terça-feira, 9 de agosto de 2011

Crônica remix - a classe operária vai...

Ao paraíso (a classe operária vai, vai, vai...)
Eu sempre fui comunista. Sempre tive barba, sempre usei embornal verde-líquen-meio-enferrujado cheio de exemplares velhos de jornais clandestinos; sempre quis ir pra ilha de Cuba e sempre gostei de um uisquinho and rock. Não li Marx no original em alemão e nem em português. Aliás, não li Marx. Fora a cartilhinha mimeografada que guardo comigo desde os tempos das reuniões clandestinas na Escola Técnica, pouca coisa sei sobre O Capital.
Há alguns anos, porém, desisti da revolução e resolvi me render ao capitalismo globalizado. Entrei para o mercado de capitais, comprei aí umas açõezinhas de uma poderosa empresa nacional, coisa pouca, só para começar...
Olha só no que deu!
O pobre é ralado mesmo, na hora em que resolve ser capitalista a crise vem e acaba com a festa.
Éraste, jamais pensei que, logo na minha vez, o capitalismo fosse mostrar as suas fragilidades. Que logo agora quando eu estava me animando com os saltitos tentadores da bolsa a tal crise do capitalismo (desde antes anunciada pelos comunistas) iria explodir.
Caramba, Parece uma coisa! É a tal pissica da velha chica que me persegue, inda mais agora que eu estava sonhando em ser um magnata do insensível e frio mundo da grana. Já estava me sentindo um operário luxento todo prosa-cor- de- rosa chegando ao paraíso.
Mas quando! Tô na pira. Nem consulta ao banco, faço mais. Toda vez que vou lá me deparo com um cenário cada vez mais assombroso. Vôte, fico à beira de um chiliquito.
A culpa é dos americanos. É o que eu digo sempre, eles só querem ser o que a folhinha do ano não marca. Fazem as deles, dão calote, e parecem aquela madame dos meus tempos de empacotador de supermercado, que aparecia na loja toda emperiquitada, nariz empinado, farta maquilagem, cheia de jóias... Mas quite, tudo michelin das boas, peças facilmente encontradas nas bancas da Santo Antônio ou nas boas lojas do ramo. Só pose. Os americanos mostraram que atrás daquela arrogância residia (aliás, nem residem mais, foram despejados) uma imensa e inflexível bolha imobiliária apta para empastelar a economia mundial (não tô falando, a crise é coisa de americano mesmo: estampido ufanista, indiscreto, grandioso. Não bastaria que arrebentassem a si. Haveriam de levar, ora veja, a mim também, ladeira abaixo com meus reaizinhos cada vez mais raquíticos. Ah, esses americanos!).
Para amenizar o sofrimento resolvi dar uma injeção de esperança nas minhas aplicações, e, um dia desses de maus presságios para mercado, me peguei com a poesia otimista dos anos 70 admitindo que “o que importa é não estar vencido”.
Doce Ilusão. A vida, num momento delicado como este, caprichosamente, não imita a arte e no outro dia as bolsas sofreram uma das maiores quedas da história e veio gente de tudo quanto é tamanho na enxurrada. Americanos, japoneses, britânicos, alemães, até a Finlândia, olha só, que era um país que eu pensei que só existisse no National Geografic veio no meio da quebradeira com um superdotado IDH e tudo. Na fila, na fila.
No dia do Círio, fiz discretamente, um pedido para a santa pr’ela dar uma ajudazinha lá em Wall Street (os americanos estão me devendo essa).  Fiz o pedido assim, como quem não quer e querendo, sabe, porque acho que a santa não gosta dessas coisas, desses despudores com grana, desses clamores pelo mercado de capital, acho que não, afinal os membros das primeiras comunidades cristãs dividiam tudo, viviam irmanados, valorizavam a igualdade, a fraternidade...
Sabe, pensando bem, acho que vou procurar minha cartilhinha de comunista e rever algumas lições.

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