quinta-feira, 25 de abril de 2013

Crônica remix- black


Black is beautiful
Na terça-feira, vamos comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra. A data relembra a morte de Zumbi na serra Dois Irmãos, em 1695.
Mas ao contrário de tristeza ou ressentimentos, a lembrança de Zumbi dos Palmares, recria uma energia transformadora, uma alegria libertária. Anima a consciência. A consciência negra.
Eu sou negão. Somos todos.
A ciência vem nos alertando (e nos provando) que a raça é subordinada ao DNA. E lá vamos nós para as savanas africanas colorir a pele.
O homem nasceu negro na África e, de lá, migrou para outras paragens. Depois a evolução proveu o revestimento, a Seleção Natural cuidou da maior ou menor dosagem de melanina. Transita fagueiro, pelo sangue do mais autêntico escandinavo, o primitivo gene trigueiro. Não tem errada, o cabelo pixaim deu o beabá do nosso subscrito genético.
Não há como negar. A ciência garante: a tez mais alva, os olhos transparentes, os cabelos longos e doirados são múltiplas expressões da negritude. Janis Joplin é prova disso.
Digo hoje, que a lembrança de Zumbi anima a consciência, porque o negro se impôs e a cada dia procura garantir espaço na sociedade brasileira. Porque o caminho aberto até Palmares, não foi rastreado somente pelo embrutecido Domingos Jorge Velho. Foi seguido ao longo dos anos, por personagens eficientes, objetivos, criteriosos. Irmãos que assumiram a responsabilidade de arrebentar as grades e sumir com os grilhões. Que chamaram para si a responsabilidade de rever a história.
Para cantar a liberdade em tom maior, houve, portanto, a necessidade de deslocar a data de 13 de maio (“liberdade pro negro não é caneta ou papel, nem é princesa Isabel...”) para uma data que mais se identificasse com as lutas do negro brasileiro. Foi então que o 20 de novembro entrou na agenda nacional.
Lembro de uma das primeiras manifestações ocorridas aqui em Belém para comemorar a data. O Movimento Negro estava se organizando, o Cedenpa em formação, arregimentando quadros preciosos para a luta. Foi uma super festa com música do Lazo e muito axé sob o comando do Bido que reinava impávido lá em cima do trio elétrico. E uma multidão ressurgindo, renascendo, como pessoas dignas, corajosas, valorosas. Lindas. Refletindo, repensando, alastrando o negro amor. Black is beautiful!
Que lembrança boa! Aquilo foi uma revolução.
Foi uma época de muita mobilização em favor dos valores, das essências, dos ritmos. Do reflorescimento da auto-estima do negro (do jeito que era no reino de Zumbi dos Palmares). Ribba, o virtuoso poeta do Hera da Terra arrasou no Festival de Música da UFPA com a bela canção ‘Senzala’ e, ali na metade da década de 80, deu a sua contribuição com uma temática ardente, atraente que reconstruía a poesia na perspectiva do negro.
E eu não disse que a lembrança do rei Zumbi anima a consciência. Também, na época, diante da história recontada, despertei para um mundo novo e fiz um poema...livre.
Este ano, estou atento aos movimentos. Debates, conferências, palestras vão marcar o dia 20 (será que vai rolar também, uma grande festa nos moldes daquelas dos anos 80. Será que vai ter trio elétrico?).
No teatro Waldemar Henrique, três cantoras negras vão reverenciar Zumbi dos Palmares num show que se anuncia como dos mais empolgantes (como nos velhos tempos, na sede do Cedenpa).
Ah, e se alguém que for ao Waldemar Henrique, sair do show duvidando que as cantoras sejam negras, eu garanto: vieram todas das savanas africanas. Atravessaram o Estreito de Bering e deram por aqui há coisa de 12 mil anos. São todas negras.
Negras como a Janis Joplin.

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