sábado, 10 de setembro de 2011

Crônica da semana -cricri

Cri-cri da silva
Não é por nada, não. Não que eu seja um mala querendo resolver coisinhas insignificantes de uma cidade que sofre de males inomináveis. Um cri-cri pretensioso ou um descontente vouyeur ávido por brilhos e tezes acetinadas. Não me tenham como um chato.
Mas olha só: escrevi há uns dias sobre aquela escada que dá acesso a avenida Presidente Vargas. Disse, na ocasião, que o corrimão tá quebrado; que ela é uma construção secular refinada; que pauta algumas de minhas memórias e parari, parará.
Depois, dei uma ciscada neste mesmo tema, numa crônica que fiz sobre a Marcha das Vadias. Postei fotos nas redes sociais, no meu blog...E, que droga! Uma solução para aquela destruição, nem se ensaiou. Não houve um isso de atitude, um murmúrio de notícia sobre, uma menção ou um arremedo de remendo.
Volto ao assunto então. Pode me chamar de chato e coisa e loisa, mas, pô, aquilo é um símbolo do nosso sucesso, da nossa ascensão, dá uma turbinada em nossa auto-estima. É índice de orgulho e altivez. É um faz-de-conta ufanista, mas conta, ora bolas, nas nossas contas de cidadania. Se ela, a escada (construída com apuro e zelo, no início do século 20) tá desarrumada, imagina a nossa vidinha de belemense da Pedreira a quantas anda! Os atores citadinos não podem se submeter a submersão moral proporcionada pelo desleixo e pela sensaboria administrativa (mesmo porque já se batem com aspecto prático da ‘submersão’, aquele providenciado pela maré alta e pela chuva das três).
Temos que ser previdentes. Outubro tá chegando e aquele é um trecho melindroso da procissão do Círio de Nazaré. Todo mundo tem uma história pra contar sobre aquela ‘subida da Presidente Vargas’. Boa parte dos romeiros, pressionados pelo mar de gente, vai dar naquela quina. E eu já falei que, o que resta da balaustrada tá pra cair. Não vamos falicitar para que um acidente no dia maior da nossa fé aconteça,né? Alô, gente das altas, vamos agir.
E gentes das altas, não faltam. Aquela região está, graças ao bom pai, sendo revitalizada. O casario do Boulevard aos poucos vai ganhando cores e sabores. O Sesc restaurou e pôs em uso um flanco do casario. Na outra ponta, pras bandas do antigo e proibido Xendengo, o Arraial do Pavulagem e os sindicalistas do Fisco deram vida e sonoridade às antigas construções. Um restaurante famoso se faz anunciar naquela paragem. A Praça dos Estivadores, aos poucos se reacende para o mundo com a Zona Cultural. A galera da iniciativa privada tá fazendo o dever de casa. Mas cadê o poder público?
Ali naquele pedacinho de Paris, pelo menos três instituições financeiras públicas abrem o seu leque de poder e empáfia. O Banco Central, na beira da baía, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica logo ali no alto da ladeira. Não é possível que destes cofres afortunados não saiam uns trocados pra arrumar aquele entorno (incluindo aí a praça Waldemar Henrique, um dos lugares mais inóspitos da cidade). Olha, a Santa vai ralhar se vocês não fizerem nada! (E aqui vai um recorte especialmente dedicado à Caixa Econômica: a calçada que calça o rompante financeiro que administra o nosso FGTS, toda construída com pedras portuguesas está totalmente degradada. Buracos, pedras saltadas, piso desnivelado, plano aviltado, alma roubada. Nem acredito, que na ilharga daquele abandono funciona, insensível e fria, umas das maiores instituições financeiras do país. Aí a gente pensa: se chegar ao portão da Caixa é nos tropeções, que dirá conseguir um financiamento...).

Um comentário:

  1. Belém está completamente abandonada. seu gestor não tem a menor ideia da importância dos nossos monumentos históricos e arquitetônicos.

    Vou abordar pela enésima vez em meu blog esse tema. Parabéns pelo post. Abraços.

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