terça-feira, 25 de junho de 2013

crônica remix-princesinha

A princesinha (e o brigadeiro do João manoel)
Hoje, Amaranta Maria tá no berço. Faz doze anos, a minha princesinha. Tá mocinha. Graciosa que só ela. Vaidosa que só vendo. E, acompanhando a revolução da modernidade, geniosa que é uma coisa, a pequena.
Tem uma personalidade forte, minha filha. É ainda a minha bebê, mas é exuberante nas decisões. Chega a ser radical. Quase gente grande. Não vai na corda de ninguém. Formula seu mundo, com ética e pudor, mas sempre independente de adestramentos. Valoriza a construção de conceitos próprios. Não tá nem aí para a uniformização, para a padronização (aqui em casa, em quase tudo ela é do contra. Se ela pegar o controle remoto, então, já era. A gente procura outra coisa pra fazer, ou se prepara para o novo, para um programa fora da rotina, para as surpresas de Amaranta). Eu, como pai, procuro entender estes traços que desenham a alma de minha filha. E, exagerando na corujice, posso até deixar escapar aqui, que este perfil da menina me agrada e muito. Talvez seja porque ela apresente um comportamento que a minha geração ousou experimentar. Adorável Amaranta. Desafiadora. Insubmissa.
Vejo como uma virtude caríssima, a energia meio anárquica nos seus atos, pensamentos e palavras. Penso que isto seja uma sensível guinada no rumo da sinceridade. Será útil à minha menina em momentos decisivos da vida e também, em gentilezas sociais não fundamentais, como nas ocasiões em que, inevitavelmente, será impelida a dissertar sobre a origem do nome.
(E não é um nome muito comum. Fiz uma pesquisa no Orkut e encontrei 299 usuárias se identificando como Amaranta, coisinha pouca, comparada com perfis como o de Raimundo, por exemplo, que tem uns trocentos mil. Por aí, a gente tira).
Não é preciso dizer que, por ora, ela prefira desconversar e mudar o rumo dessa prosa. Sobre ‘Maria’, silencia, acho que apelando para óbvias deduções do inquiridor. Quanto ao nome ‘Amaranta’, fala qualquer coisa sobre o livro que o pai leu, quando ela nem sonhava em nascer, cita o autor e dá o assunto por encerrado (ela se agrada do nome, aprecia o fato dele ter surgido de uma obra famosa, mas tem me deixado pistas de que acha uma bobagem ter que, aqui e ali, prestar contas desta presunção intelectual que herdou do papaizinho aqui. Hum! Hum! E olha que faço gosto. Ensaio todo o script com as razões do nome dela. Conto causos de quando ela estava ainda na barriga da mãe e a gente escolhia os nomes. Qual o quê! Ela não se entusiasma. Opta pela austeridade e pelo comedimento. Não falei que a pequena não gosta de nada ensaiado? A menina sabiamente declina destes estrelismos forçados. Destas coisas inventadas por besteiragens do pai).
Minha princesinha tem este lado indomável, arredio, silente. Mas sei, conheço bem. Muitas vezes fala pelos olhos (tão extravagantemente belos que parecem ‘cristais de turmalina/ incrustados à face/ de fina porcelana’). E naqueles olhos negros, encontro coração, sentimentos fortes de amizade, de solidariedade. Orações, nobres intenções. (Nos últimos tempos, Amaranta Maria, todos os dias me convencia a arrumar 1 Real para que ela comprasse o brigadeiro do João Manoel. Era pra ajudar o coleguinha que estava doente. Falava sempre dele. Se preocupava. Nos trazia notícias. Amaranta torceu por ele. Rezou por ele. Chorou pelo amigo João).
Minha filha faz anos hoje. É uma mocinha geniosa. Mas uma amiga fiel, empenhada e lutadora. Sabedora de que a realidade não é tão doce quanto os doces confeitados de chocolate. Serenamente consciente (e convenientemente inconformada) de que, nem sempre a vida vence. Bença, filha.


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