sábado, 29 de outubro de 2016

crônica da semana - picadinho com banana

Picadinho com banana
A casa tava um alarido só. Parentes próximos, agregados, a primaiada dos meninos. Um dia movimentado. Mês de Julho. Nossa casa na Vila dos Cabanos era foco. Dava o fim de semana de férias e haja rede atada... e haja feijão no fogo. Tínhamos uma tática para dar aquela economizada. Sabe como é que é...muita gente. Passava no supermercado, comprava um tanto de picadinho, e pelo menos quatro tantos além de carne de soja. Fazíamos aquela mistura, rolava um tempero mais aquele pra ilustrar e com isso a gente passava. A galera comia que era uma maravilha. E ainda elogiava o padrão do picadinho.
Sou ainda do tempo da máquina de moer carne. Consistia em artefato de metal leve, dotada de um bocal receptor traspassado por uma rosca helicoidal ligada a uma manivela. A gente cortava a carne em cubos, posicionava dentro do bocal, fazia uma ligeira pressão até a carne encostar na helicoidal, daí, girava a manivela. Este movimento fazia com que a carne fosse triturada e ao mesmo tempo transportada, até sair pelos orifícios de uma tampa montada ao final do compartimento onde a rosca atuava. A razão desta tampa ser perfurada era exatamente controlar a qualidade da moagem. A carne só passava pra fora, se estivesse no jeito em tamanho e forma. O esperado era que, moída, a carne fosse aparada por um prato ou uma vasilha, e chegasse ali sem dificuldades. Era inevitável, porém, que o processo perdesse rendimento porque a carne engatava na saída, havia o atrito, a redução da velocidade, uma quantidade de gordura mais viscosa que agregava. Rapidola, a gente passava o dedo indicador em toda a área perfurada, retirava dali o excesso e mandava ver de novo na manivela e empurrando carne bocal adentro. Não sei o tipo de carne melhor que mamãe usava. Sei que na hora de fazer o picadinho eu sempre me apresentava para operar a máquina de moer carne. E que depois, na hora do almoço, ficava todo pávulo dizendo que eu era responsável pelo cumê nosso daquele dia.
Nesse tempo ainda não havia carne de soja. A soja é originária da China. Chegou ao Brasil em 1882, começou a ser cultivada comercialmente em 1914. É rica em proteínas e o site que consultei não informa o início da produção industrial da carne de soja.
O picadinho é nosso velho conhecido aqui em Belém. É componente principal do famoso cachorro-quente de esquina. No carrinho de lanche, é oferecido o completo com cebola, tomate, queijo ralado, batata palha, maionese e catchup à vontade.
Desde os tempos da máquina de moer carne, me acostumei, ali no cumê nosso de cada dia, a compor o picadinho com feijão, arroz, um-isso-assim de farinha e uma banana.
E naquela arrumação toda de hora de almoço, nas férias de Julho, depois daquele picadinho/soja do jeitinho que eu gosto, um abençoado me chega com uma terrina têi têi de açaí. Eu, com um pavor pecador nos olhos, só lamentei: “Pôxa, gente, eu comi picadinho com banana, olha, que pena!”
Porque para mim, o canto é certo e vale o dito da mamãe. Banana ou qualquer outra coisa, com açaí, Deus te livre e guarde! Faz mal.


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