sexta-feira, 3 de maio de 2013

crônica da semana - flor de maio


Flor de maio


É prosaica a passagem em que fomos instalar uma lâmpada em casa. À época, eu fazia, exatamente, um curso de elétrica. Peguei papel, régua, lápis HB, tracei meu esquema unifilar, consultei meus apontamentos, cobri tudinho com lápis 2B. Quando terminei o projeto, Edna tinha feito toda a ligação e a lâmpada até acesa, já estava. E eu fiquei patetando com o meu desenhinho na mão. 
Edninha, no dito dia de hoje, completa mais uma primavera. E eu me avio em manifestar aqui a minha admiração pela minha Flor de maio. 
No princípio, éramos amigos. Mas antes de tudo principiar, ela foi minha aluna na colônia de férias da Escola Salesiana do Trabalho e assim, no lampejo, me vem a imagem daquela adolescente vestindo o uniforme simplesinho da LBA, pingafogueando entre as quadras de Cemitério, Vôlei, jogando Macaca, nas manhãs ensolaradas da Sacramenta. 
Anos depois, nos encontramos numa feira de arte que nos proporcionou toda a graça e a plástica libertária na dança de Jaime Amaral. Não era mais aquela garota serelepe da colônia de férias. Era uma mocinha jeitosa e atraente. 
Daí pra frente, viramos amigos. Nos batíamos atracados por tudo quanto havia pela noite de Belém. Tocaia, Adega do Rei, Bar do Parque, Bar brincadeira (aquele bar da 14 de abril, aonde eu, pela primeira vez na minha vida, vi balões pretos), tertúlia da New Wave, sambas e pagodes  na Embaixada de Samba Império Pedreirense e happy hours no Pisco. Na época, eu trabalhava por aí, pelo mundo, mas era só eu triscar o pé em Belém, de folga ou de férias, que a gente marcava pra dar um rolé, 
Confesso que não sou santo nem nada e, uma ou outra vez, nos embalos de sábado à noite, eu me quedava aos enxerimentos, mas era, repreendido elegantemente, com um “ti quieta, somos amigos”. 
Até que um dia, durante o show do Manga Verde, na reinauguração do Mercado de São Braz, nos animamos além do escrito. Um espetáculo. Os músicos arrebentaram. Não deixaram ninguém parar quieto. Pulamos, dançamos, nos abraçamos e... nos beijamos suados... 
No outro dia cada um com o seu sem jeito. Nos perguntamos o que seria dali pra frente, já que éramos tão amigos e, no calor daquela noite, não havíamos resistido um ao outro. E a resposta veio rápida, meio óbvia, e segura. Dali pra frente, seríamos namorados. 
Juntamos nossas tralhas, de vera, em Macapá. Poucas tralhas, diga-se. De mais importante, e funcional, tínhamos uma rede e um rádio. O suficiente para vivermos momentos maravilhosos, à beira do Amazonas ao som de Pink Floyd e Janis Joplin. De volta para Belém, ratificamos nossas juras. Vieram os pequenos Argel e Amaranta. Formamos nossa família. 
É a mulher que ‘me suporta e chega a me amar’. Tem personalidade forte, decidida, objetiva. Não desaba diante do primeiro obstáculo. Reconheço na minha companheira o espírito lutador e vitorioso. Sei como é a nossa sociedade e o quão difícil é para uma mulher, garantir espaços, granjear sucessos. Ano passado, Edna me deu uma lição de vida. Depois de duas gravidezes seguidas, as ocupações com os meninos, com as pendências diárias, rotinas e prendas vulgares, minha namorada quebrou preconceitos e realizou o sonho de um curso superior (formou-se em Matemática, superando, inclusive este um aqui que vos escreve, que entrou antes dela na Universidade e estacionou no quinto semestre de Geologia, para nunca mais de lá sair). 
Minha companheira, Edna, hoje, completa mais uma primavera. E eu me avio em manifestar aqui a minha admiração por esta mulher fascinante. E, confesso que tenho me esforçado para ser digno de, ao menos, desatar-lhe os cordéis das sandálias. 

Um comentário:

  1. Ai, meu Deus, que coisa linda.
    Acho a Edna tão bacana: tu és tão doido e mesmo assim ela te aguenta, haha.

    Essa crônica me faz ter esperança de um dia ter um amor assim, que me aguente mesmo eu sendo meio maluca...

    Feliz aniversário pra Edna!

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