sábado, 31 de março de 2018

crônica remix -pai


Pai


Hoje tá parecendo feriado santo, esse menino. Uma paz! Ah, essas músicas que tocam na rádio me dão uma malemolência, esse menino, parece um abandono orquestrado.Vem, vamos se aprontar, vamos se assear, e passar um talquinho.
Vem, esse menino, que o sol lá fora é de um clarão amigo e este vento silencioso que sobe a rua, traz do passado, a saudade.

Vem, deixa eu te lembrar daquele homem que tu nunca viste, e que, num dia como este, me chegava com um frondoso pé de alface e uma sacola cheia de coisas da feira para o almoço da família. E depois, esse menino, aquele homem, depois do almoço, procurava a paz. Atava a rede na sala e, nu da cintura pra cima, se embalava descansado, ouvindo o silêncio das crianças da casa, enquanto eu o admirava ali de longe, querendo, no meu futuro, ser como ele.

O sol é clarinho. Parece uma alma clara, ali brilhando no céu, zunindo orquestrado no dia. O vento vem de longe. Do fim da rua e da memória, tocando áspero na gente, mexendo com nossas saudades. E não se vê viv’alma na rua, esse menino. Tudo é um deserto só.

Vem, esse menino, te ajeita, te ajeita. Vamos pra porta da rua, ver o vento passar. Senta aqui na batente, que eu vou te contar da minha saudade. Saudade de pai, esse menino, saudade de pai.

Em plena meio-dia deste silêncio, eu lembro daquele pai que zelava pelo depósito de milho. Daquele homem obstinado que varava dias nos comboios pelas lonjuras dos seringais. Pai bravo, que ralhava com o Rompe-mato e com o Rompe-ferro, quando eles perdiam uma caça. Daquele amigo que chegava, na cidade, doido de saudade, me ajeitava na garupa do melhor cavalo, e me levava pra tomar sorvete de graviola, na praça Plácido de Castro. Pai negro, com cheiro de floresta, tingido de defumo de balata, banhado por gotejos de látex. Pai árvore, que me chegava dos campos com a bainha da calça empestada de carrapicho, e que depois eu ficava catando um por um. Pai que me carinhava roçando a barba pixaim  risonha, carinhosa, no meu cocuruto, e eu, ah, eu me aninhando naquele colo seguro.
Eita, esse menino, espia, ali no fim da rua, onde o céu encontra com a árvore mais florida. Lá, é a casa do tempo. Do tempo perdido, que não volta mais. Do tempo que ficou velho e pobre e que não me trará mais ninguém: nem meu pai renascido nem aquele menino mimado. E tu, esse menino, sem tempo vivido lá no fim da rua, de onde nasce o vento...
E tu? De quem tens saudades?  Que saudades de pai, tu tens? E éraste, do dia deslumbrante, heim, esse menino, este, clarinho, ventilado, de um zunido orquestrado, que parece feriado santo, em plena meio-dia!

