quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sorrisos dos arrabaldes

Penso que a cidade se revela pra gente no simbolismo de ambientes especiais, cheios de história e vida.
Em Belém, tenho os meus cantinhos:
A Pedreira, do samba e do amor, tem uma cola comigo que não desaprega nunca. Moro na Pedreira desde que me entendo por gente. Antes dos espigões e dos medos diários, eu pintava os canecos pelos alagados dos quintais, catando camapu, s’escondendo dos moleques nas brincadeiras de “camonhaboy”, ou em descobertas edificantes junto à uma galerinha pra lá de desinibida nos happy-hours tecidos a ‘pó-rouge-batom’  ou a ‘ai, caí no poço’ (e por onde bate a água?...).
O progresso chegou. A macrodrenagem disciplinou irrequietos cursos d’água e revelou para o mundo o Acampamento, que não é um bairro, não é um aglomerado urbano ou um espaço conurbado. O Acampamento a mim, mais parece ser um enclave soberano e absoluto, enriquecido de solo colorido e pedregoso, ilustrado pelos contrastes de relevo que se confirmam nos barrancos à margem do Galo. Um condado irrigado pelos olhos d’água que teimam em brotar sob a pavimentação incipiente e delineado pela graciosa geografia que o integra, ao mesmo tempo, aos bairros da Pedreira, Telégrafo, Sacramenta e Umarizal. O Acampamento é um desafio-cidadão que guarda em si o charme e os mistérios do ‘interlan’ paraense.
Meu ‘suburbano coração’, já que está ali, pela ponte do Galo, apanha um ‘Nova-Marambaia-Telégrafo’, pega a Almirante, passa do marco da primeira légua, se adianta pelo Souza, camba direto para a estrada de Icoaraci e desembarca ali, adiante um pouquinho do Mangueirão. Uma região que me trouxe muitas emoções. Andei por ali bem antes do asfalto, das ocupações ao pegado das matas da Marinha, do grande estádio. Aquele trecho da Augusto Montenegro tinha uma mina de campos de futebol. Naquele estirão, o fabuloso Internacional da Mauriti alcançou as suas maiores glórias. Houve ocasião d’ a gente disputar uma partida aqui, no trevo do Pedro Teixeira e depois sair correndo pela estrada do Tapanã até outro campo, para o cumprimento de mais um compromisso de boleiro. E era no pique mesmo, porque naquele tempo, por aquelas bandas, não havia nada. Ônibus, asfalto, completo de suco com pastel, passe fácil. Nada, só as chácaras, e as pontas de mata. E era longe à beça. A gente, olha só, até se programava para passar as férias no Tenoné.
(Esta parte da cidade me intriga. Recordo a existência de um clube super animado. Depois da bola, a molecada sempre esticava para a piscina do Satélite. As lembranças são vagas e confusas. Às vezes penso tratar-se de outro clube, o da Mesbla, talvez. Sei, porém, que a gente sempre furava. Se metia por dentro do mato, disputava caminho com as formigas de fogo, relava um isso no arame farpado, mas, com pouco mais a gente já tava de flozô sumindo aqui, boiando acolá, na piscina dos grandes. Lembro também, que a música que reinava era o carimbó. O clube era uma alegria só, naquele remelexo molhado de salão. Essas imagens vêm à minha cabeça, confundem-se, somem, retornam. Às vezes sem o arame farpado, mas sempre com o ritmo e o calor do carimbó. Perece sonho. Nunca mais ouvi falar daquele lugar. Será que a piscina do Satélite existiu mesmo?).
A Escola Jarbas Passarinho, ainda está lá, atrás do Bosque. E por aí a gente tira. O lago, as canoinhas...
Dali, a gente atravessava a grande avenida, ia bater no Curió e emendava para as matas do Agronômico. Para passarinhar, para se perder entre os ‘canyons’ abissais por detrás da Bandeira Branca, para beijar, escondido, a morena e para contemplar os inocentes sorrisos dos arrabaldes.

Um comentário:

  1. eu adoro belém. adoro ficar vendo o rio e confesso que shopping também é legal!!!! rssss

    ResponderExcluir