sexta-feira, 4 de março de 2011

Opus dei (O universo no teu corpo)

“As minhas mãos criam anelantes sensações/Declamam desarrazoadas juras
Deflagram intenções
Acariciam despudoradamente a pedra lavrada/Viciam sentidos, as minhas mãos/Na rude missão de te roubar preciosos tesouros/De desonrar futuros/De descobrir teus líquidos caminhos (...) De te ver revelados os segredos/Segredos de mulher...”
Por outro lado, rumos inseguros apontam tuas mãos/Meandros ardilosos/Veredas imprecisas/Nervoso destino/Moreno oceano/ Vagas indóceis/Errático litoral
Traçado por Deus”.
Um dia, do mármore, o artista esculpiu o universo. E nas alturas, além das minhas vontades, de todo o meu poder, de toda a minha cobiça, aceso, porém, aos meus olhos, bem visível aos meus desejos, o segredo de mulher se insinua, se impõe infinito, eterno. Delineado caprichosamente. Ocupando espaços próximos, mas inalcançáveis. Teimo em entender o artista. Ando pelas esquinas oblíquas, estreitas. Espreito. Espio. Corro as mãos sobre a pedra fria.
E minhas mãos....
“...As minhas mãos, ávidas de ti/A tatear um credo silente/Um relevo Indecente/A ler um verso molhado/A desejar um poema orvalhado/Que vinga/Que se aninha escondido/Com graça/Um verso que grassa/generoso/servil/Abundante/Gentil/Das doces maravilhas que explodem de ti.
As minhas mãos 
Entrelaçam-se/acariciam-se ansiosas/Perdem-se e caem resignadas/Nas armadilhas do pecado/As minhas mãos voam/Espraiam-se sobre sedutoras delícias/Entre insuperáveis sabores/Quedam-se ante indescritíveis fontes viscosas/ halos fluidos que brotam como magmas abrasadores
Das artes de Deus.
As minhas mãos/As tuas mãos/Meus temores/Teus encantos/Minhas defesas/Teus avanços/Minhas culpas/O teu canto/Meu regresso/Tua fuga
Teu sorriso/O meu pranto.
As minhas mãos que afagam/Que, desconcertadas/Permitem luxúrias febris /Que acariciam inadvertidamente/A face fria/os olhos azuis/Os seios nus/O riso indecifrável/Distante/Opaco/Da arte de Deus”.

Oh, musa silenciosa que para o meu mal, transforma-se, sem remorsos, em avalanches destruidoras que rompem diques de amor e prazer. Oh, bela maliciosa, que arrasa corações e mentes com sopros mortais de indiferença e desdém. 
Vil divindade
Sereia das profundezas, que nos faz migrar obedientemente do aprazível céu azul para os infernos plúmbeos e sufocantes da paixão. Rosa opulenta cheia de viço e cor que nos vicia de odores despetalados, dispersos, fugidios. Virgem outonal que nos tira os sentidos e nos macula a alma com pensamentos obscenos, 
Com fantasias anárquicas. 
Quero te encontrar e me jogar aos teus pés implorando que me poupes a razão. Cativo, submisso, pedindo teu perdão. Quero te encontrar na minha glória ou na minha maldição. No meu conforto ou na minha solidão. Na minha certeza ou na minha indecisão. 
Importa apenas que estejas. 
Para que teus segredos me sejam possível conhecer. Sei que sou indigno. Que não tenho fortunas ou posses. Sei que tão distante estás: nas alturas da criação. E talvez nem existas. Ou mesmo só existas no vento, na flor, no barro, na pedra
No mármore esculpido.
Quero te encontrar na obstinação de minhas mãos.
E minhas mãos criam, criam...criam...Recriam Anelantes sensações...declamam desarrazoadas juras... 
E eu que sou poeta e que, aqui e ali, finjo sentimentos, diante de ti me desintegro, me reduzo a pontos zerimétricos, insignificantes. Viro poeirinhas de amor que te tocam o rosto, invisíveis, mas doces e verdadeiras.
E me convenço:
“Que estou morto pra esse mundo antigo. Que meu porto, meu destino, meu abrigo são teu corpo amante, amigo em minhas mãos”.

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