cronica da semana - bibliograia


Bibliografia
Tô dizendo: sou até referência bibliográfica. Não com a ilustração que  gostaria de ser citado, mas...
Foi há alguns anos. O livro é uma produção sobre as técnicas de negociação coletiva. Obra de diversos autores. Dois deles, consultores que eram figuras batidas nos embates travados para renovação de Acordo Coletivo, no tempo em que eu atuava como dirigente no Sindicado dos Químicos de Barcarena. E traz no centro da narrativa, óbvio, a visão dos patrões sobre a relação capital/trabalho. Operavam para uma empresa de São Paulo e se gabavam de ter um histórico de negociações com grandes sindicatos do ABC e de atuarem em outros parques industriais mais taludos e de mais tradição que o nosso aqui, ribeirinho.
Deixa estar que eram uns caras passados na casca do alho, como lhes reclamava a missão. Quando chegavam aqui, vinham com os papeizinhos na mão. Sabiam tudo de nós. O limite do sindicato, as nossas possibilidades; conheciam as nossas rotinas, nossas particularidades. Me deram uma rasteira em plena mesa de negociação, num momento nervoso da pauta, quando, aproveitando-se de um necessário intervalo para desanuviar o cocuruto, vieram com uma conversa besta, um chove-não-molha, como quem não quer nada e jogaram no meu peito dois exemplares do meu livro “O dia mais feliz...”, lançado por aqueles tempos com grande estardalhaço no Palácio dos Bares. Disseram que estavam passeando no Shopping, passaram na ‘Ponto e Vírgula’ e compraram para levar de lembrança da cidade. Autografei, meio ressabiado, e por isso ficou. Voltamos às arengas das negociações.
Mas foi batata. Minha desconfiança tinha um quê. Meses depois recebi a obra. Meu nome e meu livro aludidos lá nas últimas páginas, e no meio do livro, a justificativa da citação. No capítulo que se propõe a compor o caráter dos sindicalistas com quem haviam negociado, eu aparecia como exemplo de um endemoniado. Um diabinho que botava fogo pelas ventas nas horas mais tensas das discussões. Os autores reconheciam a minha ferocidade na defesa da pauta formulada para a convenção coletiva e, mais adiante nas reflexões,  manifestavam espanto em comparar aquele negociador imponderável (radical, no dizer deles) com o autor de narrativas flexíveis, doces e ternas dos temas que formavam “O dia mais Feliz...” .
Esta semana inteirei 12 anos escrevendo esta coluna. Expus aqui a minha docilidade, a minha ternura em letras puras que me brotam do coração. Outras vezes, mirei o visível. O risível. O factual ou histórico. Procuro ser fiel, na minha escrita, ao espírito da arte. Dentro do cronista, porém, habita um peão do chão de fábrica que põe comida na mesa em diários acordos coletivos com a vida. Meu contar também é uma pauta radical inspirada em conquistas e direitos. Minha composição é adoçada pelos amaros discursos do operário. Meu lirismo selvagem é a delação de um mundo cão, enfrentado, sem temor, em cada verso, em cada prosa.
Ledo engano pensar que meu riscado seja um traçado subalterno. Tô dizendo: minha narrativa não é uma reta submissa. Na vida real, a bibliografia que dê seu jeito.


sexta-feira, 30 de março de 2018

                                  A arte de Ribamar Araújo

sábado, 24 de março de 2018

crônica da semana - pipa no leso


No leso
Tenho a mais absoluta certeza que o mundo, as coisas do mundo começaram a desandar, depois que a gente começou a chamar papagaio de pipa.
Cheguei a essa conclusão quando ouvi um rapaz relatar reminiscências da infância. Dizia ele, que tinha boas lembranças das traquinagens, dos jogos de bola na quadra do colégio, das disputas no Playstation, das brincadeiras de pipa (ops!).
Aí travei. É o descritivo claro de uma sociedade em decadência ancorar-se na ‘pipa’ para referendar uma brincadeira das mais nobres. Comparando, recorri às minhas reminiscências.
Esta designação ‘pipa’, nem havia, no meu tempo. Era coisa de outras plagas, um nome até usado, mas usado pelo pessoal de fora. O que havia, era um elenco de peças voadoras tecidas na mais fina seda. Na ordem exata de charme e elegância: papagaio, rabiola, cangula e por último, lá no rés da colocação, a curiqueta. Aí sim, desta lista, dá gosto lembrar. Até a mais simplesinha e corriqueira das componentes desse grupo, a curica (ou curiqueta) tinha lá sua arte. A molecada usava até papel de pão para tecer uma. Caprichava no molde em peça única e também no rabo, da mesma forma, inteiriçado. Fazia a armação com piaçava arrancada da vassoura Alvorada ou de telas flexíveis retiradas do trançado curvo de paneiros, que embalavam as compras no supermercado. Era brincadeira do menino mais novinho, aquele que só ficava ali pela calçada de casa, ou nos cuidados do quintal. Não subia tão alto e nem era boa para dar cabeça, mas já valia para quem não podia ganhar as ruas. As outras três peças, não, já tinham uma aerodinâmica mais elaborada, resultante de cuidadosos arranjos com talas rijas e linheiras. Eram revestidas com sedas estilizadas, coloridas, em desenhos simétricos, com motivos de clubes de futebol, ou animais da floresta. Eram um espetáculo. O rabo era um detalhe à parte. Era confeccionado com pequenas tiras de pano, atadas a um trecho de linha pendente da peça em seda.
Nos (meus) tempos de papagaio e companhia, apostávamos na ‘esperança equilibrista’, havia um anseio em alcançar a estética leve e colorida, um desejo incontrolável de voar. O mundo, na época da curiqueta, era de inspirações cáusticas, de intenções repressivas, mas nos postávamos à rua, de bandeira (e tubo de linha) em punho, querendo ganhar céus. E ganhamos. Nos anos dos célebres laços realizados no céu de Belém, onde peças clássicas de papagaios ‘iguinadores’ se exibiam antes do decisivo enfrentamento e antes de um deles ir às quedas, passávamos por um período evolutivo que vislumbrava descartar a intolerância, o preconceito, as intimidações e as brutalidades da elite rasa nacional.
Eis, porém que de repente, do nada, tudo muda, o que era arte é crime, o que era cor é ofensa, o que era um pedacinho de céu vira um sulfúrico inferno. Hordas de moleques se batem, se digladiam, competem em esbarrões desesperados, por um pedaço desenxabido de plástico armado em débeis talas, despencando pelas ruas de Belém. A tal pipa nos roubou o futuro. Perdemos o rumo do vento. Estamos às quedas. Em suave descendência. E no leso.


