terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Questão e ordem

"Acontece. E eu acho é bom. Sou fã do Raimundo Sodré famoso. Tenho um LP dele que me acompanha desde 1985 e a música “A Massa” era a minha preferida para vencer aquele distante festival da Globo.
Ainda hoje o acompanho. Baixo vídeos de shows, músicas recentes. O compositor baiano tem uma identidade rítmica das mais efervescentes e se dá bem com as palavras. Tem um talento singular. Um quê e um jeito. Que bom ser confundido com gente massa assim.
Tenho amigos virtuais que mesmo depois de esclarecido o furo, continuam me honrando com a presença. Não é porque eu não sou o Raimundo do recôncavo que a gente vai se apartar, né. Se temos coisas em comum, a gente se dá. A gente se linca.

Clica lá no Google. Aparecemos os dois. Eu e o famoso compositor baiano. Acontece... Aproveita e dá uma navegada pelos links do autor d’ A Massa da mandioca. Ele é bom, ele é Sodré, é Raimundo (não sei se é Nonato). Ele é muito massa!"

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

crônica da semana - pedreira jazz

Pedreira Jazz Pedra Noventa
Na quarta-feira passada, ouvimos pela primeira vez a nossa música no rádio. Foi no programa A Feira do Som, do Edgar Augusto. Depois daquele dia, a música entrou na programação da rádio Cultura, tem tocado bastante e o pessoal tem é gostado.
Pedreira Jazz Pedra Noventa é uma parceria minha com meu compadre Edir Gaya. Foi apresentada pelo Edgar com muito respeito, citando os autores, os músicos, o arranjador, o objetivo da canção. Em outras palavras, Edgar cortou e arou. Deu aquela força. Dar um empurrãozinho, divulgar, contribuir com a prata da casa é, ressalte-se com toda a justiça, o eixo condutor do programa A Feira do Som, nos anos contados tantos que ele tem no ar.
Ficamos meio ansiosos para o lançamento, eu e meu compadre. Assim, meio parecido meninos bestas. Não diria que foi um sonho realizado. Ter uma música gravada não é novidade para nós (temos pelo menos mais duas). Mas essa foi especial. Investimos mais que das outras vezes nela. Chamamos a genialidade de Renato Torres para vestir de cores nosso som. A cada dia que a gente ouvia um avanço no arranjo, a animação crescia. Sabíamos exatamente o que queríamos. Queríamos uma música para tocar no rádio. E para isso, fomos rigorosos na nossa construção. Nos aviamos nos detalhes.
Tudo pronto para o lançamento, ao grande gênio, a honra de interpretá-la. Meu compadre, já falei isso por aqui, é um Midas. Tudo que ele toca vira ouro. O poder que ele tem de criar belas melodias é inesgotável. Um modelador de tons e ritmos, notável. Mas nunca tinha se aventurado a cantar. Essa talvez fosse a nossa inquietação inconfessa. Embora para mim, que sou leigo na parada, nas primeiras audições, estivesse tudo bem, meu compadre foi radical na auto-crítica. Gravou outra vez, Renato apelou para uns ajustes tecnológicos e aí sim, o vozeirão do homi ficou no jeito.
Dá-se então que a música, da forma que ela está, com os elogios que ela vem recebendo, que eu interpreto como um confortante e circunstante sucesso, a tenho como um presente. Um regalo merecido ao meu melhor amigo, ao meu amigo desde que eu tinha 16 anos, ao meu grande ídolo Edir Gaya. É tudo dele e pra ele. Inclusive a responsabilidade de responder pela nossa canção.
