sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

crônica da semana - ouro de


Ouro de tolo


Vocês não vão acreditar. Ninguém vai acreditar. Mesmo que eu jure de pé junto e invoque testemunhas e depoimentos, vai ser difícil arrumar unzinho assim que me dê trela. 
A história toda tem a ver com sorte, com um mineral chamado Pirita e com uns regalos que andei ganhando por esses dias. 
Seguinte: a Pirita é um mineral de cor amarelada, que forma uns cristais perfeitinhos, tem um brilho atraente. É cheia de adjetivos na forma e no conteúdo.  Apresenta-se em um aspecto metálico, e é, por esta característica, em muitas ocasiões, confundida com o ouro. Dá-se então, que é conhecida como o ouro de tolo. Não tem valor comercial de gema ou jóia. Na indústria é utilizada pelas suas propriedades metálicas e como fonte de enxofre. Esta é uma visão no campo prático, no viés da funcionalidade do mineral. Por outro lado, há uma corrente mística, aquela que vê nas pedras, poderes extraordinários que não têm nada a ver com funcionalidade metálica, que admite na Pirita, a virtude de atrair bons fluidos, de chamar a sorte, de proporcionar o sucesso, a prosperidade e ganhos materiais... 
Tudo isso aí eu falei, com indisfarçável ceticismo, durante uma apresentação que fiz em um seminário que participei no meio da semana (e o dado de interesse consiste no fato de que a cada dia do seminário, dois prêmios eram sorteados entre os participantes, estávamos no terceiro dia, e eu já havia sido regalado no primeiro dia). 
Para ilustrar minha apresentação, levei uma pequena amostra do mineral e fiz uma brincadeirinha dizendo que portava aquela pedra desde o início das intervenções e que, mesmo sem crer nessas pregações esotéricas, com ela me pegaria até o final do seminário. Vai que a sorte me bate à porta outra vez. E não é que bateu! Ao final deste mesmo dia, quando do sorteio, e aliás, após alguns comentários disseminados na plateia sobre a força da minha pedra, justo meu número foi novamente sorteado. 
Não bastasse esta coincidência alinhavada pelo meu discurso, os números com os quais concorri, aqueles que me relacionavam à lista de frequência, tinham também, um quê de inusitados. Na primeira láurea, ganhei com o número 1, porque fui o primeiro a assinar a lista (alguém, em algum momento da vida já viu o número 1 ter ou haver em algum certame?). Já no segundo ensejo, o número 10, me trouxe o regalo, olhaí o 1 outra vez, agora não como um número regente, mas como um algarismo regido. 
Soma-se a estas casualidades, o fato do trabalho que apresentei no seminário, ter sido classificado entre os melhores, e esta colocação também ter me dado um mimo (claro fique que esta conquista não tem uma justificativa na sorte, tenho lá meus méritos na pesquisa, na elaboração e na realização do produto que ali foi apresentado, mas sei lá, tantas coincidências, não ponho minha mão no fogo). Ressalte-se que o fogo era justamente o tema do meu trabalho e que o nome da pedra da sorte aludida e enfatizada, a Pirita, é uma composição do termo grego ‘pyr’, que significa fogo, e do radical ‘ita’, que vem a ser pedra em tupi-guarani. Pedra de fogo. Hum, hum. 
Coisas incríveis aconteceram nesta semana. Probabilidades subvertidas, ceticismos revogados, ironias sufocadas. Economias ativadas (os prêmios que ganhei, recambiei automaticamente para os meus pequenos e já me desobriguei dos empenhos financeiros do Natal). 
E eu que não creio, por via das dúvidas, conservo a pedra guardadinha aqui no meu bolso na esperança de uma outra errada do destino (e por falar nisso, já correu a mega-sena? Se eu não estiver aqui na coluna, na próxima semana, já sabe, tô ricão). 

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