sábado, 17 de março de 2018

crônica da semana Piripiri

E parará e Piripiri
Não pensem que é mentira da boa não. Aconteceu mesmo. Juro de pé junto.
Estava tratando da primeira malária, na clínica que a empresa em que eu trabalhava mantinha em Porto Velho. Tava só a casqueta. Amarelo, mofino. Longe dos mimos da mamãe. Me aviando na Primaquina pra ver se eu varava. Na metade do tratamento, já saía do soro, podia dar umas voltas, visitar os companheiros que por ali convalesciam também.
Quando dei com o Piripiri.
Conhecido pelo nome da cidade de origem, que fica no Piauí (aquela cantada pelo Paulo Diniz no disco “Quero Voltar pra Bahia”, de 1970), Piripiri trabalhava como auxiliar de cozinha na minha equipe. Estava todo estiolado. Todo escambibado. Mas a mais extraordinária das mazelas, a gente percebia no polegar da mão direita dele. Deste tamanho. Inchado. Roxo. Tinha chegado de uma cirurgia.
Mas peralá. Não nos quedemos à perdoável descrença. Porque antes de desenrolar a parada do Piripiri, tenho que falar de outro caso fantástico que também presenciei nesta passagem pela clínica, quando me tratava da Vívax terçã.
Não sei o nome do rapaz. Não era conhecido meu, vinha de uma outra frente de serviço lá de cima do rio Madeira. Começou a ter um comportamento estranho no acampamento. Interrompia o sono, à noite, corria e se jogava no igarapé. Gritava e reclamava com extremo sofrimento. Nos últimos dias, grunhia, batia com a cabeça na parede, rolava no chão. Foi tomado como maluco e assim chegou na clínica. Na consulta com o médico, deu-se o inacreditável. Foi constatado que havia uma colônia de insetos povoando o ouvido dele. Um esfregar de patinhas de uma varejeira, numa feridinha que ele tinha na orelha, deu no que deu. E tantos, de tantas envergaduras, e de toda forma insaciáveis que já haviam destruído parte das estruturas do labirinto e a Tuba de Eustáquio. O resultado é que ele expelia os bichinhos pelos caminhos estabelecidos na ligação nariz, ouvido, garganta. Imagino o drama deste rapaz. Às vezes entra uma formiguinha no ouvido da gente e parece que tem um elefante fazendo uma farra lá, que dirá, mina de bichinhos.
Foram tantos com quem partilhei minha caminhada que hoje soma trinta e cinco anos. Na juventude, nas desmesuras da idade, cravei junto a outros desmesurados o rótulo de propriedade para esta gente, que hoje pede retratação. Soa desafinado nos ouvidos corretos politicamente: não eram “os nossos peões”. Eram parte do nosso trabalho. Companhia no barraco, em noites dormidas nas redes enfileiradas, eram vítimas do hematógfago anofelino, que não está nem aí para o sangue de quem é peão ou de quem não é. E não podiam faltar numa mesa farta de cervejas, nos inferninhos mal’arranjados da BR 364.
E Piripiri? Era auxiliar de cozinha. Conhecido pelo nome de sua cidade natal. Se metia em poucas e boas, por isso a rouxidão no dedo. Não vou desenrolar a parada dele, porque Piripiri era um sujeito que não se deixava desvelar.
Por outro lado, o rapaz dos bichinhos no ouvido, quando o encontrei já estava bem melhor, mais calmo. A terapia era fazer lavagem diariamente, no ouvido. Com Rodiasol.

