segunda-feira, 5 de novembro de 2012

rônica remix- osvaldão


Big Oswald, Matos Guerra e o amor
Meu mestre Roberto Moscoso dentre as suas férteis reflexões dedicava um tempo bastante produtivo para as inferições onomásticas. E um dos nomes que ele mais gostava de comentar era Oswaldo. Dizia ele que Oswaldo era por essência, nome de homem grande. Nas suas pesquisas não havia encontrado de jeito e maneira, um Oswaldo sequer de baixa estatura, daí, explicava ele, a derivação superlativa para ‘Oswaldão’. Uma resultante Óbvia, pertinente, para tão avantajadas envergaduras...
Aquela era uma noite extraordinariamente ventilada em Belém. Uma programação de apoio à quadra nazarena animava a Praça do Povo, no Centur. No palco o espevitado Marco Monteiro agitava a galera e não deixava ninguém parado. Até o mais tímido dos assistentes balançava o pezinho admitindo que “o amor tupiniquim tem paladar...”.
E o amor segundo a acidez satírica de Gregório de Matos Guerra “... é finalmente/Um embaraço de pernas/Uma união de barrigas/Um breve tremor de artérias/Uma confusão de bocas/Uma batalha de veias/Um rebuliço de ancas...”.
Num relance, os olhares se encontraram. Ele abirobou na hora. Ela trazia um certo veneno no olhar. Algo que instantaneamente o transformara em pedra, em massa inanimada, ausente. Abobalhou-se por infindáveis instantes a fitar aqueles acesos grãos devastadores. Mas o marco Monteiro o despertou para a alegria da Praça.
Aproximou-se, fez manhas, exibiu-se. Ela dedicou-lhe alguma atenção. Rolou um papo entrecortado pelos confortantes sons da paixão. Trocaram telefones.
No dia seguinte ele catou o telefone da estante. Nervosamente posicionou o dedo na casinha do dois e volteou o disco graduado em busca de uma desejada aventura: dois, três, três...
Encontraram-se no forró do Palácio dos Bares, na sexta. Dançaram pra valer. Depois declararam-se apaixonados sob o escurinho libérrimo da Adega do Rei e amanheceram felizes num yellow point ali para as bandas de São Braz.
“O amor é finalmente/Um embaraço de pernas...”.
Passado algum tempo, estavam amarrados, emboletados numa união que nada, absolutamente nada desataria...
A não ser o presságio onomástico.
Naquele dia o entardecer estava estranhamente frio. O sol se escondera cedo lá pras bandas da ilha das onças e umas nuvens pardacentas escondiam o horizonte oeste. Combinaram um passeio pela Praça do Pescador. Subiram a foz do Piry de mãos dadas e aquietaram-se em uma mesa bem à beira da baía, ali na biqueira do Forte do Castelo. Havia um clima estranho, já anunciado pelo sumiço do sol. Ela aparentava uma insegurança incomum, um nervosismo atípico.
Uma cervejinha de fim de tarde desfez os temores e ela confessou existência de uma outra pessoa. “Como, outra pessoa?”, inquiriu ele, agitando-se na cadeira de metal. “Sim, desde antes daquele dia no Centur. Ele é oficial da aeronáutica. Estava viajando para uma especialização, mas já chegou...”, continuou a pequena agora mais segura. “Sim, sim, e aí, o que vais fazer?”, desesperou-se o rapaz. “Não sei, ele é apaixonadíssimo, é muito ciumento, não vai largar do meu pé. O Oswaldo é...”. “Ós... o quê? Como é mesmo o nome dele?”, quis saber o rapaz já se levantando e procurando o garçom para acertar a conta. “Oswaldo, o nome dele é Oswaldo, mas todo mundo o conhece por Oswaldão...Espera aí...Naldinho, espera...”. E o garoto subiu a ladeira do Forte com mais de mil imaginando os tenebrosos detalhes sobre a compleição física do sargento-aviador.
E continuando com Matos Guerra, ainda sobre o amor: “...é uma confusão de bocas/Uma batalha de veias/Um rebuliço de ancas/ Quem diz outra coisa, é besta.”

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