o fio da inconsciência
E o que vento  surge
Tragando-me de volta à realidade
No tempo da luz!

                      
(wanda monteiro)


domingo, 13 de março de 2011

Salve o poeta

São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo,no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!
                            (Castro Alves)


Meus mares...
Infinitos ares,
Onde os maremotos
Ocorrem em profusão.

Mata, assusta e sai
Semente de dor,
Que brotam flores,
Em campos de horror...

Onde me debato,
Batendo a esmo
Nesse cruzar o barato
Dos meus eus...

Nesse arrastão de terras,
De ribeiras caídas,
A pororoca em festa
Destrói e constrói meu ser
                            (Rui do carmo)



 Quando a idéia não é tua
Nem tão minha
menos mal
Vira idéia iluminada
Vira coisa canibal
Vira quadro na parede
Fome emoldurada
Outra sede surreal
Vira santa ceia
Réstia de breu
Que se ateia
Vira fo go e clareia
Sol deserto
mar à vista
Aviao que o ar tira da pista
Vira nau de água
Fina estampa escafandrista
Vira
imagem concretista
Visagem
Na idéia de miragem
Nossa lente retratista
                                (Renato Gusmão)



O poeta trata com as palavras
Com a sutileza das concordâncias
Com o charme das discordâncias
Com pontos e vírgulas
E nem tanto pontos
E nem tanto vírgulas

Com os acentos diferenciais
E a crítica aos acentos diferenciais

Com o verbo
Com o nome e o pronome
Com o ser e o estar
Com o ir e vir semântico

O poeta canta a língua elaborada
Cercada de dons transcendentais
Etílicos, estilísticos, áureos

O poeta,
Arquiteto da palavra
Recriador de nuances
De devaneios, de angústias
De gozos, de sofrimentos

O poeta empresta predicados
A sujeitos ocultos
Mas o poeta
Não deve
Se ocultar
                           (Raimundo Sodré)



Tem um cãozinho
Uivando no meu peito
Que tristura, que pecado
Um bichinho tão delicado
Sofrendo deste jeito
de onde vem este lamento
De onde brota este ganido?
A solidão é grande dor
É um latido sem som
Que vai comendo por dentro...
                                 (Sérgio Quintian)




Dos grandes aos mais singelos,
os poetas, em verdade,
são os verdadeiros elos
entre o sonho e a realidade!

Canta, poeta! O teu canto,
alvissareiro e fecundo,
é uma canção de acalanto
ninando as mágoas do mundo!

Canta, Poeta! Não cala,
que teu canto pertinaz
é fonte de luz que fala
de esperança, amor e paz!
                      (Antônio Juraci Siqueira) 


... seio rijo
voz de sal
desejo cru
ou sorvete de marfim
Toma! Experimenta!
A rédea da palavra tem dorso de ninfeta
Dela faz teu esculacho
Toma a palavra
toma-lhe a bênção
lambe-lhe o beiço
reza-lhe um terço
Pragueja
e purifica as palavras animadas e inocentes
Toma a palavra!
Dá-lhe palmadas
manifesta a vontade musical
Suga da palavra o leite fértil da metáfora
Suga, ferve, jorra e planta
porque dela brota o alimento dos viventes 
o sonho
o sonho
o sonho
Eu ofereço a palavra!
                                                 (Edvandro Pessoato)


Não valem versos
tem que sangrar a voz
arrumar a casa
estar atento ao corpo
falar como uma árvore
Extrair o grito da pedra
arranhar o musgo

É este o trabalho do poeta
o entusiasmo
é a sua tarefa
                               (Benilton Cruz)