sábado, 10 de março de 2018

crônica da semana - chuva fevereiro


Chovendo no molhado
Este ano foi a segunda vez, em 50 anos, que o mês de fevereiro passou dos limites. Foi chuva que não acabava mais. Eu já desconfiava que este pampeiro estava fora da curva. Sou atento. Desde há muito, exercito o faro para a chuva. Nos trabalhos de Geologia, se o tempo estivesse fechado, a turma nem saía da rede (ou do pano, como a moçada gostava de falar). A mim, cabia a decisão. Era o dia clarear um pouquinho, eu dava um tempo, tomava um cafezinho na cozinha, espiava a formação de nuvens, verificava se tinha neblina (neblina é sinal de sol durante boa parte do dia), ouvia os passarinhos, percebia a brisa. Fazia uma combinação com os indícios. Fosse a escolha, o pano, liberava a galera. Outra fosse a decisão, após o comando, era rápido que a turma se arrumava e caía na lida. Tínhamos que aproveitar os sinais de estio. Normalmente, acertava. Mas quando a minha previsão furava, era deprê total. Ainda bambeio quando lembro ter liberado a equipe pra ficar no pano, o dia permanecer nublado, mas não cair uma gota do céu. Ficava chato para a corporação. Como justificar aquela ruma de homem no acampamento só matando o bandeco? Pior, no entanto, era quando acreditava no estio, saía com a equipe, documentos, instrumentos e lá pelas tantas, ainda na caminhada rumo à frente de trabalho, o aguaceiro arriava. Era perda total. De roupa, de víveres, mapas, formulários. Na dúvida era bem melhor ser desmoralizado pelo sol tímido que ser estiolado pelo toró.
Ainda hoje, numa outra escala, vivo nessa peleja. Meu trabalho, ou o melhor momento para fazer o meu trabalho dá-se num tempo sem chuva. Abandonei o faro e agora me avio em ferramentas mais racionais. Acudo-me a um gráfico pluviométrico que traz a média dos últimos10 anos. É meu guia. Ele me mostra que pelo comum, o mês mais chuvoso do inverno amazônico é o mês de março. Chove ali na média de 500 milímetros. Este ano, o mês de fevereiro deu um baile. Choveu no molhado e antes de findar os 28 dias já tinha registrado mais de 600 milímetros.
É o tempo dela. Essa chuvinha de agora, vem para nós paraenses, como uma benção, depois do calorão de esturricar o cocuruto, de final de ano. Logo em janeiro, é de esperar que a gente esteja curtindo os dias molhados, o friozinho de 23 graus. Mas os dias encharcaram demais. O romantismo das noites friínhas deu lugar a apreensões e medos. A nostalgia de uma manhã chuvosa revelou perigos iminentes. A cidade se inviabilizou, em várias oportunidades, nas primeiras horas do dia. Caos e insatisfação. Alagamentos, interdições, árvores caindo. A infraestrutura das nossas cidades não assegura um fluxo ordeiro das correntes formadas durante a chuva. Deus ou a natureza são logo citados como responsáveis pelo nosso sofrimento. Algures, o disse-me-disse fabrica catástrofes, o senso comum ratifica flagelos, vítimas falsas e verdadeiras confundem-se na enxurrada. E uns bonitinhos, ó, só de boa, manipulando, plantando votos e simpatias.
Março chegou dando um estiozinho de forra, mas não nos enganemos. Meu gráfico referenda mais potência de pampeiro.