E por causa disso, dessa responsa, a gente já arrebentando nas paradas de sucesso, meu compadre me liga altas horas da noite preocupado porque tinha que dominar o enredo da canção, “onde era mesmo o Pedra Noventa?”. Embora a gente tenha conversado sobre a letra, o traçado sentimental do texto é meu, né. Vamos lá então, conhecer um pouquinho do igarapé do Zé, do Jazz e do pedra Noventa.
O poema e o Jazz
No início dos anos setenta, o bar Pedra Noventa (que tinha esse nome por causa da última pedra do bingo, a maior) era ponto de encontro de várias tribos. Era um bar deslocado do eixo movimentado da Pedro Miranda, mas tinha seu charme, sua clientela cativa. Era também, um dos poucos lugares na Pedreira que tinha um telefone público. No meu imaginário, o bar era vanguardista, moderno. As coisas aconteciam por lá. Não sei bem por que penso assim, mas tenho pistas. Meu tio fazia parte de umas das tribos do bar. Morávamos na Marquês, e parte dos jovens da rua se reunia por lá. Depois dos encontros, ouvia meu tio falar de músicas internacionais diferentes, comentava as artes de um tal de Santana, elogiava grupos como Creedence, Lafayete... Essa era a conversa que eu ouvia. Então para mim, no Pedra Noventa, ouviam-se sons diferentes. Daí, desses sons distintos, para o Jazz, foi um pulo. No meu poema, o balcão Pedra Noventa canaliza os improvisos, a alegria e a sofisticação do Jazz retratado em cada ritmo novo, ousado que tocava ali.
O igarapé do Zé
O vento que traz o Jazz já é uma inclinação minha para o bucolismo que naquela época ainda vingava ali por aquela esquina. Até hoje, este ventinho de fim de tarde ainda é sentido em toda essa região da baixa da Pedreira. Na falta de uma explicação lógica, atribuí a formação deste arzinho da tarde, à densidade das matas da aeronáutica, que margeiam a Dr. Freitas e delimitam a cidade na primeira légua. Ali  nasce o igarapé do Zé.
O igarapé do Zé é uma licença poética. Um devaneio, um desejo contido. Mamãe jamais deixou que eu fosse pra lá. Mas a molecada ia. Às vezes chegava bem perto, sentia a mudança de temperatura ali à margem da Dr. Freitas. Mas não entrava na mata não. Era menino obediente. Sabia que pra’li, havia um mundo encantado donde a Matinta reinava. E que lá coisas maravilhosas se realizavam. Mas não podia ir lá. Mamãe ralhava. O igarapé do Zé é uma vontade minha não concretizada. Uma aventura que vive só no meu cocuruto. E a maravilha que se impõe de lá aos quatro cantos, reinterpreto hoje como sendo este vento gracioso que nos afaga todas as tardes.
Então é isso. Se um dia a gente ganhar o Grammy com esta música, já está tudo na ponta da língua.
Ah, e tem a música de meu compadre (Edir Gaya é meu compadre. Sou padrinho do filho dele, Gabriel. Fiz curso e tudo, com a pastora Marga Rothe; e ele é padrinho de minha filha Amaranta, ou seja, estamos emaranhados nas teias do compadrio). A música é deslumbrante. Certa vez, estava ouvindo a música, fiquei tão encucado com aqueles andamentos pra lá de assimétricos que enviei para um amigo meu entendido de tudo, para que me explicasse aquela singularidade, aquela estilística melódica. Né querer falar. É uma melodia jazzística da gema, coisa do Mississipi.

Nossa música tá rolando. É single do disco que meu compadre quer lançar. E vai trilhando caminhos para o Grammy. Tem um quê que atrai a gente. Não sei definir o que ela é. Para mim é um Jazz, mas minha amiga Mylena Santana, que bate um pandeiro bem que só, ouviu e definiu da forma que mais aprecio. Diz Mylena que é uma letra de carimbó encaixada numa mini-sinfonia. Concordo.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

