quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

crônica remix- paulo barros carná

E põe mágica nisso
Não foi à toa que a Unidos da Tijuca foi campeã do carnaval. Demonstrar que a mulher é capaz de executar o feito extraordinário de mudar de roupa em segundos, só pode ser obra da mais graciosa magia.
E põe mágica nisso.
Animava-se em mim, um fio de esperança quando, a um piscar de olhos, as bailarinas trocavam os modelitos à frente da escola e despontavam para o mundo imediatas e gentis.
Coisa de artista mesmo.
Só na cabeça do Paulo Barros e nas raias insondáveis da fantasia é que uma bênção dessas é possível. Só mesmo protegida pelos poderosos argumentos da magia é que se pode sugerir tamanha graça se consumar, porque aqui em casa...
No domingão, é um pé pra acontecer d’eu ficar tiririca com  ‘las linãs’ da minha vida. Mesmo que agente combine tudinho, tem uma hora, que a coisa emperra.
Destaco o domingo, porque é um dia mais relaxado, dia de ‘no stress’. Tem a praça da República, a feirinha de artesanato, um showzinho no anfiteatro, água de  coco, Bar do Parque, almoço fora...
A gente até que se avia logo, eu e o menino. Coloco a minha farda de domingo (uma camisa, uma bermuda e uma ‘percata’, conjuntinho renovável impreterivelmente a cada liquidação de janeiro). Passo rapidola o pente no cocuruto (sabe, vejo que sou um dos poucos que sou fiel àquele pente vendido ali na beirada do Ver-O-Peso, de plástico azul-bem-clarinho-que-dobra-chega-faz-curva- quando-arratado- sobre- o- cabelo e que nem Flamengo é) e já tô pronto. O filho, nem pente usa, é da turma dos desgrenhados. Dispensamos o café e aguardamos lá na frente, num pé e noutro.
Mas as duas...
A mulher, pisa, pisa, abre gaveta, fecha gaveta, sobe, desce, sai pra fora, entra pra dentro e não tá nem aí para os vícios da linguagem ou do adorável gênero. Reclama com a menina, diz ‘já vou’, quando grito ‘umbora que já vai dar dez horas’, lá da frente. Se engancha na beirada do rack, procura o maldito par daquela sandalinha rosa, constrói estilo, pinta uma idéia, desfaz tudo ‘que estava até bonito’ segundo a minha opinião lá de longe, resmunga alguma coisa e afirma taxativa, que não entendo nada. Nessa hora faço uma incursão ao front para ver como estão as coisas. E fico passado.
A filha pega uma escova e fica, fica, dizque penteando o cabelo (sempre acho que o que ela faz é continuar um soninho selvagemente interrompido), quando torna, abre gaveta, fecha...ralha com a mãe e me desmonta com um olhar ameaçador. Vou-me embora de novo lembrando que ‘se houver algum show lá na praça, a essa hora, já tava no finzinho.
Passo na cozinha e pego um bico de pão com café, porque ninguém é de ferro e procuro rumo.
Quando enfim, está todo mundo etiquetado, e já pegando o norte da diversão, volta tudo. Cadê as carteirinhas da meia-passagem. Ninguém sabe aonde deixou e a casa é posta abaixo. No vácuo, a menina empinima com aquele shortinho bacaninha e opta por um balonê (que eu, na minha ignorância, acho cafonérrimo), mas segundo a mãe, ‘deixa, deixa, ela é bebê ainda’. As duas usam um batom estranho sem cor.
Saímos na batida da campa. Da minha programação só acho possível o Bar do Parque e um almoço na sequência (porque os filhos logo na largada anunciam que estão com fome. Dou uma bronca dizendo que a culpa é deles mesmos, porque eu já estava pronto desde que tempo e a gente poderia ter aproveitado que acordamos nove horas da madrugada, para tomar um café reforçado num supermercado desses do bairro, mas agora não dá mais, porque o domingo já está indo). Dali até à praça, como se todos houvessem comido abiu, ninguém fala nada.
Animava-se em mim, um fio de esperança quando, a um piscar de olhos, as bailarinas trocavam os modelitos, no mundo ideal da Sapucaí. Mas quite, só truque.
‘No stress’, no entanto.

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