sexta-feira, 11 de março de 2011

crônica da semana


O Galo enfezado
A ponte do Galo, a gente sabe, é famosa ali na confluência da Mauriti com a Senador Lemos. É um lugar emblemático. Fica no meião dos bairros da Pedreira, Telégrafo, Sacramenta, Barreiro... E se encaixa coniventemente, ao inimputável território do Acampamento. E porque é ponte, liga uma margem à outra do igarapé.
Fora esta referência geográfica (locada, retratada e maltratada vez ou outra na mídia), nunca um movimento do Galo me chegou de forma tão espalhafatosa. Sempre foi o igarapezinho discreto que correu por anos e anos, sem muito alarde, e com rigorosa serenidade ao encontro das águas fartas da baía do Guajará, respeitando os territórios amigos.
Mas vou te contar. Do jeito que estava, na sexta-feira, véspera do carnaval, não tinha visto o Galo, ainda. Enervou-se. Saltou do leito confortável e tomou as margens. Invadiu casas, estabelecimentos comerciais, somou-se ao asfalto e às Acácias que sombreiam a Pedro Miranda. Fez e aconteceu. Ali, à entrada da Pedreira, a água estava dando, como diz a galera, no ‘imbigo’.
Acho que se estressou o nosso igarapé. Com razão. Está muito mal cuidado. Em toda extensão, o Galo está totalmente obstruído. Tirando aquelas mal’educações que a gente conhece bem, de lixo, garrafinhas plásticas, sacos do supermercados e afins, o Galo ainda ostenta uma indesejada biodiversidade (sim, porque toda unanimidade, mesmo aquelas ecologicamente sacrossantas, sabemos, é burra) nas ilhargas. Grassa uma floresta, no leito do Galo. Tem árvore deste tamanho elevando-se das margens. Aí não tem combate. Nem é preciso saber da teoria (a mecânica dos fluidos, o fluxo turbulento, o coeficiente de Reynolds) pra saber que quanto mais obstáculos, menor a vazão de escoamento da água. Olha no que deu: água no ‘imbigo’ e muita aporrinhação, na sexta, véspera do carnaval.
Lembro que, lá pelos idos de oitenta e poucos, quando namorava com minha mulher Edna, a região crítica de alagamento ficava ali entre Itororó e Alferes Costa, na dita baixa da Pedreira. Era um sufoco pra ver a minha pequena, mas eu me abalava lá pra Perebebuí.  Confesso que se não fosse o fogo da paixão, não ia não. O trecho era um charco de perder de vista. Titubeava um tantinho, ficava por ali, contando os passos, mas depois me animava. Enrolava a perna da calça, buscava uma beirinha de tabatinga segura, me agarrava aos cercados de casas próximas para ir me equilibrando e me danava por aquele estirão. Quando saía lá do outro lado, o mundo me sorria, porque minha amada estava lá a me esperar. Mas nosso amor tinha sempre que esperar um pouquinho, até que ela, com uma ponta quase insuportável de asco, conseguisse retirar as ‘chamichugas’ que eu ganhava como hóspedes, no tornozelo, durante a travessia. Ah, o amor!
Como disse, naqueles tempos, ali onde hoje é a Aldeia Cabana é que era a agonia. Um eterno alagado. Outros transtornos até que haviam, mas nem de longe se equiparavam ao sofrimento da baixa. Do Galo não se ouvia notícias.
Hoje, graças a um trabalho de responsa feito no traçado do igarapé da Pirajá e entorno, aquela área não alaga mais. O estirão deixou de ser o igapó da baixa para ser a passarela do samba. Pra ver, né. Vontade política, zelo com a grana pública, competência técnica (olha o coeficiente de Reynolds aí, gente!) são ingredientes indispensáveis para se construir cidadania. E vigília, porque se dormir, o mato cresce e obstrui o canal.
Uma pena. O Galo corta a Pedro Miranda logo após a praça Eneida de Moraes. É a porta de entrada para o nosso bairro. Tá enfezado, o bichinho, com tanto descaso. E a água veio dar no ‘imbigo’.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Lira (Laissa Costa)

Poéticas do devaneio infantil é o resultado de pesquisa acadêmica realizada para obtenção do título de bacharelado e licenciatura em Artes Visuais na instituição de ensino Escola Superior Madre Celeste em 2010.
"A idéia nasce da percepção diante da imaginação infantil e de como a criança é capaz de se apropriar dos temas do seu cotidiano"
"O eixo da pesquisa é estabelecido a partir do graffiti urbano"
"Neste sentido, o estudo buscou abordar um duplo e diverso encantamento poético. Entre a criação infantil e a criação urbana"

"Poéticas do devaneio infantil"
A operária em construção

segunda-feira, 7 de março de 2011

Uma homenagem a uma mulher lutadora que partiu pr'além mar 

(Jose Luis Perales)
 
Hoy en mi ventana brilla el sol
Y un corazón se pone triste
Contemplando la ciudad
Porque te vas
Como en cada noche desperté
Pensando en ti
Y en mi reloj todas las horas vi pasar
Porque te vas
Todas las promesas de mi amor se irán contigo
Me olvidarás, me olvidarás
Junto a la estación yo lloraré igual que un niño
Porque te vas, porque te vas
Bajo la penumbra de un farol se dormirán
Todas las cosas que quedaron por decir, se dormirán
Junto a las manillas de un reloj esperarán
Todas las horas que quedaron por vivir, esperarán
Todas las promesas de mi amor se irán contigo
Me olvidarás, me olvidarás
Junto a la estación yo lloraré igual que un niño
Porque te vas, porque te vas

sexta-feira, 4 de março de 2011

Opus dei (O universo no teu corpo)

