quarta-feira, 15 de maio de 2013

crônica remix- salve 14


Um Beijo e Um Abraço
Um beijo e um abraço é o presente que sempre peço no Dia dos Pais, ou no Natal, ou no dia do aniversário.
Ensaio com os meus filhos os passos que me foram ensinados pela minha mãe: não quero nada de nada. Coisas como aquele velho par de meias bege ou a obsoleta caixa de lenços quadriculados, não. Ou um sapato pai d’égua, de fivela doirada no ladinho, não. Ou um jogo de toalhas compradas no mais chique armarinho da Pedreira, não. Nem o profuso celular. Quero só, mesmo, é o amor  e o carinho de meus meninos.
Não que eu exagere na conduta franciscana. Nada disso. Eu até que gosto de uma sofisticaçãozinha aqui e outra ali, de quando em vez: uma rodada de chope e bolinhos de bacalhau num cantinho refrigerado do shopping, ou o bom disco do Buena Vista Social Club, embrulhado em papel de presente, pra completar a festa. De vez em quando, mas que não me venha a reboque de simbolismos, que não me venha substituindo sentimentos. As minhas frugais vontades são heranças deixadas pela minha mãe, ah, a minha mãe...
Passei dez anos andando por esta Amazônia exuberante, cavucando meios de vida. A minha mãe sempre ali, longe aos olhos, mas pertinho, com a sua bênção.
E no dia do meu aniversário, em especial, ela reproduzia  aquela  crença de um presente ser sempre diferente de bens materiais, e exercitava esta profissão de fé  com uma cartinha ( pura emoção para mim, lá no longe), que iniciava sempre assim “ Salve 14 de maio, dia em que recebi de Deus o meu maior presente: meu filho...”
Neste instantinho só, a minha mãe me derrubava. Lá  no ermo amazônico em que eu estivesse, me recolhia pávulo às ternas lembranças daquela mulher franzina e portentosa que daquele jeitinho, sem recatos ou timidez declarava sua paixão. E, orgulhoso, pendia eu, inerte, vencido pela enorme saudade da mamãe, para um canto solitário do meu coração a debulhar lágrimas distantes.
Mas o tempo, heim. Implacável a rotinizar as mais puras intenções. Nos anos seguintes a cartinha se repetia inadivertidamente: “Salve 14 de maio...” E assim, pelos dez anos que viramundiei por aí. E eu nunca que reclamei. Eu, heim, Deus te livre e guarde, nem pensar! Sempre fiz a maior questão de receber os escritinhos meigos da mamãe, no padrã o dia- do- nevessário. E a sensação era sempre a mesma. A de filhinho queridinho, amamãezado. Distante. Pertinho. Sozinho no mundo, mas com a certeza da bênção maternal a me confortar.
Aprendi, então, com minha mãe (porque ela  fazia questão de explicar direitinho pra gente, quando perguntada sobre qual presentinho desejaria ganhar, o quê lhe bastava, realmente) a pedir um beijo, um abraço e muita paz em qualquer ocasião. Aprendi o quanto um gesto simples se traduz em amor imenso, quando, perdido pelas selvas amazônicas eu era encontrado pelas palavras carinhosas, sinceras, abrigadas no aconchego de sua cartinha. Que iniciava, invariavelmente, desse jeitinho: “Salve 14 de maio...”

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