sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

crônica da semana

Jogo de bola
Meu menino faz quinze anos amanhã. E o presente que ele pediu de aniversário me surpreendeu. Argel de Assis sempre foi meio largado. Tem costumes frugais. Inclinações franciscanas. Nunca deu muita bola pra mimos. Em que pese, para qualquer oportunidade: aniversário, Natal, dia das crianças a única coisa que fazia questão de ganhar era uma bola. Dava uma bola pro menino, pronto. Tava feliz. Ô, pequenozinho econômico! Mas mesmo assim, conhecendo este perfil moderado do meu filho, o pedido que ele fez para comemorar os quinze anos foi uma surpresa: quer um jogo de futebol entre os meus amigos e a turma dele. Coisa do tipo Amigos do papai versus Amigos do Argel.
Gostei da idéia. Mas vou ser sincero. Tá difícil pra montar a minha onzena. Minha pariceirada até que se animou para a partida, mas não faz questão de jogar, conforma-se em ficar no banco (ou no balcão do bar mais próximo, tanto faz). Ocorre que os companheiros que estão mais próximos e com quem eu consegui contatar para abrilhantar a contenda comemorativa, por pura coincidência, destacam-se em outras artes que não aquelas ligadas ao esporte. São afinados com as atividades mais, digamos assim, intelectuais. Portanto, quedam-se obedientes ao ensinamento do cartunista Jaguar quando prega que “intelectual [não joga bola], intelectual bebe”. E também, por conta das lidas diárias, são sedentários, e não vão se arriscar a uma síncope em pleno carnaval, né. Tem gente da minha turma que a última vez que correu atrás de uma bola de futebol, foi no Natal de 1975. E a última vez que correu por um motivo nobre qualquer, foi em 2002. Por aí, a gente tira. Bom, em tudo por tudo, combinamos homenagear o Argelzinho com uma apresentação simbólica de ‘eternos 15 minutos’, na condição de que o adversário (olha o trato aí, heim, Victor Brenner!) facilite na marcação e nos deixe marcar pelo menos uns dez golzinhos.
O pequeno tá merecendo. Nos últimos anos, Argel vem se construindo, ganhando brilho próprio. Fortalecendo-se em atos e opiniões. Não é mais o bebezinho que me chegou aos braços naquela terça-feira gorda de 1996.
(Nasceu naquela terça de carnaval. Um feriado meio que informal, no Brasil. Quando chegou ao quarto, nos sacamos logo. Ele, com aqueles olhos cor de mel abertos, reconhecendo tudo. Assuntando. Papai, papai tá aqui. Foi mais ou menos assim, que nem naquela cena do Nemo, sabe. Me apresentei logo. Papai tá aqui, filho. Minha comadre Valéria Nascimento pegou meu menino com cuidado - os olhos melífluos do pequenino, curiosos, medindo, discernindo - e o trouxe pra mim. Acatei as orientações, as coordenadas, peguei o jeitinho e lancei os meus braços pra abrigá-lo... E ele veio direto para o meu coração).
Merece mais ainda, porque hoje, nos vemos pouco. Fico aqui por Barcarena provendo o nosso ‘de cumê’. E só tenho com ele, nos finais de semana. Mas mesmo que eu ficasse direto em Belém, ainda assim, nos restaria só o final de semana. Meu menino sai de casa às seis horas da manhã e só volta às dez da noite. Tem a escola, o basquete, o inglês, a aula de violão, o basquete de novo. É um menino muito ocupado. E às dez, ó, eu já tô nanando que tempo.
Por isso, quando chego no sábado, fico arengando, faço barulho. O pequeno ainda está dormindo. Cansado. Precisa se recompor. Mas faço que faço pra tirá-lo da cama. Preciso dos carinhos dele (talvez para me purgar da culpa pela distância). Papai. Papai tá aqui. O custo é ele acordar. Depois que acorda, nos divertimos a valer. Nos superamos para minimizar essas travas do cotidiano. Cada minuto que passamos juntos é uma maravilha, vale pela folhinha do ano inteirinha. (Só que neste sábado, vamos interagir pouco. Tenho que me preparar técnica, física e psicologicamente para o jogo de amanhã).

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