quarta-feira, 19 de setembro de 2012

crônica remix- equinócio


Jambo, jambo, jambo
O bacana da gente viver assim, na faixa intertropical do globo é essa ausência total dos conformes e compreendos das estações do ano. Se contar que aqui na Amazônia estamos bem pertinho do meio do mundo aí a coisa destrambelha de vez. Se ao sul, não existe pecado, aqui ao pegado da linha que divide o planeta (da Vila dos Cabanos, de onde escrevo agora, segundo a imagem que baixei do Google Earth, estou a apenas 1 grau, 38 minutos e 8 segundos da linha do Equador) grassam os libérrimos caprichos da natureza. Ou como bem a propósito, nos revelam os versos da bela canção “Dias Assim”, da altamirense Joelma Kláudia, por aqui, “Um dia sol; outro dia, chuva”.
E sabe, para a época, até que tem chovido bem este ano. E cada pampeiro! São aquelas chuvas desobedientes que vêm ali das bandas do Marajó. Enfezadas que só elas, chegam trazendo trovões e relâmpagos de dar arrepio, no finalzinho desprotegido, da tarde. Já reparou? A gente tá bem assim, se vendo com o calorão e, de repente o tempo forma. E aí é água que não acaba mais.
E é este inconformismo, este charme tropical que nos coloca alheios ao tradicionalismo climático da Terra. Entretanto, quer a latitude queira, quer ela não queira, de acordo com o calendário publicado pelo site Cosmobrain Astronomia, no próximo dia 22 de setembro, às 12:44h, a primavera chega. Trazendo...
Primeiro trazendo o sol. No dia 22, acontece o equinócio de primavera. É o dia em que o sol posta-se rigorosamente sobre a linha do Equador. É o dia em que o sol nasce exatamente no leste e se põe inequivocamente no oeste. Dá até pra gente traçar o percurso do sol a partir deste dia. É só a gente localizar um ponto fixo (pode ser um poste da rua, uma árvore, um prédio) que coincida com a posição do sol ao nascer e outro que o acompanhe no poente. De segunda-feira em diante a gente vai perceber o sol se distanciando destes pontos a cada dia, no seu obediente caminhar rumo ao sul.
Depois, trazendo as marés altas. Não tão altas como aquelas de março que lavam os (imaculados) trilhos do belocentro. Mas um tantinho a mais que as normais. É explicado este agito nas águas da Guajará pois que estando o sol sobre o Equador rola um frisson gravitacional. No Equador a Terra volta-se diametralmente sensual para o astro-rei. Fica, digamos, mais perto do sol, e nesta situação, a atração é fatal. Incontestável. Daí os sassaricos e remelexos líquidos pela orla. Tudo nos conformes com Newton, observo.  As marés altas, conhecidas como marés de sizígia, porém, prometem espetáculos nos períodos limites do equinócio, no meio e no final do mês, nas luas Cheia e Nova. Agora por estes dias vivemos dias de calmaria anunciados pelas marés de quadratura, correntes comportadas regidas pela lua minguante (e queira o bom Deus que tudo isso que antevejo se consagre ‘por agora em adiante’, do contrário, vou levar um puxão de orelhas do meu professor Werner  Truckenbrodt, porque não aprendi direito a lição sobre as correntes de maré).
Por último, ia dizer que a primavera nos chega trazendo as flores. Mas essa não é toda a verdade. As flores já estão. As flores, por aqui já são. A roseira aqui de casa, por exemplo, desde que tempo se faz...rosa.  Prescinde da sazonalidade para brotar. Generosa que é, me fornece um botão quando bem entende.
E se ‘nosostros’ do Norte do Brasil não temos inverno friozinho, não temos folhas caindo (com exceção daquela fulgurante samaúma que tem lá na Bernardo Sayão) e não temos flores anunciando a primavera, o que afinal a primavera nos traz?
Tenho pra mim que ela nos traz mangas vistosas e jambo, jambo...jambo.
 

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