sábado, 20 de janeiro de 2024

crônica da semana - museu da Pedreira

 O museu da Pedreira

Em praticamente todo estirão que se estira, a Marquês sempre foi uma rua larga. Tirando o pedacinho que vai da Alferes Costa à Dr. Freitas, quando sofre um estrangulamento e forma barrancos de pedras avermelhadas nas margens, todo o pedação até o interflúvio do canal da Três de maio com o canal da Visconde, tem avantajada envergadura. Puxei esta conversa junto ao meu grupinho de caminhada terapêutica, enquanto vencíamos os trinta quarteirões, contados ida e volta, de exercícios e marchas aeróbicas pelos canteiros da avenida, conhecida, tida e havida também como via parque.

Aquela prosa ofegante me serviu para dar um verniz nostálgico a este janeiro de comemorações pelo níver de Belém. Nostálgico e memorialista, digo, porque tentei trazer aqui para a Pedreira as essências, as marcas da identidade do bairro. Logo ali na Marquês, identifiquei uma entidade que resiste ao tempo: a sede do Alegria. Clube emblemático e que a gente associa sem duvidar, ao prazer das festas dançantes, às glórias do desporto e, na raiz, aos frutos da beneficência. Uma referência. Talvez a única associação em atividade, com este leque de fazeres. Na volta pra casa, virei e mexi, tentando achar traços de um par para o Alegria, pelo menos no esporte, o glorioso Asas do Brasil. Mas quite, nem poeirinha. E não se pode perder o Asas assim, para os ventos do esquecimento.

A Marquês que roteirizou a minha infância e juventude, hoje só guarda a sede do Alegria, a largura avantajada da rua, a Samaúma da Barão e os barrancos cimentados, alguns encaixando garagens, de um lado e do outro, do trecho mais estreito. Até a garagem do Batista Campos foi-se.

Estes esmigalhamentos do acervo histórico, nos faz refletir. Daí me vem à cabeça, a idéia de um museu. Uma organização que reproduza a, ainda que acanhada, iniciativa que a gente vê circulando pelo centro.

Trazer para os bairros uma política de posse e partilha, que nos permita o zelo com a memória nos daria prestar reparo, e ainda em tempo, efetivar ações de preservação de heróicas relíquias.

Eu tenho lá meus focos. Um, é a reconstituição afetiva, ou mesmo cartográfica de todo aquele complexo esportivo, forjado pela molecada, operante até o final da década de 70, e que era formado pela planície do Areal, acrescida ainda do campo (e a sede) do Asas do Brasil e campo do Trabalhista, nos arredores.

Outro traço marcante é a arquitetura. Me apraz o rico acervo que a Pedreira ostenta de um tipo de construção modernista presente nos desenhos em azulejos conhecidos como o estilo ‘Raio que o Parta’. Era vez de se mapear, fazer as visitas, os circulares, reconhecendo esta manifestação estética existente na periferia.

Em outra ponta (e acima), encontramos, aqui, ali, em trechos dispersos do bairro, a estrutura das platibandas somadas às paredes de casas ou comércios. Embora bem poucas, as platibandas inspiram outras entradas históricas. Como indicam uma estratificação social e se manifestam muito no centro da cidade, merecem atenção quando acontecem nos bairros. Indicam ser adaptações do poder, exibições presunçosas de uma classe do bairro mais aquela de posse que o vulgo, um xeno de uma camada diferenciada enclavado nos lugares mais populares e afastados.

E aquela Samaúma na esquina da Barão, heim! Uma maravilha centrada no largo da Marquês. Na origem, já justifica uma resenha de museu. Foi plantada logo que avenida saiu da piçarra para o asfalto e o buraco que abrigou a muda foi vencido à cuiadas. A tacacazeira que forneceu as cuias tem vaga na história. A turma que plantou merece uma placa, posto que, foi a patota da rua que ensejou a via parque.

Simpatizo com o prédio, há um tempo abandonado, do Colégio Maroja Neto, para abrigar o museu. Fica na porta de entrada do bairro e às margens bucólicas do Galo. Além do que, já é memória.

 

 

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