“As minhas mãos criam anelantes sensações/Declamam desarrazoadas juras
Deflagram intenções
Acariciam despudoradamente a pedra lavrada/Viciam sentidos, as minhas mãos/Na rude missão de te roubar preciosos tesouros/De desonrar futuros/De descobrir teus líquidos caminhos (...) De te ver revelados os segredos/Segredos de mulher...”
Por outro lado, rumos inseguros apontam tuas mãos/Meandros ardilosos/Veredas imprecisas/Nervoso destino/Moreno oceano/ Vagas indóceis/Errático litoral
Traçado por Deus”.
Um dia, do mármore, o artista esculpiu o universo. E nas alturas, além das minhas vontades, de todo o meu poder, de toda a minha cobiça, aceso, porém, aos meus olhos, bem visível aos meus desejos, o segredo de mulher se insinua, se impõe infinito, eterno. Delineado caprichosamente. Ocupando espaços próximos, mas inalcançáveis. Teimo em entender o artista. Ando pelas esquinas oblíquas, estreitas. Espreito. Espio. Corro as mãos sobre a pedra fria.
E minhas mãos....
“...As minhas mãos, ávidas de ti/A tatear um credo silente/Um relevo Indecente/A ler um verso molhado/A desejar um poema orvalhado/Que vinga/Que se aninha escondido/Com graça/Um verso que grassa/generoso/servil/Abundante/Gentil/Das doces maravilhas que explodem de ti.
As minhas mãos 
Entrelaçam-se/acariciam-se ansiosas/Perdem-se e caem resignadas/Nas armadilhas do pecado/As minhas mãos voam/Espraiam-se sobre sedutoras delícias/Entre insuperáveis sabores/Quedam-se ante indescritíveis fontes viscosas/ halos fluidos que brotam como magmas abrasadores
Das artes de Deus.
As minhas mãos/As tuas mãos/Meus temores/Teus encantos/Minhas defesas/Teus avanços/Minhas culpas/O teu canto/Meu regresso/Tua fuga
Teu sorriso/O meu pranto.
As minhas mãos que afagam/Que, desconcertadas/Permitem luxúrias febris /Que acariciam inadvertidamente/A face fria/os olhos azuis/Os seios nus/O riso indecifrável/Distante/Opaco/Da arte de Deus”.

Oh, musa silenciosa que para o meu mal, transforma-se, sem remorsos, em avalanches destruidoras que rompem diques de amor e prazer. Oh, bela maliciosa, que arrasa corações e mentes com sopros mortais de indiferença e desdém. 
Vil divindade
Sereia das profundezas, que nos faz migrar obedientemente do aprazível céu azul para os infernos plúmbeos e sufocantes da paixão. Rosa opulenta cheia de viço e cor que nos vicia de odores despetalados, dispersos, fugidios. Virgem outonal que nos tira os sentidos e nos macula a alma com pensamentos obscenos, 
Com fantasias anárquicas. 
Quero te encontrar e me jogar aos teus pés implorando que me poupes a razão. Cativo, submisso, pedindo teu perdão. Quero te encontrar na minha glória ou na minha maldição. No meu conforto ou na minha solidão. Na minha certeza ou na minha indecisão. 
Importa apenas que estejas. 
Para que teus segredos me sejam possível conhecer. Sei que sou indigno. Que não tenho fortunas ou posses. Sei que tão distante estás: nas alturas da criação. E talvez nem existas. Ou mesmo só existas no vento, na flor, no barro, na pedra
No mármore esculpido.
Quero te encontrar na obstinação de minhas mãos.
E minhas mãos criam, criam...criam...Recriam Anelantes sensações...declamam desarrazoadas juras... 
E eu que sou poeta e que, aqui e ali, finjo sentimentos, diante de ti me desintegro, me reduzo a pontos zerimétricos, insignificantes. Viro poeirinhas de amor que te tocam o rosto, invisíveis, mas doces e verdadeiras.
E me convenço:
“Que estou morto pra esse mundo antigo. Que meu porto, meu destino, meu abrigo são teu corpo amante, amigo em minhas mãos”.