quarta-feira, 16 de abril de 2014

crônica remix - cometa

Caça ao Cometa
Tem um no céu. E cometa a gente sabe como é, né. Uma eternidade pra aparecer de novo. Provavelmente a gente não vai viver para reencontrar o astro. Então, façamos um esforço.
Chama-se Lulin. Por agora, dá o ar de sua graça no início da madrugada, e até o final do mês, pode ser encontrado em Virgem. Em março, vai charlar, durante boa parte da noite, junto à constelação de Leão.
Aqui na faixa equatorial, sob forte influência da Zona de Convergência Intertropical, temos que rebolar pra localizar o bichinho. Vivemos mergulhados em céu plúmbeo, tomado de cumulunimbus pelos quatro cantos. Por dias e dias é difícil de ver a luz da estrela mais fúlgida e até o escandaloso brilho de Vênus, que dirá um pontinho embaçado com um rabicho de acanhado esplendor (os especialistas dizem que podemos ver Lulin com um binóculo ou com uma luneta simplesinha, mas a olho nu, temos que recorrer a um lugar com a mínima iluminação incidente, ou seja, um escurinho possível somente no ‘interlan’, às margens de um rio grande e silencioso – Ah, que saudade do Xingu!).
A quem interessar possa, vamos lá: a partir de agora a gente pode fixar um ponto qualquer no leste. Em Belém, o leste é aquela região entre a Terra Firme e o Guamá; para quem está em Barcarena, procure o olhar dadivoso de Nossa Senhora do Tempo e aqui na Vila dos Cabanos, é no rumo do Laranjal. Vou ser sincero. Tenho dificuldades para reconhecer a constelação de Leão, mas a de Virgem (embora alguns duvidem) é fácil. A partir do anoitecer (ali praqueles lados que falei, não podemos esquecer), quando aparecer no horizonte, uma estrela brilhante, bem mais brilhante que as vizinhas, estamos diante da constelação de Virgem. A estrela chama-se Spica que vem de espiga, de milho mesmo, e é um legado da Antiguidade para identificar o tempo de colheitas e farturas. As previsões dizem que no final de fevereiro, Lulin estará luzindo por estas paragens. Boa sorte. Eu por mim, já vou ‘atrepar’ no meu abacateiro munido com a minha humilde luneta, à caça do cometa.
Um outro evento muito interessante que acontece agora, e cada vez mais e mais comprometido socialmente, é o equinócio. Ele se aproxima. Para nós, as consequências deste arranjo astronômico são várias. Uma delas, que resulta da conjunção de fatores relativos ao deslocamento aparente do sol, é esse tempo chuvoso que vivemos e vamos viver até meados de maio. Uma outra e bem mais pertinente a nosostros ribeirinhos, é a subida da maré. Entramos agora, no tempo das águas grandes. Estava vendo aqui na tábua de maré deste mês, que a maré começou a se assanhar agora no plenilúnio. Então, na lua nova, do dia 24, quem costuma curtir o carnaval deixando o carro nas areias de Atalaia, fique ‘velhaco’, a caranga pode submergir. Para as mães, mais cuidado ainda. Lembremos sempre que em Salinas, a ‘praia enche pelas beiradas’.
A maré maior, mesmo, aquela que dá a Pororoca e alaga as Casas Pernambucanas, acontece só em março. Todos os anos, admiro a subida das águas lá em Itupanema. Este ano, porém, vou mudar de estação.  Desde agora, vou acompanhar o movimento na Vila do Conde. O lugar tem sido vitimado por vários e assustadores agravos naturais (e muitos outros ‘sobrenaturais’), nestes últimos anos e merece um certo zelo. No ano passado, parte do terreno que desenha a orla desabou. Houve vítimas, prejuízos e dor (não posso dizer que foi por causa das altas marés, outros fatores estão presentes para a baixa resistência das falésias, mas, prevenir nunca é demais). 

Tenho fé, no entanto, que as grandes marés, este ano, vão nos dar apenas as boas águas.

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