segunda-feira, 11 de junho de 2012

crônica remix- compositor popular


Salve o compositor popular
Esses dias, me deu uma doida e eu resolvi cantar. Escolhi uns desafortunados amigos ‘no qual pega’ e mandei, por e-mail, por telefone e até ao vivo, uma versão minha, ao violão, para a bela canção “Quem é você?” de Isolda e Eduardo Dusek.  E não sei se por desmedida educação ou por exagerado respeito, os meus pacientes ouvintes confessaram ter gostado da minha interpretação. O ditado é certo mesmo: é melhor ter amigo na praça...
Mas não foi à toa não, que eu forcei a audição. É que esta música, certa vez, cravou em mim os pródigos e sinceros sentimentos que fluem do coração do compositor popular.
Foi numa tarde juvenil da década de 80 do século passado. Mamãe e eu esperávamos o tempo passar à frente da TV, ligados no que falavam os garotos do Serginho Groisman. A atração musical do programa era o Eduardo Dusek. Entre um “fala garoto” e outro, Dusek se adiantava no repertório. Veio o Nostradamus com o apoteótico final “Levanta, e serve um café...que o mundo acabou”; rolou o rock do cachorro, que em época de pit bulls assassinos, vem bem a calhar “troque seu cachorro por uma criança pobre”, e o artista encerrou a participação no programa cantando   “Quem é você?”, uma balada romântica.
Esta mudança radical do Dusek, saindo dos ritmos balançados e das letras espirituosas para uma melodia cadenciada pelo tuntuntum do coração pegou a platéia de surpresa e a meninada aquietou-se. Mas o cantor não arrefeceu. Esta apatia do auditório deu chance para o aparecimento, à frente do piano, de um espírito superaquecido. Forjou um discurso melódico convulsivo. Dusek agigantou-se. A emoção era tanta que parecia que o artista estava cantando para um Maracanã lotado. Trouxe o coração para adoçar o mais amargo dos versos e deslanchou numa das mais belas interpretações que eu já vi na televisão brasileira. Poucas vezes, vi tanta energia descarregada em favor de uma canção. E “Quem é você?” sobrevive em mim como uma bomba devastadora, como um vendaval apaixonante, ardendo em sonoridade e poesia.
Igual sensação se instalou em mim, somente mais uma vez e veio do desvelo do melhor dos compositores paraenses. E foi também, inesquecível:
Fazíamos um giro pela noite, patroa, meninos, todo mundo curtindo o que Belém tem de bom.
Eis então, que resolvemos dar uma passada lá na 25, na casa do meu compositor preferido. Ele nos acolheu junto ao seu talento, pegou o violão e disse “olha aí, gente, o que eu fiz...”.
E, sabe aquele vendaval? “Aconteceu!”. Veio que veio e se abateu sobre o ambiente e as mentes se aquietaram diante da grandeza daquela interpretação. E foi tão bom! Que coisa louca, sem nome, a música (a mais maravilhosa do mundo) faz com a gente!
Quando nos livrarmos do flagelo a que somos submetidos todo santo dia pelos abomináveis pops pops da vida, vamos conhecer a melodia encantadora do iluminado compositor paraense. Enquanto Deus não se apieda da gente, e enquanto não me dá uma doida para que eu saia por aí mandando bem na interpretação, deixo, a nos acariciar, a poesia que ‘Rosângela fez’ para dar alma à canção: Da poesia que fiz/Comprei meu pão de cada dia/com meu sentimento/Minha ilusão/Vesti meu coração/com versos embrulhei/as coisas que sonhei/dei de presente/a tanta gente que me ouvia/falando do amor/que eu nunca conheci
eu era infeliz e não sabia/
Aconteceu!/Você chegou/Trazendo tudo que eu sonhava/e em mim nasceu aquela velha chama/que eu há muito tempo falava/Do pouco que durou/Valeu quanto custou/Fez-se homem/meu coração menino/Depois que terminou/provou que existe amor/na fome que agora estou sentindo.
Sublime, simplesmente!

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