quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

crônica remix- acre

Mexeu com o Acre, Mexeu Comigo
Olha, cortar o gás, arengar com a Petrobrás, fechar a cara e ficar emburrado na reunião com os diplomatas, tudo bem. Mas, pô! Mexer com o Acre, não. Mexeu com o Acre, mexeu comigo.
Sou filho de seringueiro. Nasci no interior do ‘interlan’ das brenhas do rio Xapuri, lá pra dentro. Sou do Acre assim como Carlão, o nosso medalha de ouro no vôlei; Adib Jatene, aquele que toca o nosso coração mais intimamente; Zé Vasconcelos, um humorista completo; Enéas, o candidato rapidinho; Jarbas Passarinho, o revolucionário de 64; Armando Nogueira, um cronista com estilo; Chico Mendes, o herói da floresta.
Assim como Marina, a nossa doce Ministra, sou do Acre, e não entendo a bronca do Presidente da Bolívia, Evo Morales (não compreendo este nome. Conheço Ivo e Eva, mas Evo...Tenho pra mim que foi o homem do cartório que errou) com a minha terra natal.
Uma zanga que se revelou deselegante quando não atentou para o valor que o povo acreano tem para a história do Brasil (e da Bolívia!). Evo pode ter a intenção nacionalista que quiser, mas daí dizer que o Acre foi trocado por um cavalo, já é querer avacalhar.
A pesquisadora Cleusa Maria Damo Rancy, em seu livro “Raízes do Acre” nos conta que a presença brasileira no Acre data de 1850, através dos coletores de drogas “em busca de novos produtos das héveas”. Destas empreitadas, destaca-se a contribuição de Manuel Urbano da Encarnação, amazonense, conhecido como o “descobridor heróico da primeira seringueira no Purus”. Por aí a gente tira: a seringa (da Bolívia) é nossa.
E por causa da seringa as terras acreanas foram sendo conquistadas, pelos brasileiros. E com tal decisão que em 14 de julho de 1899, o Acre tornou-se irresponsavelmente independente, pelas mãos do aventureiro Luiz Galvez Rodriguez de Arias, e, mais tarde, conscientemente, organizadamente, sob o comando militar de José Plácido de Castro. Assim, a partir de 5 de agosto de 1902 o povo acreano lutou bravamente contra o domínio boliviano na região (e contra a total apatia do governo brasileiro).
Quando o Barão de Rio Branco entrou em cena para as ações diplomáticas na região, os seringueiros do Acre formavam uma nação livre. A intervenção diplomática veio ratificar as conquistas do homem da floresta. E daí, o seringueiro decidiu. Decidiu ser brasileiro.
O tratado de Petrópolis assinado em 17 de novembro de 1903 assegura a possessão brasileira sobre o Acre. Os termos do contrato rezam uma reparação financeira à Bolívia e ainda, uma passagem para o mar (o que viria a ser mais tarde a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, aquela em que cada dormente representa uma vida).
O que nos trouxe o Acre, meu querido Ivo, aliás, Evo, foi a coragem do seringueiro, foi o sangue derramado pelos meandros da floresta, foi o devaneio de Galvez, o heroísmo de Plácido de Castro; uma pitada de talento na diplomacia de Rio Branco, alguns tostões de indenização e uma ferrovia que ceifou uma quantidade enorme de vidas. Se isso se equivale a um cavalo, para os bolivianos, aí, mexeu comigo.

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