domingo, 13 de março de 2011

Salve o poeta

São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo,no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.

Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.

Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.

Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!
                            (Castro Alves)


Meus mares...
Infinitos ares,
Onde os maremotos
Ocorrem em profusão.

Mata, assusta e sai
Semente de dor,
Que brotam flores,
Em campos de horror...

Onde me debato,
Batendo a esmo
Nesse cruzar o barato
Dos meus eus...

Nesse arrastão de terras,
De ribeiras caídas,
A pororoca em festa
Destrói e constrói meu ser
                            (Rui do carmo)



 Quando a idéia não é tua
Nem tão minha
menos mal
Vira idéia iluminada
Vira coisa canibal
Vira quadro na parede
Fome emoldurada
Outra sede surreal
Vira santa ceia
Réstia de breu
Que se ateia
Vira fo go e clareia
Sol deserto
mar à vista
Aviao que o ar tira da pista
Vira nau de água
Fina estampa escafandrista
Vira
imagem concretista
Visagem
Na idéia de miragem
Nossa lente retratista
                                (Renato Gusmão)



O poeta trata com as palavras
Com a sutileza das concordâncias
Com o charme das discordâncias
Com pontos e vírgulas
E nem tanto pontos
E nem tanto vírgulas

Com os acentos diferenciais
E a crítica aos acentos diferenciais

Com o verbo
Com o nome e o pronome
Com o ser e o estar
Com o ir e vir semântico

O poeta canta a língua elaborada
Cercada de dons transcendentais
Etílicos, estilísticos, áureos

O poeta,
Arquiteto da palavra
Recriador de nuances
De devaneios, de angústias
De gozos, de sofrimentos

O poeta empresta predicados
A sujeitos ocultos
Mas o poeta
Não deve
Se ocultar
                           (Raimundo Sodré)



Tem um cãozinho
Uivando no meu peito
Que tristura, que pecado
Um bichinho tão delicado
Sofrendo deste jeito
de onde vem este lamento
De onde brota este ganido?
A solidão é grande dor
É um latido sem som
Que vai comendo por dentro...
                                 (Sérgio Quintian)




Dos grandes aos mais singelos,
os poetas, em verdade,
são os verdadeiros elos
entre o sonho e a realidade!

Canta, poeta! O teu canto,
alvissareiro e fecundo,
é uma canção de acalanto
ninando as mágoas do mundo!

Canta, Poeta! Não cala,
que teu canto pertinaz
é fonte de luz que fala
de esperança, amor e paz!
                      (Antônio Juraci Siqueira) 


... seio rijo
voz de sal
desejo cru
ou sorvete de marfim
Toma! Experimenta!
A rédea da palavra tem dorso de ninfeta
Dela faz teu esculacho
Toma a palavra
toma-lhe a bênção
lambe-lhe o beiço
reza-lhe um terço
Pragueja
e purifica as palavras animadas e inocentes
Toma a palavra!
Dá-lhe palmadas
manifesta a vontade musical
Suga da palavra o leite fértil da metáfora
Suga, ferve, jorra e planta
porque dela brota o alimento dos viventes 
o sonho
o sonho
o sonho
Eu ofereço a palavra!
                                                 (Edvandro Pessoato)


Não valem versos
tem que sangrar a voz
arrumar a casa
estar atento ao corpo
falar como uma árvore
Extrair o grito da pedra
arranhar o musgo

É este o trabalho do poeta
o entusiasmo
é a sua tarefa
                               (Benilton Cruz)






Nenhum comentário:

Postar um comentário