crônica da semana - argel

Quebra-cabeça
É certo que vivo arengando com o pequeno. Vai fazer 18 anos e tá todo posudo, com baque de desimpedido, de libertaço. Ando pegando no pé, pedindo a presença dele, requerendo mimos e carinhos. Mas o pequeno navega em outras ondas, procura outros colos, outras prosas. Fico piriricas. Boto pra chulear pra cima do menino. E ele se sustenta numa constatação: “foste tu que me criaste assim, Raimundo (fala assim com esta construção condoreira). Me criaste no campo da independência, agora queres mudar tudo?  Não tem combate, né, Raimundo?”.
Concordo. Nos aviamos estes dezoito anos no amparo estrito da mais substanciosa confiança. Não há regras na nossa relação. Há sinais: “pode fazer tudo, desde que não fira ninguém”. Este é o credo que pauta nossas interações com nós mesmos e com os outros. Até hoje foi fielmente cumprido. Então, dívida não há. Há um chiliquito meu porque meu rapazinho vai fazer 18 anos e os ventos do desapego começam soprar com mais intensidade. Este desatarraxamento não é novidade. Houve tempos de nos toparmos em casa duas, três vezes por semana e muito rapidamente. Mas não me marcava tanto. Acho que por conta daquela “distância perto”. Sabia que a hora que a gente se encontrasse ia rolar o amor pai e filho. Gegel é, até hoje, um menino muito carinhoso. É um teba dum negão que, quando me abarca chega sumo no abraço dele, e me beija, me faz dengos, me chama de papaquino (olha só: pra quem não está acostumado a chamar de pai, ‘papaquino’ é uma extraordinária demonstração de afeto). Penso que esta minha zanga agora, é mais uma apreensãozinha besta, uma cisma emocional porque agora o mundo lhe é mais palpável e mais atraente que este velho pai. Em suma: ciuminho.
O desapego, reconheço, tem outro naipe, mesmo porque agora o menino nem tem tantas desobrigas a cumprir com escolas ou esportes, mas mesmo assim, me some. Huumm. Aí tem coisa. As tentações, os atrativos do mundo me batendo de goleada. Quando aparece, pega aquela bronca. Fica por ali, resmunga, faz charminho, umas troças,vai se chegando, disfarçando, dizendo que quer ver enibiêi comigo...e vai se aninhando... minha birra passa e mais com pouco, tamos ali, eu e meu negão, nos curtindo. Me amarro de ser pai do Gegel. É filho cheio de tudo e tantos.
Tem aquele olhar destruidor. Ganhou a compleição de atleta. Passou de metro e setenta (deduz-se que não parece nada comigo). Mas o que me encanta no meu rapaz nem são estas expressões. O que ele deixa implícito, o que ele dispõe para as nossas descobertas, é o que verdadeiramente me apetece. O que seduz nele são as impressões.
Percebo alguns componentes da personalidade dele. É meio franciscano. É um garoto generoso. Não guarda mágoa. Tem espírito de justiça (meu Deus! Quer até ser comunista!). É dotado de pródiga percepção.
Vai completar 18 anos esta semana e tô pagando um mico porque o quero perto enquanto ele se quer ao largo. Ele tem crédito e tem a minha bênção para ganhar o mundo imbuído daquela crença de não malinar ninguém. Vou digerir este desatarraxamento, e quer saber, com alguns consolos. O menino tem me dado umas alegrias...No último certame de vestibular, fez o dever certinho e agora é calouro de cabeça raspada. Eu sabia que na ocasião que lhe dei um jogo de quebra-cabeça, quando ele mal sabia os beabás e as contas de mais, de menos; e, pasmo, o vi montar a paisagem rapidola; Eu sabia que aquela destreza em combinar azuis, era um bom sinal.
Vê contornos, meu filho, o que a mim é uma esperança (ou um desconto?), porque até hoje, vago com as mãos assim de peças com bordas azuis, procurando céus para encaixá-las...

