quinta-feira, 4 de abril de 2013

crônica remix-cabo da boa esperança

A esquina da África
A realização da Copa do Mundo na África do Sul permite que informações opacas, raquíticas (sem nenhum trocadilho humanitário, diga-se), daquela região, cheguem para a gente com mais clareza e mais encorpadas (sem qualquer trocadilho humanitário, repito). As grandes redes de comunicação, enquanto seu lobo (a Coréia do Norte) não vem, fuçam de um tudo nas terras de Mandela. Tenho acompanhado. Deu um link, tô atento. Alguns fatos são emocionantes. Traduzem a natureza sublime daquele povo. Ratificam a ânsia indescritível que temos pela liberdade. Relatos nos trazem o heroísmo de Steve Biko e ajustam o nosso entendimento sobre as datas: outras coisas, que não a destruição das torres gêmeas nos Estados Unidos, aconteceram da mesma maneira, trágicas e injustas, no dia 11 de setembro (mas Biko, mártir na luta contra segregação racial, talvez, tenha sido também profético: “Um dia nós estaremos em condições de dar à África do Sul o maior dos presentes - uma face mais humana. Olha a Copa do Mundo aí vuvuzelando-se no sorriso dos africanos).
As notícias do lado de lá do Atlântico, nos trazem um mito, aqui pra perto da gente. Nelson “Madiba” Mandela. Uma presença ilustre no nosso arraiá de junho. Uma companhia querida. Exemplar. Quase divina (e os africanos o têm como tal). Um ser, sem dúvida nenhuma, iluminado. Pleno. Suculento (agora sim, falo do ponto de vista humanitário).
Os nossos enviados à África, falam de tudo, mas...Até agora não vi nada sobre o Cabo da Boa Esperança que, não sei não. Não sei se por esta minha vocação naturalista, acho que é uma paisagem histórica e humanisticamente, fundamental para aquela região.
O Cabo da Boa Esperança fica lá no canto da África. Exatamente na dobra para a Índia. É aquele mesmo citado em latim, nos versos hexâmetros dactílicos de Camões (e seja lá o que queira dizer isso, sei apenas que têm a ver com o humanismo de Os Lusíadas e sei também que ‘dactil’ refere-se a dedos, daí vem a extinta expressão -e profissão- “datilógrafa”, e nada mais do que isso sei). Do ponto de vista geográfico, Cabo é uma massa de terra que se estende sobre o mar e que tem uma influência sobre as correntes marítimas costeiras. É este expressivo traçado que está lá, no vinco meridional da África. E não é um ambiente muito amigável. Detonou, em várias oportunidades, os portugueses. Durante algum tempo, foi conhecido como o Cabo das Tormentas. É o ponto de encontro entre os oceanos Índico e Atlântico e quem assistiu ao filme “Procurando Nemo” sabe que existe uma coisa volumosamente viva nos oceanos chamada corrente marítima. Sabe que mais pra lá, pras bandas do oriente, passa a corrente australiana bagunçando o coreto do Pacífico sul. Sabe que estes chiliquitos revolvem, convulsionam os doces mares.
Ocorre na curva africana, também, uma zona melindrosa de contato entre as massas de ar tropicais e as massas polares que produzem extravagâncias climáticas. Há a diferença de densidade das águas oceânicas, de salinidade, de temperatura, de viscosidade, e outras cositas destemperadas mais que, se a internet não tivesse caído agorinha mesmo, eu as elencaria todas (e dizem as más línguas dos colegas cronistas medievais que por lá aparecem monstros abissais, também).
Em 1488, o navegador português Bartolomeu Dias, que não tinha a internet com estas fuxicagens tão desanimadoras, pôs fé no astrolábio, encarou uns ventos aloprados e varou para o outro lado da África. Abriu caminho ao caminho para as Índias. E el Rei , por questões óbvias, reclassificou o trajeto prontamente, passando a chamá-lo de Cabo da Boa Esperança (as especiarias, as especiarias!!!)
É um ponto do Globo, em todos os aspectos, fascinante. Um dia, se Deus me permitir, ainda vou lá encarar uns monstrinhos, umas vuvuzelas.



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