quarta-feira, 3 de outubro de 2012

crônica remix - sapato novo


Sapato Novo
O pobre é ralado mesmo, até quando ele tá por cima, ele tá por baixo (não, não que eu fale assim tentando depreciar esta categoria, que eu nem acho que seja uma compartimentação social. Sei lá, acho que ser pobre, além da carteira vazia, espelha um estado de espírito. Pô, sou franciscano).
Mas vendo assim, pelo lado do espírito...
Não sou luxento. Gosto de ter minhas coisinhas, mas não tenho aspirações grandiosas como casa em Salinas, mansão em Marituba, Chevete último tipo, calça jeans de 40, 50 Reais, celular que bate foto e até faz ligações, não. Meus sonhos são aqueles neoclássicos: uma casa no campo, meus discos, meus livros, meus amigos...
Aliás, eram. Agora, com a comunicação instantânea incluí a internet. Sim, sim, e depois que cortaram o meu telefone, pautei a minha linha fixa como uma conquista irrefreável. Eu quero o meu 25 04 de novo.
Então, os meus sonhos miúdos atualizados são uma casa no campo, meus discos, meus livros, meus amigos, a internet e minha linha fiiiiiiixa, quero meu vintecincozinho zero quatro de volta.
Estas lufadas de humildade me têm colocado em algumas saias justas. Olha só, nos últimos anos, não tinha disponível aqui no meu armário, nenhuma roupa de sair que me levasse decentemente para as partes. Sério.
Apesar de que, eu não vou para as partes mesmo. O meu negócio é um banquinho, um violão, copo na mão, boa companhia e um bom papo. Claro fica que para isso não precisa de roupa bacana, “basta a mente quieta, a espinha ereta, o coração tranqüilo” e uns Reais no bolso para a coleta da gegé. Mas, vez por outra, tenho que me virar. Desde 1999, tenho freqüentado o estande dos escritores paraenses na Feira do Livro, lançando, prestigiando os outros autores, ou só prestando reparo mesmo, e isso me levou ao convívio saudável dos deuses da literatura papa-chibé. E nas programações que orbitam a Feira, durante o ano, sempre tem um sarau, um isso, um aquilo cultural bacana com gente de peso, escritores do Olimpo da literatura nacional. Saí que vez por outra me chega um convite do Governo do Estado, através da Secult, para os eventos (às vezes, revelo, o convite chega depois do caso passado, mas não vamos nos deter nessas ressentimentos agora).
E eis que tive que me render a uns panos mais aquele. A minha sorte, é que tenho o amigo José Raimundo Vaz na minha vida. Acho que o Vaz pensa “pôxa, o mundiquinho só anda avacalhado, com aquela ‘percata’ velha, aquela camisa de meia esticada na gola, aquela calça de tergal sem vinco”. E atento aos movimentos, todo ano, no meu aniversário, o Vaz me dá uma camisa bacana. De vera, as melhores camisas que tive na minha vida, foi o Vaz que me deu. Esta aí na foto da coluna, é obra do Vaz, uma peça finérrima em crepe que eu tenho até vergonha de ficar dentro dela. Só uso a bichinha em ocasiões especiais.
E como o Vaz entrou com a camisa, tive que me aviar com a calça e com um sapato de responsa para completar o conjunto que me leva às partes nas boas horas.
Mas eu não falei que saio pouco, assim, amparado pela erudição do vestuário? Pouco mesmo. E o meu conjunto fica na maior parte do tempo guardado.
Só que um dia, eu quis transgredir. Fazer uma graça. Saí cedinho para a Universidade na maior pinta, todo na minha manga comprida e coisa e tal. Um repente, sabe, só pra tirar um sarro com a petizada da Geologia.
Ai, ai, eu não disse que o pobre é isso, é aquilo...O meu sapato lindão, que devo ter usado umas 10 vezes, no máximo, desde que o comprei, lá por 2004. O meu sapato simplesmente descolou a sola. Todinha, de fora a fora, não foi só o salto não, e eu voltei de Belém me arrastando com aquela porqueira. Com aquela cara de besta, me justificando pros outros, sabe?...é, soltou a sola...soltou, agorinha mesmo...
Pô, meu sapato novisco!

Um comentário:

  1. (rindo potássios)
    Mas tu é muito pavulagem mesmo, Sodré. Queria se mostrar pra petizada. oaisaoisaois

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