A princesinha (e o brigadeiro do
João manoel)
Hoje,
Amaranta Maria tá no berço. Faz doze anos, a minha princesinha. Tá mocinha.
Graciosa que só ela. Vaidosa que só vendo. E, acompanhando a revolução da
modernidade, geniosa que é uma coisa, a pequena.
Tem
uma personalidade forte, minha filha. É ainda a minha bebê, mas é exuberante
nas decisões. Chega a ser radical. Quase gente grande. Não vai na corda de
ninguém. Formula seu mundo, com ética e pudor, mas sempre independente de
adestramentos. Valoriza a construção de conceitos próprios. Não tá nem aí para
a uniformização, para a padronização (aqui em casa, em quase tudo ela é do
contra. Se ela pegar o controle remoto, então, já era. A gente procura outra
coisa pra fazer, ou se prepara para o novo, para um programa fora da rotina,
para as surpresas de Amaranta). Eu, como pai, procuro entender estes traços que
desenham a alma de minha filha. E, exagerando na corujice, posso até deixar
escapar aqui, que este perfil da menina me agrada e muito. Talvez seja porque ela
apresente um comportamento que a minha geração ousou experimentar. Adorável
Amaranta. Desafiadora. Insubmissa.
Vejo
como uma virtude caríssima, a energia meio anárquica nos seus atos, pensamentos
e palavras. Penso que isto seja uma sensível guinada no rumo da sinceridade.
Será útil à minha menina em momentos decisivos da vida e também, em gentilezas
sociais não fundamentais, como nas ocasiões em que, inevitavelmente, será
impelida a dissertar sobre a origem do nome.
(E
não é um nome muito comum. Fiz uma pesquisa no Orkut e encontrei 299 usuárias
se identificando como Amaranta, coisinha pouca, comparada com perfis como o de
Raimundo, por exemplo, que tem uns trocentos mil. Por aí, a gente tira).
Não
é preciso dizer que, por ora, ela prefira desconversar e mudar o rumo dessa
prosa. Sobre ‘Maria’, silencia, acho que apelando para óbvias deduções do
inquiridor. Quanto ao nome ‘Amaranta’, fala qualquer coisa sobre o livro que o
pai leu, quando ela nem sonhava em nascer, cita o autor e dá o assunto por
encerrado (ela se agrada do nome, aprecia o fato dele ter surgido de uma obra
famosa, mas tem me deixado pistas de que acha uma bobagem ter que, aqui e ali,
prestar contas desta presunção intelectual que herdou do papaizinho aqui. Hum!
Hum! E olha que faço gosto. Ensaio todo o script com as razões do nome dela.
Conto causos de quando ela estava ainda na barriga da mãe e a gente escolhia os
nomes. Qual o quê! Ela não se entusiasma. Opta pela austeridade e pelo
comedimento. Não falei que a pequena não gosta de nada ensaiado? A menina
sabiamente declina destes estrelismos forçados. Destas coisas inventadas por
besteiragens do pai).
Minha
princesinha tem este lado indomável, arredio, silente. Mas sei, conheço bem.
Muitas vezes fala pelos olhos (tão extravagantemente belos que parecem
‘cristais de turmalina/ incrustados à face/ de fina porcelana’). E naqueles
olhos negros, encontro coração, sentimentos fortes de amizade, de
solidariedade. Orações, nobres intenções. (Nos últimos tempos, Amaranta Maria,
todos os dias me convencia a arrumar 1 Real para que ela comprasse o brigadeiro
do João Manoel. Era pra ajudar o coleguinha que estava doente. Falava sempre
dele. Se preocupava. Nos trazia notícias. Amaranta torceu por ele. Rezou por
ele. Chorou pelo amigo João).
Minha
filha faz anos hoje. É uma mocinha geniosa. Mas uma amiga fiel, empenhada e
lutadora. Sabedora de que a realidade não é tão doce quanto os doces
confeitados de chocolate. Serenamente consciente (e convenientemente
inconformada) de que, nem sempre a vida vence. Bença, filha.
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