O museu da Pedreira
Em
praticamente todo estirão que se estira, a Marquês sempre foi uma rua larga.
Tirando o pedacinho que vai da Alferes Costa à Dr. Freitas, quando sofre um
estrangulamento e forma barrancos de pedras avermelhadas nas margens, todo o pedação
até o interflúvio do canal da Três de maio com o canal da Visconde, tem
avantajada envergadura. Puxei esta conversa junto ao meu grupinho de caminhada
terapêutica, enquanto vencíamos os trinta quarteirões, contados ida e volta, de
exercícios e marchas aeróbicas pelos canteiros da avenida, conhecida, tida e
havida também como via parque.
Aquela
prosa ofegante me serviu para dar um verniz nostálgico a este janeiro de
comemorações pelo níver de Belém. Nostálgico e memorialista, digo, porque
tentei trazer aqui para a Pedreira as essências, as marcas da identidade do
bairro. Logo ali na Marquês, identifiquei uma entidade que resiste ao tempo: a sede
do Alegria. Clube emblemático e que a gente associa sem duvidar, ao prazer das
festas dançantes, às glórias do desporto e, na raiz, aos frutos da
beneficência. Uma referência. Talvez a única associação em atividade, com este
leque de fazeres. Na volta pra casa, virei e mexi, tentando achar traços de um
par para o Alegria, pelo menos no esporte, o glorioso Asas do Brasil. Mas
quite, nem poeirinha. E não se pode perder o Asas assim, para os ventos do
esquecimento.
A
Marquês que roteirizou a minha infância e juventude, hoje só guarda a sede do
Alegria, a largura avantajada da rua, a Samaúma da Barão e os barrancos
cimentados, alguns encaixando garagens, de um lado e do outro, do trecho mais
estreito. Até a garagem do Batista Campos foi-se.
Estes
esmigalhamentos do acervo histórico, nos faz refletir. Daí me vem à cabeça, a
idéia de um museu. Uma organização que reproduza a, ainda que acanhada,
iniciativa que a gente vê circulando pelo centro.
Trazer
para os bairros uma política de posse e partilha, que nos permita o zelo com a
memória nos daria prestar reparo, e ainda em tempo, efetivar ações de
preservação de heróicas relíquias.
Eu
tenho lá meus focos. Um, é a reconstituição afetiva, ou mesmo cartográfica de
todo aquele complexo esportivo, forjado pela molecada, operante até o final da
década de 70, e que era formado pela planície do Areal, acrescida ainda do campo
(e a sede) do Asas do Brasil e campo do Trabalhista, nos arredores.
Outro
traço marcante é a arquitetura. Me apraz o rico acervo que a Pedreira ostenta de
um tipo de construção modernista presente nos desenhos em azulejos conhecidos
como o estilo ‘Raio que o Parta’. Era vez de se mapear, fazer as visitas, os
circulares, reconhecendo esta manifestação estética existente na periferia.
Em
outra ponta (e acima), encontramos, aqui, ali, em trechos dispersos do bairro,
a estrutura das platibandas somadas às paredes de casas ou comércios. Embora
bem poucas, as platibandas inspiram outras entradas históricas. Como indicam
uma estratificação social e se manifestam muito no centro da cidade, merecem atenção
quando acontecem nos bairros. Indicam ser adaptações do poder, exibições presunçosas
de uma classe do bairro mais aquela de posse que o vulgo, um xeno de uma camada
diferenciada enclavado nos lugares mais populares e afastados.
E
aquela Samaúma na esquina da Barão, heim! Uma maravilha centrada no largo da
Marquês. Na origem, já justifica uma resenha de museu. Foi plantada logo que
avenida saiu da piçarra para o asfalto e o buraco que abrigou a muda foi
vencido à cuiadas. A tacacazeira que forneceu as cuias tem vaga na história. A
turma que plantou merece uma placa, posto que, foi a patota da rua que ensejou
a via parque.
Simpatizo
com o prédio, há um tempo abandonado, do Colégio Maroja Neto, para abrigar o
museu. Fica na porta de entrada do bairro e às margens bucólicas do Galo. Além
do que, já é memória.
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