quarta-feira, 12 de setembro de 2012

crônica remix - Rick


Não se reprima
Semana passada o mundo foi abalado por uma revelação bombástica. O ex-Menudo Rick Martin saiu do armário e assumiu a sua homossexualidade.
O Menudo era um grupo musical formado por adolescentes e movido por fortes interesses empresariais. Teve várias formações, mas a que fez mais sucesso foi aquela que colidia os érres de Ray, Roy , Robby e Ricky.
A molecada arrebentava a boca do balão. Enlouquecia as moçoilas das três Américas. Rick Martin era o mais novinho da turma, um pré-adolescente que se destacava pelo desembaraço (e, como o futuro ratificaria, pelo fato de cantar de verdade). Com a decadência do grupo, Rick continuou seu rumo na música sozinho e seguiu por este mundo afora conquistando legiões de apaixonadas fãs.
Acho que o cantor construiu uma carreira sólida, tem um público fiel e não acredito que esta declaração venha abalar a sua fama e o seu carisma junto àquelas (e aqueles) que o admiram (pela voz e pelo repertório popular e também por outras e bem desenhadas virtudes), mesmo porque, a sociedade avançou e o preconceito, hoje, é coisa démodé.
Mas o que eu quero falar mesmo, é sobre um caso que houve entre mim e ele, o Rick Matin (calma lá, nada contra, mas não vamos tirar conclusões precipitadas):
Passei um tempo em Rondônia. Só vinha por aqui, de ano em ano. Era um bebê, não tinha nem vinte anos ainda e era demais amamãezado. Morria de saudade de Belém. Chorava, escrevia cartas sentidas, saudosas. Mamãe sabia que eu sofria um tantão sozinho lá pra’quelas bandas. E por isso, bastava eu escrever dizendo que minhas férias estavam marcadas, que mamãe logo se mobilizava. Era muito bacana. Minha mãe juntava os amigos, a família, vizinhos e levava aquela turma animada para me esperar no aeroporto. Era sempre um reencontro prazeroso, emocionado, pleno. Adorava aquilo.
Mas houve uma vez, terceira ou quarta vez que eu vinha de férias, e que eu achava que a coisa já estava meio rotineira, meio sem graça, que a mamãe anunciou uma surpresa. Não insisti em saber do que se tratava. Contive a ansiedade. Mas, conhecendo a mamãe como eu conhecia, podia esperar tudo. Tinha que estar preparado.
Quando eu desembarquei, que eu olhei para aquele horror de gente se apinhando naquele piso superior do aeroporto, Meu deus! tomei um choque. Uma multidão. Centenas de pessoas gritando, acenando, mandando beijinhos e recados. Pensei cá comigo: “égua, dessa vez a mamãe exagerou”. Na época, eu tinha uma namorada que era cabeleireira e a tinha deixado aqui, loura. Lá de baixo, todo metidão, achando que o mundo estava a meus pés, tentava localizar minha pequena no meio da multidão. Nada.
Passei pelo desembarque, peguei minha bagagem e, pera lá, estranhei a frieza e a solidão na saída para o saguão do aeroporto. Ninguém a me esperar. Interpretei que aquilo fazia parte da brincadeira e rumei lá pra cima, para onde estava armado o furdunço. Quando cheguei lá, ninguém me deu ibope, continuavam todos naquela algazarra, olhando em direção a pista de pouso. “Agora eu vi”, refleti, meio frustrado. Enquanto matutava alguém me puxou pelo braço. “Ei! Passasse, me visse, nem falasse”. Era a minha namorada, de cabelo pintado de preto (eis a surpresa, a minha namorada, era agora uma morena que eu mal reconhecia. Se não viesse até mim, passaria duzentas vezes por ela e nem maldava...). “Umbora”, disse ela, “umbora que o Menudo tá chegando e minha irmã tá guardando lugar ali na frente”. E lá fui eu para, sem me reprimir, juntar-me às tietes do Rick Martin que acabara de descer os primeiros degraus da escada do avião que aterrissou logo depois do meu.

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