segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Upa, neguinho!



Hoje, se eu for conferir direitinho a breve fieira de amigos que tenho, vou encontrá-lo entre os pri:
O meu neguinho.
Uma bênção de Deus que me veio no dia 20 de fevereiro. Chegou numa terça de carnaval de 1996. Nasceu um teba d’um menino. Três mil oitocentos e noventa gramas, 5,20 decímetros, olhos cor de mel, acesos, acesos, audaciosos. Ar imponente.
E tão imponente que quando chegou ao quarto, ficou lá, todo enroladinho de frio, em silêncio, esperando que, ora, ora, os pais providenciassem o óbvio (carinho, calor, afagos, proteção e, é claro, um leitinho, né!). Não chorou.
A primeira pessoa a pegá-lo no colo foi minha comadre Valéria Nascimento. Disse um benza Deus! pela saúde do bebê, caminhou um pouco com ele, levou-o à mãe (ainda grogue da Cesariana) e depois foi me orientando, me ajeitando os braços aqui e ali para que eu pudesse receber no colo o meu amado filho. Foi quase um ritual de preparação. Uma cerimônia deslumbrante anunciando um terno e duradouro abraço. Foi a primeira vez que nos abraçamos e trocamos certezas.
Nunca mais paramos.
No dia 20, meu filho Argel, faz 13 anos. Já é um rapazinho. Cheio de vontades, de idéias próprias e planos individuais. Já anda até namorando, dizem as línguas delatoras (ora quem? A irmã Amaranta, claro!).
Saca as coisas com esperteza, é de certa forma vaidoso, meio metidão, mas atribuo este detalhe à idade ou até mesmo a uma opção de vida que descarta (com um pingo de razão), a humildade total (embora eu veja nele, algumas vezes, traços do meu desbotado desapego franciscano). Mas eu acho que o motivo da pose é mesmo por causa daquele olhar devastador que ele tem (ah, e de otras cositas más).
É um menino que já interpreta o mundo. Argelzinho não perdoa o Bush por causa da invasão do Iraque.
Ultimamente andou se preocupando com a origem das coisas. Se pegou com o livro do Marcelo Gleiser “A Dança do Universo” e está experimentando as sensações primitivas de querer o tudo sem saber o nada. Conheceu Anaximandro, os gregos pioneiros e as idéias primeiras da existência do mundo. Tem uma versatilidade musical que me orgulha: acho um barato quando ele põe o disco na vitrola e vem lá do quartinho, cantando junto com o Orlando Silva “Nada além/nada além de uma ilusão...”. Reconhece o valor das mais maravilhosas músicas do mundo.
Embora tenha estes repentes, é um garoto normal que me irrita com os games de violência no computador e com as ditas mal’criações diárias. Dorme...Dorme... Se não chamar, vara pela tarde. É enrolão no dever de casa, mas tem um papo (puxou pra avó Luzia) de convencer até a minha (antiga) professora de Educação para o Lar.
Bate um bolão de meia-esquerda, e com a minha experiência de anos e anos como centro-avante artilheiro do glorioso Internacional da Mauriti, acho que o garoto leva jeito. Tá no rumo do Milan.
Tem as virtudes e os defeitos eventuais da idade. Mas me encanta e me emociona muito a idéia certeira de como ele vê a nossa relação: mostra-se sempre como amigo, como filhinho. Me aceita, me perdoa, me ampara e me levanta quando caio.
Percebo que reconhece que aquela certeza do primeiro abraço (de segurança, de cumplicidade, de carinho, de proteção) é muito mais necessária a mim, agora, do que a ele.
Às vezes o medo se apossa de mim e pergunto: E aí, Argel, mesmo quando estiveres maior, homem feito, tu ainda vais abraçar, beijar, amar o teu pai? E ele responde: claro, Raimundo (sempre me chamou pelo primeiro nome). Tu és meu pai, e eu sou teu filho e teu amigo.
E um amigo que posso contar para sempre, eu sei. Deus te faça feliz, meu filho.

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