quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Crônica remix - hoje é o seu dia


Hoje é o seu dia, hoje ele não sai
Há algum tempo, não faz muito tempo não, de vez em vez, para alentar meu ego, para mitigar anárquicas frustrações, ou mesmo para golpear as circunstantes conformações estéticas eu perguntava para a minha filha, ainda bebê: “filhinha, quem é mais bonito, o Gianechini, o Eric Marmo ou o papai? E ela, convicta, decidida, íntegra na resposta. Assegurando fidelidade e cumplicidade, disparava cheia de dengos: “o paaapaaaai”.
Filhos, filhos... Por isso tê-los!
Minha filha cresceu, não vi mais o Eric Marmo em papel de ponta e não me sinto nem um pouquinho seguro para novas sabatinas de beleza com ela hoje em dia. Ainda mais agora que a menina quedou-se para os lados da vaidade infanto-juvenil. Vive de par com brilhos altivos e arrogantes perfumes. Deus me livre e guarde, não faço mais aquelas disputas de boniteza com ela não. Tenho medo da resposta.
Com o tempo, a natureza se encarrega de dotar nossos pequenos de necessária racionalidade. E o papai tem que atentar para o tilintar da ficha, reorientar o discurso e redimensionar a conduta...
No início do ano passado, em meio à correria do dia-a-dia, às atribulações rotineiras, peguei uma lição das grandes do meu menino. Ele queria que eu fosse vê-lo nas competições da escola. Depois de checados horários, verifiquei que seria impossível acompanhá-lo. Ele se abateu um pouco, mas depois, se virou para mim imperioso e lembrou-me com (severa) docilidade que o pai tem que priorizar os filhos. Pô, descadeirei. Mas não foi dessa vez. Não descartei meus compromissos. Só que fiquei com aquilo martelando, sabe... “O pai tem que priorizar os filhos...”.
Perdi meu pai cedo (mas apesar da separação precoce, a imagem que tenho de meu pai hoje é de um homem bem mais bonito do que o Gianechini, o Tom Cruise, o Brad Pit e o Eric Marmo tudo junto. Para mim a racionalidade está aquém da liberdade de criar, de desejar, de intuir. Acho que em se tratando de pai, a razão nem me triscou).
Sei o quanto sofri sem ter um pai do lado. Depois daquela frase, refleti e cheguei à conclusão de que não poderia reproduzir nos meus meninos essa mesma inquietação que senti (e que sinto até hoje) pela ausência de pai. Acho que foi isso que Argel quis dizer com a frase ou o que a Amaranta quis demonstrar, quando bebê. A intenção deles foi me dar uns toques, me avisar que havia a hora da fantasia, quando eu era eleito o mais belo dentre as beldades, mas que a vida nos é entregue na mais nítida realidade. E a presença do pai na arquibancada, torcendo pelo time da sala é a realidade e ao mesmo tempo sonho deles.
Não que isso signifique dependência, intimidação ou egoísmo besta. Não. É mais um chamado para nos conhecermos melhor. Um alô necessário.
Amanhã, no dia dos pais, não quero nada, a não ser o amor, o perdão (quando falto lá na arquibancada), o carinho e a compreensão de meus meninos. Sei, porém, que Amaranta vem juntando uma graninha para comprar um presente pra mim (já se acha livre para comandar meus gostos). Falei que não preciso de nada e que nós não vamos nos bandear para estes apelos consumistas do mês de agosto, e pelo que sei sobre o montante arrecadado até agora (coisa de 3 Reais e uns caroços), acho que meu desejo será atendido.
O que eu queria mesmo era ser reconhecido como um pai que de uns tempos pra cá se esforça para entender melhor a sua importância e o seu papel na arquibancada da vida (e se fosse possível, queria também que me dedicassem, num programa qualquer de rádio, aquela canção: “hoje é o seu dia, hoje ele não sai, laraiaraiá...laraiá...papai”).

Nenhum comentário:

Postar um comentário