sábado, 21 de abril de 2012

crônica da semana - roupão

Roupão folgadão

Se vossa mercê está pensando em fazer uma cirurgia, eis o meu conselho: quando acordar da anestesia, passa logo a mão lá. Não é por nada não, é só pra aliviar a consciência. Pra saber se as partes estão tudo no lugar (e quem viu o filme ‘A pele que habito’, entende a minha neura). 
Se a cirurgia for eletiva. Eleja não fazer. Não force a barra. Uma operação não deve ser coisa que nos encha os olhos. 
Primeiro, porque a gente entra na sala de cirurgia, com um roupão folgadão e dis’costas. A desconfiança é certa nessa hora. A gente não vê o que nos espera. Depois, na mesa, alguém à ré, enfia uma agulha quilométrica na nossa coluna e pergunta se dói. Ora, se dói. A gente grita ai, e apaga. Pronto. Dali em diante, estamos entregues. Nenhuma possibilidade de voltar atrás. (A minha preocupação era aquele roupão folgadão expondo as partes, por isso, quando tornei ao quarto, foi a primeira coisa que prospectei: o meu birimbinho querido. Passei logo a mão. Eu heim, vai que erram...ainda dava tempo de remendar). Nessa hora há de se ter confiança absoluta nos médicos. Estamos nas mãos, nas pinças e nos bisturis deles. 
Abalei-me à pedra por causa do meu joelho direito que foi-não-foi, enchia de água e me nocauteava. 
Foi na época do insuperável Internacional da Mauriti que eu me lesionei. Tava no auge. Havia uns contatos com o pessoal do Tiradentes, umas conversas com a turma do Alegria, para o Futebol de Salão, mas, o que me animava mesmo era a prosa de um vizinho ali da Marquês, que me dava a maior moral e que alardeava aos quatro cantos, que ia me levar para o Paysandu. A gente traçava, toda tarde uma porfia com os moleques das redondezas. Quando o meu futuro empresário passava pela rua, eu dava uma caprichada. Defendia, voava pela lateral, dava uns guizas legais, e até, com metro e meio de altura, cabeceava. Procurava lustrar a minha bola pro homi. E as tardes corriam e eu vivendo da promessa. Até que, numa parada dessas, de prafrentice, de querer me mostrar, entrei todo troncho numa dividida com o Pé-de-galho, e caí sobre o joelho. A minha carreira de jogador de futebol acabou ali. 
Passei alguns anos teimando e me valendo da generosidade do Juca (o doutor José Calandrini) que me acudia nas vezes em que me via de dor, com o joelho por acolá. E como devo ao doutor Calandrini. Porque eu era um moleque atentado. Todo penso, cachinguento, mas era pintar um jogo que eu me amarrava todo e caía dentro (a inesquecível conquista do time de Mineração sobre o turno da noite de Paulo Robson e companhia foi assim, com o meu joelho enfaixado. Gol meu, ressalte-se, na empolgante final das Olimpíadas da Escola Técnica em 1982). 
Penei muito com esse joelho. Fiz algumas dezenas de punções (aquele procedimento que o médico introduz uma agulha deste tamanho na articulação femurotibial pra tirar o sangue batido, credo!). Mesmo depois da Escola, já trabalhando, ainda fazia as minhas traquinagens com a bola, pelas Minerações por onde passei. Sempre desdobrando a peraltice em hospital, em imobilizações, gessos e anestésicos. Até que um dia, resolvi tirar fora minha cartilagenzinha. 
Esta cirurgia, para os jovens, para os atletas que têm a musculatura desenvolvida, é mamão com mel. Faz hoje, amanhã já sai andando. Não era o meu caso. Quando fiz a cirurgia, não corria mais nem de chuva, o esporte que praticava assim, com movimento, era embalo na rede e o maior esforço se dissipava em levantamento de copo. Resultado: Mesmo depois da cirurgia, o joelho ainda dá trabalho. Mas eu não ligo mais, afinal o meu sonho de jogar no Paysandu já era mesmo... 

2 comentários:

  1. Êta,é tçao bom pegar um arzinho nessas horas de desespero,mas por outro lado,né...o outro lado é o que me preocupa. o.o

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  2. oi sodré, eu vi a pele que habito e adorei. só fiz cirurgia 2 vezes, pra colocar e tirar a platina do braço, quando quebrei o pulso, há muuuuito tempo. ainda lembro da dor da anestesia e do pós-operatório. p.s. tenho um material pra te entregar, do concurso do ipamb. vc tá na vila durante a semana? responde lá no face que semana que vem eu vou ter folga. boa semana.

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