sábado, 14 de abril de 2012

crônica da semana- porres de

Porres de felicidade  

Passar no vestibular é difícil. Mais difícil ainda, é sair da Universidade. Este presságio (bem desanimador, convenhamos), na verdade, um banho de água fria que dá uma amainada no fogo dos calouros, a gente ouve no primeiro dia de aula e luta contra ele com a força que se tem. Essa semana uma gente querida derrubou este prognóstico empalidecido. Meus meninos da Geologia e minha mulher Edna superaram os obstáculos e receberam o tão cobiçado canudo do terceiro grau. 
Destaco a garotada da Geologia porque foi a turma que frequentei pela última vez em que estive por lá, pela Federal. A turma de 2007. Eu vinha me engatando desde 2004 e vivi os estertores de minha carreira universitária com esses meninos. Aprendi com eles. Na verdade, sou fã deles. Empedernidos, espíritos sólidos, abriram meus olhos para uma nova juventude. Uma rapaziada responsável, safa, como se diz (alunos de estirpe rupestre, graduados, primeiríssimos colocados). Revolucionários (quebraram paradigmas no nicho clerical das geociências). Fui um cara agraciado por poder participar da vida desses garotos e ter com eles momentos capitais. 
Viajamos juntos. E este é o grande barato do curso de Geologia. A gente se emboleta, se ajunta. Por causa deste grude inevitável, rola a amizade, uma amizade diferente das outras. Daquele tanto que requer parceria, solidariedade, companheirismo. Imaginem um eu quarentão, subindo e descendo barrancos nas pesquisas de campo. Ai de mim, se não fosse o Válber, o Pedro, o Nathan...Os moleques me poupavam. Se era pra barter o martelo lá em cima, pra medir uma atitude numa nesguinha bem no corte da estrada, se era pra encarar o solão...me poupavam e iam lá, naquela empreitada, numa felicidade íngreme. Ralávamos o dia todo à base de biscoitinhos e chopes de groselha nos vilarejos em que varávamos. À noite, a sisudez dos pequenos me impressionava. Relatório, pesquisa, elaboração de textos, desenhos. Saíamos para um relax, só depois de concluídas todas as nossas obrigações. Depois, ah, depois, era mais que justa uma rodada de cerveja, um violãozinho, um papo sem nexo. E eu no meio. Tenho saudade daqueles dias de dezembro, ali, na biqueira do Natal, abrigado aos incontáveis talentos dos meus queridinhos colegas de aula. 
E eu que não creio, rogo por eles, para que sejam profissionais de sucesso, comprometidos, entusiasmados; que amem a carreira que escolheram. E que brilhem com altivez e rigor, como brilha o Coríndon do anel que agora, geólogos formados, ostentam no anular. 
Aqui acolá, quando tô de prosa, conto para os amigos, a história do fogo. O impacto que a descoberta do fogo teve para a preservação da espécie humana. Antes do uso do fogo, o homem dormia pouco, ou não dormia. Não sonhava. Vigiava porque era presa certa de predadores poderosos. Lobos, felinos. Quando descobriu que com uma chama poderia se defender, o homem pôde metabolizar proteínas, desenvolver a mente. Pôde dormir. Pôde sonhar. 
Acredito que minha companheira Edna Nunes passou por uma experiência desse porte. Valeu-se do fogo. Engendrou químicas, equilibrou reações, enriqueceu-se de combustíveis. Fez-se chama. Traçou caminhos e os iluminou com sonhos. Venceu os perigos do Cálculo I, as sinuosidades da Geometria Euclidiana, o vai-em-cima-vai- embaixo da função Seno, o terror inominável da Análise Real e postou-se linda e orgulhosa para receber o diploma de Licenciatura em Matemática. Edna nunca me confessou, mas sei que o desejo dela era ser professora. 
A semana me deu dias inesquecíveis. De realizações. E eu, ora, eu tomei vários porres de felicidade. 

Um comentário:

  1. Querido, fiquei muito feliz de te encontrar ontem!

    A Edna tava muito linda, a Amaranta também. Tu tava lindão, como sempre. E deu pra ver que realmente estavas porre de felicidade. Sorrisos advindos desse tipo de porre são inconfundíveis!

    Um beijo grande em todos, parabéns pelas vitórias!

    Loló.

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