sexta-feira, 1 de julho de 2011

Crônica da semana

Salve, ó terra, de rios gigantes!
Eis que vou dissertar sobre a polêmica da hora que versa pela divisão do Pará. Não é a minha praia, tentar convencer ninguém. Minha prosa é outra. Mas, como diz o crítico literário Antônio Cândido, a crônica deve ser “inspirada na experiência coletiva”. Dá-se então, que se eu não encarar esta discussão, tô fora do tempo. Do cronos. Sou um escrevinhador anacrônico.
Na minha opinião, historicamente e culturalmente somos o povo da planície. O Pará tem a alma irrigada pelos alagados do rio Amazonas e isso dá uma liga geográfica fortíssima às gentes do vale. Gera afinidades. É só olhar na ilharga. Sempre temos por perto um primo de Juruti, um amigo de Óbidos, um poeta-cantor de Santarém, um amor de Alenquer, um bem-querer ligeirinho de Breves, um professor de Afuá, um artista de Chaves, um doutor de Cametá. Não é mesmo, parente? Os tambores do carimbó e o remelexo da morena faceira marcam a sonoridade e a sensualidade da calha do grande rio. Temos cá na planície, um jeito, falamos a mesma língua, como então, já, pequeno, cria termo.
Taí, se fosse pra dividir de vera, por mim, faria uma mira bem no meião do rio e completava meu Estado adicionando uma beirada daqui, outra dali, do Amazonas. Traçava um limite em cada margem, subindo só um tantinho o cerqueiro, só até as primeiras quedas d’água. Teríamos um Estado pequeninho, mas salvaguardaríamos a nossa intimidade cabocla e seríamos uma nesguinha de terra molhada pra lá de simpática. A parte de cima, (ao pegado de Tumucumaque) e a de baixo (os cobiçados campos mineiros) poderiam ficar para os ávidos requisitantes e enfáticos interessados (embora eu duvide muito que alguém se exaspere em interesse pelos ermos do Tumucumaque). Outras versões para a divisão do Estado, que não seja esta minha impetuosa e passional, a mim, me são profundamente dolorosas. Ai de mim se me apartarem do ‘romance, da mais linda canção, de uma história de amor nascida do coração’ que tenho com a Pérola do Tapajós. Mas, axi, estezinho, me erre.
A proposta que vinga, entretanto, pretende fatiar o Pará em três e fica bem distante da minha umedecida proposição. As correntes pró-divisão evocam a questão espacial. Apontam as dimensões do Estado, como um entrave ao desenvolvimento. Quanto a este argumento, tenho dois dedos de prosa: em princípio, acho que ele bate de frente com o espírito ufanista do povo brasileiro. É cultural. Nos apraz ser grandes em tudo (“salve ó terra, de rios gigantes”). E só pra lembrar: o Brasil é um teba d’um país. Penso que sobre este aspecto da envergadura, a questão não é espacial. É Moral. Pulverizar o Estado é fugir das ‘grandes’ responsabilidades. E sabemos hoje, pelas pregações do Professor Vicente Falconi que, gerenciar, quer dizer resolver problemas, e não fugir deles. Se o território impõe desafios, isso é motivo para usar a criatividade. Uma razão para operar responsavelmente os recursos e instituir a sustentabilidade moral da coisa pública. É hora d’o gestor firmar-se como competente e inovador. Sem medo das savanas solitárias e nem das altas altitudes da serra do Tumucumaque.
O senso comum aponta outros motivos para a divisão. De prima a gente pensa em outras estruturas políticas, administrativas; outros palácios de governo, legiões de vereadores, irmandades de deputados, aspones, assessores...Outras ‘Alepas’. Fico com o senso comum e coloco logo a pulga atrás da orelha.
Ademais, tenho a impressão de que reduzir território não significa automaticamente produzir desenvolvimento. Temos exemplos aqui no Brasil, de Estados gititos que estão na pira, ora já.

2 comentários:

  1. oi sodré, eu vi hoje que o plebiscito vai ser em dezembro. eu sou contra e vou lá colocar o meu voto. vamos ver o que dá!!!! bom fim de semana.

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  2. Poxa meu amigo como eu posso adquirir o Lp ou Cd beijo moreno de 1983.arnaldocavalcante@ymail.com.Fone Fax 9335381212.

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