quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

crônica remix - natal


O melhor presente
Quarta-feira, véspera de Natal. A minha batida está num atraso só. Depois de uma semana em tratamento, meu computador chegou ainda baqueado da virose. Perdeu-se da internet, tá meio azuruote, o bicho... Com uma paciência atípica, vou tentando respeitar a convalescença do pobrezinho.
Rolou um aperreio com outras e imprescindíveis missões também. Passei uns dias com a minha turma de Geologia, em disciplinada caminhada pela margem abrasadora da BR 316, ali pras bandas do Gurupi. Uma pisada afogueada de 9 quilômetros que me consumiu as energias. Aluno temporão é assim, quase não dá conta.
Em Belém, surpresas. A cidade fervendo; a passagem de ônibus um tanto mais cara; um mundo de carros enfileirados em engarrafamentos sortidos pela cidade; uma chuvinha subordinada à Zona de Convergência Intertropical, ali pelo meio da tarde e, traços de cordialidade (submissos, tímidos traços porque o barulho é tamanho...) realçando as relações urbanas. Luzes, luzes. É Natal.
Na véspera de Natal, já em Barcarena, acordei cedo e arregimentei a patroa e as crianças para um café in family. Na mesa, caras amarradas, madrugadoras, contrariadas. Puxei papo:
- Pôxa, gente, nessa correria toda esqueci de passar no correio e pegar uma cartinha na árvore de Natal, para o presente das crianças carentes.
Minha mulher simplesmente me descadeirou quando me fez ver que nem dos meus próprios filhos eu lembrei. Não havia trazido um mimo sequer, de Belém, para os nossos pequenos. Dessa forma, não adiantava deixar o sapatinho na janela do quintal, porque o papai Noel aqui, ó, não providenciou absolutamente nada.
Meu Deus, respondi com sincero espanto, esqueci do presente dos meus filhos!
Admiti a falha, inquieto. Caras amarraram-se mais ainda. Amaranta Maria fez beicinho. Argel de Assis balbuciou alguma coisa em meio a uma selvagem mordida numa indefesa fatia de pão de milho com manteiga, coisa do tipo “ rhmmmfmfralfm do pai desnaturado”. Não perdi o rebolado, pedi o açúcar e tentei contemporizar dizendo que tudo bem, tudo bem, brinquedo, a esta altura do campeonato, não é tão importante (os meninos já estão grandinhos). Um par de roupas novas, um terno de cambraia bem cortado, sim, são peças utilíssimas para a entrada de ano e, ao mesmo tempo, já servem para a volta às aulas. Nada. Em locuções lacônicas, fui informado pela senhoria, que não rolou roupa nova até então. Essa doeu. Pô, se os meninos não ganharam nem roupa nova, no Natal, é porque a minha patetice foi muita. Mas pera lá, eu dei uma bola pro Argel, um dia desses e a Amaranta, tenho visto a menina a brincar com a boneca da Emília, vez ou outra. Novamente a voz da consciência me atualiza: a bola, foi no Natal passado e já faz um bom tempo que furou. A boneca da Emília, a menina ganhou da madrinha Valéria Nascimento quando fez 9 anos, ou seja, quase dois anos atrás. Hum, tá bom, reconheço a minha lerdeza.
A mim, não me restou outra alternativa a não ser, em um golpe fatal, substimar essas coisas de presentes, de agrados fúteis, de materialidades fugazes. Caprichei no discurso. Valorizei o fato de estarmos juntos. E este, sim, é o melhor presente que pode existir.
E sabe que deu certo. Sorrisos espraiaram-se. Acordos silenciosos foram firmados. Ali, no nosso coração, fomos percebendo que no Natal, algumas coisas podem faltar na mesa, na brincadeira de rua, nos cabides do guarda-roupa...Mas se tiver o pai, se tiver a mãe, os filhos e o amor fazendo o meio de campo...O Natal será sempre Feliz. Deu-se então para mim, naquele dia, um frugal, mas feliz. Um Feliz Natal.

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