sábado, 3 de março de 2018

crônica da semana. Seu Jorge


Filho da glória e do triunfo
E olha que sou Paysandu!
Mas o companheirismo, o respeito, a admiração, a parceria, esses temperos que dão gosto ao relacionamento, me levavam ao Baenão a hora que fosse, ver o Remo. Eu rompia com todas as travas de torcedor bicolor para acompanhar ‘Seu Jorge’ nos jogos do Leão.
Meu tio Jorge, que o costume manteve sempre nos meus dias como ‘Seu Jorge’ era um torcedor conservador. Quando ia pro campo, era do mesmo jeitinho se fosse para uma festinha, uma saidinha ao centro, uma volta no arraial. Camisa de botão, calça de tergal com bolso em faca, lenço no bolso detrás, uma colônia suave. Eu do lado. Fazia companhia a ele naquela parte da arquibancada tida como a curva dos velhinhos. E ‘Seu Jorge’ nem era. Era um jovem senhor, mas ficava naquela meia-lua de arquibancada que dava para a Almirante Barroso porque ali não tinha briga, não tinha saquinho de xixi, não comportava a bandalheira. Não era coberta, mas era um lugar quieto e seguro.
Daquele cantinho, ‘Seu Jorge’ me permitiu ver o Darinta brilhando na Tuna; o Marinho, um lateral esguio e arisco; O Luís Florêncio, só esguio, e põe esguio nisso. Não tenho recato de falar não, mas dali, junto com meu tio, pude confirmar a categoria extraordinário de Zico; a explosão de Reinaldo; a elegância de Jorge Mendonça (quando o Remo ainda era um respeitado frequentador da raia de elite do futebol brasileiro). Mais tarde, não pude deixar de me deslumbrar com o arrasador ataque formado por Leônidas, Bira e Júlio César. Estraçalhava quem viesse. Nesse tempo o Remo dava só de quatro a zero pra lá.
Tinha a minha patota da rua. O núcleo do bicola. Nos grandes jogos, se articulavam, mas eu não ia com eles. Uma porque não tinha dinheiro e outra, porque não me arriscava com aquela galera. Minha turma não era fácil. Preferia mil vezes ver os jogos do Remo, fazendo companhia ao Seu Jorge e entrando naquele ritmo de torcedor da meia-lua de arquibancada.
Não era parceiro só no Baenão. Tínhamos uma ligação na vida de  causa, fins e resultados.
Quando Seu Jorge entrou na nossa vida, representou um esteio, uma segurança. Ajudava no que podia. Na época que morou com minha tia Fabi, na vila Três Irmãos, me garantiu o cumê de cada dia. Na volta da escola, parava lá. Almoçava, passava um pedacinho e só depois ia pra casa, na Mauriti. Ou não. Podia passar o dia. Passar dias lá. Eu não me fazia de orgulhoso não. As coisas na Mauriti estavam difíceis. Mamãe com as vendas, se virava, mas às vezes a provisão era um contadinho pouco pra cada. Parava na vila Três Irmãos porque sabia que na casa do ‘Seu Jorge’ e da tia Fabiana, comida farta havia. Ele e minha tia entendiam isso. Mais tarde, quando iniciou a vida de feirante, na Pedreira, formamos outra parceria.
Na terça-feira passada, fui à missa de sétimo dia do ‘Seu Jorge’. Nosso esteio. Um homem de coração bom. Solidário, amável. Nos deixou ‘Seu Jorge’. E a dor só não é maior porque o parceiro aqui sabe que ele está numa arquibancada de meia-lua, que dá para as esquinas do céu, torcendo, daquele jeitinho, pelo Filho da glória e do triunfo.