sexta-feira, 22 de março de 2013

crônica da semana - a beleza da rosa


A beleza da rosa
Semana movimentada essa. Equinócio, Dia Mundial da Água, uma fortíssima mobilização contra a intolerância religiosa. Fatos. Retratos da realidade. A vida de palmo em cima. Mas nem sempre percebida.
Assunto perigoso este de religião. Vespeiro. Mas bem a calhar com a água (que tal qual a fé, é argumento de arengas, gozos e sofrimentos) e com a passagem do Sol pela Linha do Equador.
A água surgiu nos primórdios da existência da Terra, tão logo a concentração de oxigênio e hidrogênio permitiu a amizade, a intimidade entre estes dois elementos químicos. A diferença de temperatura fez o resto. A água é resultado da diferença. Da contradição. Da desconstrução do que é estável, leve, lívido. Uma enfartada massa de ar quente e uma árida massa de ar frio quando se encontram, produzem o nosso líquido precioso. Reiteram o ciclo benfazejo que nos irriga o coração e a mente.
Nosso cocuruto demora um pouco para apreender a importância desse encontro quente/frio. Ou não quer mesmo entender. O cuidado com a água ainda é um sonho que sonhamos sem conseguir bons resultados. Corremos o risco de ficar sem. Aqui mesmo na beira do Amazonas, temos, mas não temos. A água é cara, apesar da trombada diária das nuvens despejarem um mundo líquido sobre nós. A água nos custa e nos falta. A água escorre sobre a Terra há uns quantos milhões de milhões de anos, se renovando num ciclo meticuloso, criterioso e frágil. É uma realidade, uma verdade abonada pela natureza. O homem, no entanto, não percebe que representa um risco para a recriação contínua deste precioso bem. Destrói margens, derruba florestas, contamina nascentes, aterra leitos de igarapés, joga tudo quanto é porcariada dentro dos rios. O Dia Mundial da Água, comemorado ontem, traz programações, reflexões, pesquisas, ações, exemplos e certificações sobre o nosso comportamento diante de nossas reservas de água doce. É uma oportunidade para que a gente, diante de uma realidade, a perceba com candura, humildade e racionalidade.
O Equinócio não rouba espaço das nossas prosas diárias e não é assunto sacralizado em mesa de bar. Ocorre duas vezes por ano, é uma realidade pouco percebida, mas fundamental para a dinâmica do nosso planeta. Ele expressa o significado exato da relação que tem a Terra com o Sol. É um momento quase humano do nosso planeta. Socialista (divide luz e calor de forma bem divididinha entre todas as terras e os povos), o Equinócio é um aprumo altruísta do planeta que torna iguais bárbaros do sul e escandinavos de tez aporcelanada.
Assim como o dia e a noite, como a lua cheia, como o ‘tiquetaquear’ ritmado do relógio, o equinócio é indicador de tempo. É esta passagem do Sol cruzando a Linha do Equador que define as estações do ano, determina o calor, o aquecimento que nos cabe em cada hemisfério. Nos traz a chuva, as flores, jambo, manga, o abafado de dias estirados, a saudade de um amor antigo...Não há mistérios nem misticismos nesta passagem. Agora em março, há as marés grandes nos estuários e só. Nada que estimule ou aumente nosso estresse. O Equinócio acontece para ratificar a nossa fé (como as religiões), para corroborar a doutrina de cada ente, para nos impulsionar a fazer um juízo sobre o tempo (temer, respeitar, odiar, desdenhar, porfiar...) e jamais ser indiferente a esta grandeza física inclemente que nos espreita. Que nos alerta: “tic-tac, tic-tac, tempo-passa, tempo-passa, tic-tac, tempo-passa”. É um evento lírico-astronômico, que ocorre para nos recordar a beleza de uma rosa e...amores gentis em dias de chuvas intermináveis a um passo da Linha do Equador.

* com enxertos de Carol Brito

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