quinta-feira, 11 de abril de 2024

crônica da semana - a minha alma canta II

 A minha alma canta.

Tô eu aqui de perna pro ar, pensando na vida da bezerra, só na manha das férias. Nem seu Souza para o tempo que passa.

Nisso que esbarro no tempo, reinei de contar um pouquinho da noite longa que foi minha viagem aqui para a Guanabara. Digo longa porque sou desses, se a viagem é tantas horas do dia tal, uma eternidade antes já estou pronto, todo etiquetado, documento em mãos, mexendo aqui, ali no celular pra ver hora de voo, início de embarque, portão, poltrona, não pera, vai que muda...E foi desse jeitinho mesmo. Duas horas antes do embarque, calcei a meia, os sapatos, que constam da parte final do rito de me aprontar, chamei o carro e me piquei para o aeroporto.

Agora, no avançar dos anos, estou é me dando com essa coisa de prioridade. Não curto mais a fila. De prima entrei na sala de embarque, o que representa o primeiro suspiro da jornada. Antes, a tensão daquele apitinho no detector de metais e qualquer outra coisa, no curralzinho de entrada. Já me pararam por causa de um desodorante. Que dirá dessa vez, trazendo umas gotinhas de cachaça de jambu para os novos moradores da cidade maravilhosa. Enfim, tudo na paz. Deixaram a cachaça passar. Era pouquinha mesmo. Só um souvenir. O homem só perguntou se eu não usava cinto. Disse que não e fui s’embora.

O bom de chegar cedo é que a gente vai se aliviando aos poucos. Logo adiante, me livrei da bagagem. Agora tem essa presepada de cobrarem um valor para despachar a mala. Maior parte dos passageiros não paga e se vira com as maletinhas de mão. Aí quando a gente tá pra embarcar as empresas chamam para despachar sem custo. Agora fica nesse puxa-encolhe, eu heim. Se foi pra desfazer, por que é que fez!

Fui o pri também para entrar na aeronave, só que desta vez, junto com uma galera da Venezuela. Parece que era um embarque especial de um grupo tutelado pela imigração. O que exigia àquela turma, uma atenção espacial dos comissários. Houve o cuidado de agrupá-los por afinidade, por família, para que não se sentissem sozinhos. E isso causou um desconcerto, pois acabaram ocupando lugares de outros passageiros. Foi um para pra acertar, olha, um jogo das cadeiras. A minha preocupação é que essa manobra poderia, como de fato aconteceu, atrasar o voo e eu tinha uma conexão muito rápida em Campinas, menos de 40 minutos pra descer dum avião e subir noutro. Se perdesse tempo... Tudo ajeitado, ainda sobrou lugar. O bichão virou o bico para o céu e voamos por 3  horas e meia até São Paulo. E nesse tempo todo não preguei o olho. Éraste! Não consigo dormir. De formigamento estranho nas pernas, ao incômodo do ouvido tapado, passando por uma dose cavalar de ansiedade, além da hora da broca, tudo me corta o barato de uma sonequinha.

Deu no que deu. Cheguei na biqueira pra pegar a conexão. Desembarquei e dei aquela velha corridinha. Alcancei o ônibus que levaria ao outro avião, já lotado. Fui me ajeitando, mas tinha uma moça atrás de mim se virando com uma sacolona. Foi aí que vi um cidadão japonês todo à vontade ocupando duas cadeiras com bagagem, naquela parte alta do ônibus. Olhei feio pra ele. Num instante ele se aviou. Abri caminho e a moça conseguiu se ajeitar com as tralhas dela. Tá vendo como é a internacionalização da deselegância, da falta de empatia. Fiquei na bronca com o cidadão japonês.

Entre Campinas e o Rio é rapidola e uma viagem beirando o Atlântico. Muito firme! Um contratempo, porém, e o avião ficou zanzando a 3.000 metros sem poder pousar. Uma garotinha faladeira, da poltrona ao lado, ligada no mapa do voo, ainda atiçou perguntando aos pais se  iríamos cair.

Caiu o pano, a pista foi liberada. O pouso no aeroporto Santos Dumont é algo entre delirantemente belo e docemente apavorante.

O Rio continua lindo, lá fora, porque eu cheguei e dei o desconto. Dormi o dia todo que o redentor me deu.

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