segunda-feira, 14 de março de 2011

As poetas paraenses

Um homem
Tocava sax na praia
Entre sóis e mais
Do mar
O homem era um ponto brilhante
Do homem
O mar era um gigante
Por cerveja
O homem tocava o sax
Por desespero
O sax tocava o homem
Por nada
O mar tocava os dois
                                           (Heliana Barriga)


a minha timidez
pediu silêncio para a vizinhança

ainda não aprendi a ser como a chuva...
                                                                  (Roseli Sousa)



devoro a asa / em voos
viajo

volto um dia / enterro o medo de partir

daqui não volto mais / invólucro-pedra

atirar-me ao abismo / ao eco
ao aço das paredes / ao abraço de minhas asas

retirar-me dos lugares / entre raízes / ser como as folhas

um dia sem a mesma sensação / dei-me à esmo pelos caminhos mortos
fiz a ponte / fiz da primeira pedra / atirar-se do rio como suicida
atirar-se bem longe / sem mira / para poder ter / o domínio das mãos
tirar de perto a origem / a miragem do moinho
a moer grãos / de um passado liquefeito


nunca mais / viver de passagens
viver de miragens do mundo / viver de grãos

nunca mais
                                               (josette lassance)


Há muito que aqui no meu peito
Murmuram saudades azuis do teu céu
Respingos de ausência me acordam
Luando telhados que a chuva cantou
O que é que tens feito
Que estás tão faceira
Mais jovem que os jovens irmãos que deixei
Mais sábia que toda a ciência da terra
Mais terra, mais dona do amor que te dei

Onde anda meu povo, meu rio, meu peixe
Meu sol, minha rêde, meu tamba-tajá
A sesta o sossego da tarde descalça
O sono suado do amor que se dá
E o orvalho invisível na flôr se embrulhando
Com medo das asas do galo cantando
Um novo dia vai anunciando
Cantando e varando silêncios de lar

Me abraça apertado, que eu venho chegando
Sem sol e sem lua, sem rima e sem mar
Coberta de neve, lavada no pranto
Dos ventos que engolem cidades no ar
Procuro o meu barco de vela azulada
Que foi de panada sumindo sem dó
Procuro a lembrança da infância na grama
Dos campos tranquilos do meu Marajó

Belém minha terra, minha casa, meu chão
Meu sol de janeiro a janeiro a suar
Me beija, me abraça que quero matar
A doída saudade que quer me acabar
Sem círio da virgem, sem cheiro cheiroso
Sem a "chuva das duas " que não pode faltar
Cochilo saudades na noite abanando
Teu leque de estrelas, Belém do Pará!
                                                         (Adalcinda Camarão)




Se por um acaso me quiseres, te aviso logo: Sou só mais uma dessas mulheres, que não dizem nada...
                                   (Laila Costa)



Além.da.casca.da.casa.dos.palcos.que.brincas.ser.
teus.olhos.têm.mais.por.saber.
Além.da.beleza.espontânea.que.te.deixou.o.vento.
Além.do.teu.gosto.moreno.e.do.sorriso.honesto.
Além.das.tuas.formas.de.areia.do.teu.cheiro.de.mata.
Além.dos.cabelos.de.mola.e.cor.de.madeira.

Além-mar...

Dentre tanto de ti,
são.teus.olhos.brilhantes.que.de.ti.sobre.ti.por.ti.me.revelam-se.em.ti.

Além-mar...

Além.desses.rios.que.parecem.mar.
são.eles.que.vejo.em.teu.olhar.e.a.eles.me.levas.tu

Deixa?

Deixa.nesse.mar.de.rio.eu.mergulhar ?
deixa.me.neles.e.por.eles.em.ti.adentrar?

(Briella daMata)



Noites dessas..
Morri!
Num buraco cavado em vértice
Numa pirâmide  inversa
Via-Me decomposta..
Ossos
Órgãos
Vísceras
Compostos em mandala

Via-Me paisagem púrpura..
Oferenda de Mim

Num poço oco
Num fosso de entranhas
Sentia-me Náufrago
Sôfrego
Submerso..

Quando
Num lampejo de sobrevivência
Solto o fio da inconsciência
E o que vento  surge
Tragando-me de volta à realidade
No tempo da luz!

                      
(wanda monteiro)


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