sábado, 9 de julho de 2011

Crônica da semana

Minha pedra é ametista
Domingo desses, na viagem aqui de Barcarena para Belém, desci no Ver-o-Peso, tracei um completo de coxinha de frango com suco de cupu, numa das barracas de lanche e fui dar um rolé pela feira (cedinho assim do dia é muito bacana aquele lugar. Rola o orgulho da diversidade ribeirinha ali em cores, sabores, odores. Na prosa e no jeito). E eis que, como por encanto, fui bater no corredor das erveiras. Naquela hora, lembrei que no meu aniversário pedi a amigos próximos, de presente, uma coleção daqueles vidrinhos com essências coloridas que são vendidos ali (como souvenires ou para precisão mesmo). Ninguém se abalou pra me aviar o gosto (o shopping, o shopping...nos afasta das tradições e nos reprime os desejos). E fiquei só na vontade. Em ali estando, não contei conversa. Eu mesmo me presenteei. Escolhi uma fieira sortida, pedi (ao erveiro!) um desconto e mandei embrulhar aquela ruma de simpáticos vidrinhos cujas essências mostravam-se em pigmentos variados, em volatizações agradáveis, e cada uma, com o seu cada qual: Talismã do emprego, Abre caminho, Atrativo da fortuna, Dama da noite, Dinheiro em penca, Faz querer quem não me quer, Afasta olho gordo, Chama homem, Talismã da felicidade, Chama mulher, Pega e não me larga, Talismã da sorte, Chora nos meus pés, Amansa corno, Carrapatinho, Chega-te a mim, Atrativo chama dinheiro...
Arrematei um feixe completo, não porque eu estivesse com urgentes necessidades, na pira, né. Era o meu presente. Tava a fim. E o certo é que gosto das histórias que as essências contam, me aprazem os dizeres, as cores fortes com que os extratos se apresentam. Competem, também, para a minha atenção aos produtos, as mensagens e intenções, sempre boas. Até o Amansa corno é uma essência de paz. Prega a resignação e o deixa pra lá (pra que estresse, já?).
Importa também saber que estou feliz. Pendurei a correntinha num cantinho da sala (meio que reproduzindo a disposição nas barracas lá do veropa) e fico apreciando aquele espetáculo matizado pendendo no vazio da parede. De vez em vez vou lá dar uma chacoalhadinha para energizar (e também pra provocar um contato animado entre os frascos, porque me é assaz agradável aquele barulhinho acanhado de vidrinhos atritando uns com os outros. Coisa minha, sabe, barato que não se explica).
Aí, passou, passou... e vi na TV que vai ter um remake da novela O Astro. A música-tema da novela (‘Bijuterias’, do João Bosco) logo me chamou a atenção e me lembrou das minhas manias.
A minha pedra também é a ametista. É uma pedra requintada, tem valor no comércio de gemas, enfeita colares, anéis e jóias finas. Não é, porém, feição que me agrada, a pedra lapidada. Prefiro a forma bruta. Aquela que traz os segredos e a simetria da criação. Tenho alguns exemplares aqui em casa. Cristais de lilases modestos (os mais agressivos, os mais intensos são ferrenhamente disputados pelo mercado), mas de brilho suficiente para me seduzir. A pedra exerce um fascínio milenar sobre os homens. Há uma crença de que ela ajuda a promover a paz e a acalmar o espírito. O brilho lilás da pedra é tido como anteparo para males e pensamento negativos (quanto mais afasta as maldades, mais fraquinho vai ficando o lilás).
Tenho meus tiques, mas dizque, não sou supersticioso. Procuro sustentar que minha inclinação para estas linhagens de talismã se dá pelo fator estético, pelos atrativos sensoriais (envolve cores, formas, simetrias, sons cheirosinhos...). Mesmo porque, não obstante, o lilás da ametista impressione, a minha cor preferida é o amarelo do citrino.

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