sábado, 8 de fevereiro de 2014

crônica da semana- croniquetas

Duas de baixola e uma de tu
Minha mãe, sabemos nós que nos encontramos aos sábados aqui na coluna, era dada ao comércio. Vendia de tudo em quanto. Houve uma época que concentrou todo o seu charme, se virando ali pelo mundo fashion dos cosméticos. Batia essa Pedreira de baixo a alto com os ‘catálagos’ dos mais afamados produtos. Daquela lida saía nosso sustento, mas resultava num dinheiro ramificado, multidirecional. O que significa dizer que mamãe, pelo comum, tirava dum canto para pôr noutro. Grandes encalacres derivavam dessas manobras financeiras delicadíssimas. Dali surgia o doloroso drama da caixa. A caixa era o suprimento, as encomendas dos fregueses. Quando minha mãe começava a falar da caixa era porque faltava grana para resgatá-la. Rolava a agonia para garantir os produtos. Tudo nos trinques, as empresas entregavam a caixa em casa, mas se ficava a ver a transação, a caixa voltava. Voltar significava que a caixa ia para um lugar longe e que os fregueses iam aporrinhar a paciência atrás dos cosméticos já pagos ou apostar na possibilidade de devolução do dinheiro (possibilidade remotíssima, porque dinheiro não mais havia, já estava tudo no nosso bucho). Numa dessas, a mamãe conseguiu o numerário para retirar a caixa. O depósito ficava ali pras bandas do Curió. E quem foi lá resgatá-la? Raimundinho-do-pandeiro, é claro. Como dinheiro só havia o contado, tive que voltar pra casa de ônibus. Agora, dizque eu, com metro e meio, metido dentro do Nova Marambaia-Telégrafo, lutando com uma caixa cheia de perfumes e cosméticos. Como ia me virar, meu pai? Pensei em colocar a caixa no chão, buscar apoio naquele ferro posto sobre as cadeiras e ir empurrando com o pé. Não deu. Todos os pegadores estavam pegados. Havia o vão do corredor e as barras no teto para me segurar. Mas quando, já que eu alcançava. Quando o ônibus foi chegando perto de casa, abracei a caixa e fui varando me equilibrando entre os passageiros que estavam em pé. Bundada daqui, joelhada dacolá, eu parecia uma bola de bilhar triscando num, triscando noutro. Fui assim quicando, até que varei certinho na minha parada. Pedi pra alguém dar o sinal (porque também não alcançava a cordinha) e desci. Moral da história: ser baixola não é problema pra ninguém. A não ser que o ungido tenha que se atar, alguma horinha, com o drama da caixa dentro do ônibus. Aí pega.
Tem também aquela da vassoura que eu usava pra varrer o salão do supermercado Pão de Açúcar, aonde trabalhei de peão, lá pelos idos de setenta e uns trocados. A vassoura tinha aquela parte das cerdas enorme, e os filhos dos barões que iam fazer compras diziam “olha, mãe, a vassoura é maior que o menino”. Eu ouvia aquilo, largava a vassoura e ia chorar no depósito. Esta história não tem moral. É, a bem dizer, bem amoral.

Por fim, nesta mini trilogia sem nada a ver uma e a outra com esta prosa que segue, queria eu acertar uma conta num hospital e liguei para saber quanto estava a minha dívida. Inquiri a atendente: “Tu tens aí o valor que devo pagar?” E ela exasperou-se. Inconformou-se porque pautei a nossa conversa no pronome “tu”. Achou um desrespeito. Queria no duro que eu usasse o incipiente, aqui por estas plagas, “você”. Dia desses, lendo Eça de Queiroz, tive pistas do porque de nosso tão simpático e amplamente praticado “tu” ser tão discriminado. Vou pesquisar mais um pouquinho e volto ao caso. Por enquanto, acudo-me a Castro Alves para provar que uma interação na segunda pessoa enseja sim, uma interlocução deveras respeitosa: “Ó mar, por que não apagas/Co’a esponja de tuas vagas/Do teu manto este borrão?”.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

pronominais

Pronominais

Longe do mar
Rio-me
Longe do sol 
luo-me
Longe das flores
Roso-me
Longe de ti

eu