segunda-feira, 11 de julho de 2011

crônica remix


Eu disconcordo eu
Esses dias me peguei pensando na missão que temos de salvar o planeta. O aquecimento global tá na porta, a floresta agoniza, os rios estão asfixiados, o céu desaba sobre nós, denso e acinzentado.
A parada é difícil.
Mas não sou daqueles que põe a culpa nos outros. Não vejo na conjuntura a causa de todos os males. Entendo que formamos uma imensa rede de usuários dos bens que o planeta oferece e cada um é responsável pelo seu pedacinho. Reconheço que tudo o que a gente faz no nosso quadradinho vai refletir numa outra escala, vai emergir de forma contundente em outra dimensão. O exemplo disso é o saco de lixo jogado no canal que corta a nossa rua ou a lata de cerveja largada da janela peliculada de um Eco Sport. Estes resíduos, quando enfieirados na história do dia, dão uma dor de cabeça danada. Proporcionam mal estar, desconfortos, alagamentos, constrangimentos.
O nosso pedacinho é importante. Não podemos esquecer que um tantinho aqui vira um tantão acolá. Numa viagem que fiz com a minha turma de Geologia para Bragança, aprendi isso.
No caminho para Ajuruteua, o professor fez uma parada e perguntou à turma o que havia de estranho na paisagem. Já estávamos acompanhando aquela variação durante a viagem. Dava pra perceber que havia uma vegetação contínua, viva, exuberante, do lado direito da estrada. No entanto, do lado esquerdo, o solo era ressequido, empobrecido de vegetação, escuro e silencioso. Aquele cenário indicava que o aterro utilizado havia cortado a irrigação para o flanco esquerdo da estrada e com o passar dos anos, aquela área foi, aos poucos, morrendo.
Depois daquele dia, entendi o quanto o nosso quadradinho é importante. Depois daquele dia, não abro uma valeta no quintal de casa sem pesar as devidas consequências. Somos uma imensa rede! Eu heim, vai que minha valetinha mais tarde, se ajuste direitinho como um fundamento irrefutável para uma das teorias do aquecimento global. Tô na roça!
(Devo dizer que não mais voltei a Ajuruteua, portanto não sei se algum tratamento deu resultado para corrigir aquele problema. Sei que à época, algumas medidas estavam sendo tomadas. Tomara que o trabalho tenha dado certo).
Salvar o planeta é um desafio. Precisamos nos unir. Todos. Principalmente os cardeais da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa). Necessitamos operacionalizar a nossa comunicação, caso contrário, desabaremos como uma Babel sem charme e sem estilo. Tudo bem que pela reforma ortográfica que tá chegando, já nos livramos da responsabilidade com o trema, mas e dos sedutores falsetes e arremedos da língua falada, quem nos livra?
No sábado, na volta da transladação, um casal se aliviava da fome traçando uns abençoados skilhos no apertado corredor do Pedreira-Condor. De repente o rapaz atravessou o braço à minha frente e defenestrou o saquinho plástico.  Meu filho Argel, indignado, comentou comigo aquele ato selvagem ressaltando que aquilo, além de falta de educação, era desperdício porque o saco estava pela metade. Olhei para o tamanho do camarada e preferi um protesto silencioso. A pequena que estava com ele se manifestou: “credo, fulano, eu disconcordo eu, disso. Jogar lixo na rua!”. Falou gritando porque o celular dele tava no último volume com um tecnobrega dos mais indigestos. E ele, categoricamente, retrucou: “deixa de nóia. Amanhã os pessoal da prefeitura venho e varru”.
Eu entendi o que o rapaz falou. Isto quer dizer que os linguistas estão certos, mas me inquieta a constatação de que, sem o trema em ‘linguistas’, salvar o planeta, definitivamente, vai ser uma parada duríssima.

Um comentário:

  1. oi sodré, se cada um cuidar do seu quadrado o mundo vai ficar um brinco!!!! boa semana.

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