sexta-feira, 23 de março de 2012

crônica da semana-dark side

O outro lado


Já me perguntei onde é o horizonte. Por que de maio a dezembro chove menos do que de janeiro a abril; por que não faz frio em Belém; Por que o Nazismo ascendeu na Alemanha; por que Getúlio suicidou-se; por que se fala mais da Antártica do que no Ártico; por que não sou rico; por que o céu é azul, o mar é azul, o leão é azul; por que os pequenos ouvem música no celular sem fone de ouvido; por que se mata, por que se morre, por que se vive... 

Uma coisa que aprendi, e que tenho pra mim como ganho na vida, é esta impulsão a perguntar. Esforço-me para que as coisas não se acomodem na indecisão, não vagueiem na escuridão, não permeiem o absoluto cego. Como dizia meu professor Werner Truckenbrodt,. mais importante que o fato, é o processo. É a busca pelo encadeamento de causas, Isso é fascinante. 
Vivo fuçando, querendo aprender, querendo me convencer da ordem das coisas, dos feitios e dos nexos. 
Considero importante a apreensão coerente de traços da realidade porque nos protegemos do ilusionismo, da enganação. Nos amparamos em informações científicas, em observações e até mesmo em sensações (por que não), para nos desviarmos dos maus e dos perigos que nos rondam travestidos de crenças, de promessas e de encantos. 
Algumas questões dessas, macros, universais, pra mim descartam o uso de óculos para enxergá-las. Por exemplo, a mim é muito clara a afirmativa de que todos os astros no universo giram em torno de si (e integrados a um sistema também). Pode até ser que um asteroidezinho lá nos cafundós do sistema solar não gire. Seja um bestalhão cósmico que não aproveita a graça do movimento. Mas ele tá errado. Não vou me levantar para apanhar algumas bibliografias que comprovam o movimento do universo. Vamos admitir que sim. A Terra, tenho certeza (e deste movimento nos vem o dia e a noite). A lua gira. Todo o universo gira. Por quê? 
Sempre que há o ensejo e o interlocutor me permite, faço essa pergunta (Argelzinho, meu filho, tadinho, sofre com a minha sabatina). E a faço, não porque sou metidão ou porque quero criar cizânia. Faço porque a acho intrigante. A vejo como uma pergunta chave para esclarecer nossa existência e uma carrada de realidade que presenciamos. E a faço esperando aquela resposta mais pertinente e normalésima: “não sei”. “Sei lá”. “Porque sim”. 
Mas outro dia, recebi uma resposta inesperada. Um amigo negou a dança dos astros e justificou afirmando que a Lua não gira. Baseou-se no fato de a gente ver somente uma face da lua, aqui da Terra. Isso é bronca. E mais ainda, porque a partir desse entendimento ele começou a discorrer sobre uma mítica astrológica baseada nessa patetice da Lua. Definiu personalidades, corroborou previsões (inclusive esta do fim do mundo agora pra 2012), certificou cenários políticos, perfis emocionais, a partir desta certeza de a Lua ser imóvel. Mas olha só como são as coisas. Meu amigo estava inebriado por este discurso. Dominado. Na hora eu dei um sacolejo nele. A Lua gira, amigo. Vemos somente um lado da lua (o outro é o famoso Dark Side of the Moon magnificamente sonorizado pelo Pink Floyd) porque após o período de iluminação plena (lua Cheia), o outro lado, que nos chegaria por causa da rotação da Lua, é eclipsado. O envolvimento total do lado oposto, pela sombra da terra, ocorre na Lua Nova. Tentei convencer o meu amigo do equívoco em que ele estava metido. Alguns dias depois ele me enviou uma mensagem dizendo que eu estava certo. A Lua gira mesmo em torno de si. Mas não me falou se a crença dele, por cauda desse novo jeito de ver a vida, alteraria aquele presságio sobre o fim do mundo. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário