sábado, 29 de março de 2014

crônica da semana - pé de galho

Pé-de-galho e outros parças.
De vera mesmo, o Pé-de-Galho nunca existiu. É uma criação minha para alentar o desejo de ter uma turminha do barulho na juventude, igual àquela do Chembra, porque, diga-se lá: eles cortavam e aravam.
Euclides “Chembra” Bandeira era jornalista. Não o conheci, assim, de palmo em cima, mas o admirava pelos seus textos, principalmente as história que ele publicava no PQP, o jornal do Comendador Raymundo Mário Sobral.
Fazia crônicas memorialistas e as agrupava sob o título de “Memórias de um anti-herói”. Uma narrativa permeada de humor e ativada por personagens além da conta de atentados, como o Faz-que-morre, o Portuga, o Espernegado...Tipos que campeam nos arrabaldes de Belém.
Toda vez que eu pegava um exemplar do PQP, desviava logo para a coluna do Chembra, para saber das últimas da molecada. Era um exercício de reconstituição, porque embora não houvesse na minha história, turma tal e qual, as genéricas haviam.
Pindoba, Torto, Galo, Diz-que-Tem e Fogoió formavam a primeira que atinei, quando vim do Acre. Eles orbitavam o Bar Pedra Noventa, ali na Lomas com a Marquês e se trançavam também em embates duríssimos na bola de travinha que rolava no leito pedregoso da rua. Foram essas as referências que me ficaram desta turma. Uma patota setentista, comportada, quedada ao som da vitrola e ao pneu número 5. Era a turma do canto da Marquês. Não tinham maldade, embora, vez ou outra, arrumassem uma arenga, até entre eles mesmos. Nada, porém, que cancelasse presenças, nada que limasse encontros em uma festinha ao som do ‘Sonoro do Roberto’. Nada.
A outra turma que me frequenta a memória e que deixou marcas, era formada pelo pessoal da Mauriti. Dessa, eu era parte integrante. Nosso negócio era futebol. Desbravamos a Augusto Montenegro até os confins do Tapanã, rompemos os limites interioranos do Tenoné, nos infiltramos pelas alamedas do Coqueiro, acho que bem antes da Primeira Cidade Nova, tudo por causa de uma bola.
No princípio, formamos o Santos do Meio da Rua. Um time que contava somente com os moleques da banda de cá da Marquês, os outros, da outra banda da Mauriti, que ia dar na Pedro Miranda, compunham o grupo dos arredios. Misturavam-se pouco. O Santos do Meio da Rua não durou muito. Tudo era na base do faz-tu-mesmo. A gente comprou os escudos, os números, as camisas, tudo, de acordo com as posses de cada um. Nosso uniforme saiu uma graça. Escudos alinhavados, números tronchos; malhas, umas de fio 24 outras de tramas bem ralinhas. Um look pra lá de avacalhado. Não preciso dizer que no primeiro jogo, depois da primeira peia, uns partiram contra os outros para malhar as camisas. Voltamos pra casa todos rasgados e desistimos do Santos. Chamamos seu Dori, que achava que a gente tinha futuro, fizemos uma aliança com os moleques da banda da Pedro Miranda, arrumamos uma vaga (e, claro, patrocínio) para o filho do dono da padaria e criamos o ‘combatido, porém, jamais vencido’ Internacional da Mauriti. E só com os escolhidos: Bem-te-vi, Bossa, Nikila (que nas horas vagas zelava pelo Cinema Paraíso) e Mandinho. Pau Preto, Nelson, Rico e Francisco. Toninho, Tatinha e Humberto. Ganhamos um jogo de camisa elegantérrimo.
Éramos também a galera que se reunia na frente do cinema Paraíso de noitinha, pra tentar entrar de graça. Não arengávamos com ninguém, no máximo havia um que empastelava, jogava vidro no canteiro gramado da Duque, nosso campo de treino-pelada chique, por causa de um gol mal interpretado e a condenação a uma grade demorada.
Pé-de-Galho, em outros tempos, já integrou este time. Hoje tá no banco. É só uma invenção.


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