sábado, 28 de abril de 2012

crônica da semana - feice

O feice, o fechecler e a cizânia
Coisa que mais me destrambelha o entendimento, que mais me ataranta os pensamentos é o funcionamento do fechecler (fecho ecler para uns, fecho-de-correr para outros e zíper para outros tantos). Alguém sabe como funciona aquilo? Um segredo para mim, até hoje indecifrável. Sei que é uma espécie de tirirical que se abre nas horas mais impróprias. Agora, como os dentinhos, depois de fechados se aquietam estanques, isso eu não sei não. Acho, porém, que esta pecinha que não pode, de jeito e maneira faltar nos armarinhos, é umas das grandes invenções da humanidade. Ô belengodengozinho que nos vale de útil e de ágil. Quem nunca abriu com ligeireza e jeito, um? (do outro, no caso). Não sei se minha mulher Edna domina o conceito emaranhado do zíper, Sei que ela sabe consertar. É batada. O bicho bandou, daquele jeito que larga uma das fieiras; ou cegou, de modos que não atraca nem de ida nem de volta, a Edna aparece com um palitinho salvador e dá um jeitinho até que uma ‘cingida’ definitiva resolva a parada.
O fechecler, além de ser este mar de dúvidas na minha vida, além de me expor as preciosas partes algumas vezes e, mesmo assim , me deixar bestinha da silva de simpatia, aqui-acolá, também, já me ensejou a cizânia com a mamãe. Quando ela me dava uma amostra do zíper e me mandava na feira, eu já me tremia todo. Era carão na certa. Sempre me empurravam um que não era aquele recomendado pela mamãe. Agora pare, esse menino, pra acertar! Voltava chorando, mais emburrado do que bode embarcado, quantas vezes fossem necessárias, até achar um que combinasse direitinho com o tergal da encomenda.
Quer ver outra coisa legal: computador. É uma jóia da civilização, um diamante da ciência. Se a gente não convivesse, quase que diariamente com esta máquina, não colocaríamos a mão no fogo por ela. Porque o que ela faz é simplesmente extraordinário, meio que inacreditável. Mas, hoje em dia, não tem escapatória. Vivemos ‘face to face’ com esta máquina inteligente. Até nos nossos pensamentos, o computador está presente (‘no que você está pensando?’). E é claro que não vou enveredar aqui, pelos escaninhos que explicam o funcionamento desta máquina formidável. Zeros e uns fora, fiquemos com o encanto e com a tranquilidade de saber que embora desligado da tomada, é ele, nosso maior confessor. Tá tudo guardadinho lá nos circuitos complicadinhos e nos chips adelgaçados. Tanto o que nos enobrece quanto o que nos avilta.
Telefone celular é outra criação danadinha de boa. Traz a pessoa pra perto, onde quer que ela esteja, facilita as agendas, otimiza tempo. Quando falo para meus meninos que em Rondônia, na época em que trabalhei por lá, nos início dos anos 80, nossa diversão era rodar umas fitas cassetes com gravações que um doido mandava pra gente lá de São Paulo, de programas como O Clube do Bolinha e Barros de Alencar; quando digo que nossa comunicação com a família era feita exclusivamente por carta (o que nos revelou a eficiência dos correios: podíamos estar lá nos cafundós, a correspondência demorava um tempinho pra chegar. Mas chegava); quando afirmo que as ondas curtas do rádio eram a única forma de contato com a capital Porto Velho e que a estrada nos engu’iava, de tanto buraco que tinha...quando falo essas coisas, meus meninos nem ligam. Dizem que já estou tempo demais no ‘feice’ e pedem pra eu sair, que é a vez deles. E enquanto me expulsam, dedilham mensagens no celular, contando em tempo real, novos e atualizados motivos para a cizânia na família. (Nada a ver com as cizânias advindas do fechecler, diga-se).

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