segunda-feira, 12 de agosto de 2013

crônica remix -botafogo

O glorioso
" Guardo até hoje, íntegro, o sentimento do primeiro encontro. Foi no minúsculo estádio de General Severiano, na tarde do dia 10 de setembro de 1944. Tinha eu acabado de chegar de Xapuri (...) O Botafogo é bem mais que um clube - é uma predestinação celestial. Seu símbolo é uma entidade divina. Feliz da criatura que tem por guia e emblema uma estrela. Por isso é que o Botafogo está sempre no caminho certo. O caminho da luz. Feliz do clube que tem por escudo uma invenção de Deus”.
O trecho acima foi extraído da crônica “O Botafogo e eu”, do jornalista Armando Nogueira. Meu conterrâneo era um apaixonado pelo clube, “e com tal zelo” que no final da crônica afirma: “O Botafogo sou eu mesmo, sim senhor”. No último domingo, os torcedores botafoguenses, mesmo aqueles dispersos no mais improvável rincão do Xapuri, avalizaram o sentimento do cronista. No gramado do Maracanã, estávamos todos, junto ao guarda-meta Jefferson, ali, abrigados no peito do goleiro, sob a égide da Estrela Solitária. E saltamos destemidos para, com um tapinha instintivo, provedor, dispersarmos o fogo inimigo para longe da nossa área. ‘O Botafogo somos nós, sim’ e saltamos junto com o Jefferson para honrar as tradições do glorioso.
O Botafogo tem esta capacidade de suscitar insuperáveis paixões. De reger fidelidades, instituir amores. Ratificar loucas e imponderáveis opiniões.
Mas, “há sempre um pouco de razão na loucura”. Os meus porquês para este apego sem regras ao Botafogo, não são tão celestiais (ou são?) assim, como os do ilustre jornalista acreano. Estão ali do lado direito do campo. E nem vou contar com o Garrincha. Quando cheguei aqui, (vindo, assim como o Armando Nogueira, das terras encantadas do Xapuri), e tomei termo nesta Belém amada, o Garrincha já havia deixado o Botafogo (jogou no Botafogo de 1953 a 1965). O grande astro do alvinegro carioca, por aqueles dias, era o Jairzinho, que com muito vigor e estilo reiterava a missão sagrada de jogar na ponta-direita do Botafogo. Naquele tempo as jogadas de fundo, o talento exibido em espaços exíguos do campo, os guizas e os dribles curtos e devastadores ainda eram valorizados (depois veio o overlap, o ponto futuro, a tal da tática positivista, o obediente ‘Búfalo Gil’... e o ponta reduziu-se acanhado e sem sal, até sumir). Tanto que a crônica esportiva reconheceu que para atuar ali o jogador tinha que ter a essência, tinha que ter o dom. Tinha que ser um ‘ponta nato’. Tinha que nascer com a chama, com o brilho. E tinha que provocar espanto, deslumbre, êxtase e encantamento. O Botafogo, naqueles tempos, produziu uma sequência memorável de jogadores. Era de impressionar (e quem viu o jairzinho jogar na copa de 70, vai me dar razão. O cara arrebentou. Foi o nome, dentre os nomes daquela seleção. Parecia que estava possuído por uma força estranha. Fez gol em todos os jogos daquela grande conquista. Um fenômeno!).
Impressionei-me e virei um botafoguense ali, ó, no jeito.
Logo depois do Jairzinho, o Botafogo lançou o Zequinha. Era o tipo do ponta serelepe. Sassariqueiro. Era um espetáculo. Dava gosto de ver o zequinha jogar. No templo sagrado do futebol, Zequinha jogava como se estivesse com a minha pariceirada, no sábado de manhã, lá no campo do Asas do Brasil. À vontade, muito à vontade para ir até a linha de fundo, cruzar e nos fazer felizes.
As minhas razões para morrer de paixão pelo Botafogo são meio que uma gratidão pelos momentos em que o clube nos presenteou com a arte pura do futebol. (E também, remetem aos surpreendentes Fischer e Ferreti, nossos ‘El loco Abreu’ de antes. Mas isso é outra história).

Nenhum comentário:

Postar um comentário