Não é, mas pode ser (verossimilhança)
Tava
aqui, catando coquinho nas ideias; pensando na morte da tal bezerra, olhando
pro tempo; procurando um tema para a crônica de hoje, quando dei fé, olha só, é
dia do meu aniversário, gente! Eba! É big, é big, é hora, é hora, é hora, rá
tim bum!
Chega
me dá um nervoso escrever a coluna exatamente no dia que estou no berço. É
muita emoção. As palavras me faltam.
E
por falar em palavras, esta umazinha que está dando título à crônica me era até
dia desses uma conta batida no sentido e na significância. Até que a encontrei
algumas vezes, em destaque, na biografia que andei lendo do repórter David
Nasser, escrita pelo paraense Luiz Maklouf Carvalho. No contar da história,
descrevendo os métodos de reportagem utilizados por Nasser, Maklouf nos guia a
entender que a estrela maior da revista O Cruzeiro produzia um texto pautado na
verossimilhança. Ao mesmo tempo, diz que o Nasser inventava as histórias, forjava
matérias. Nessa hora, embananei. Pensava que verossimilhança era propriedade
daquilo que é verdadeiro, dado e constatado. E nem é. É só uma possibilidade.
Dar-se como verossímil um fato não é admiti-lo como verdadeiro, mas, pode ser,
pode ser.
E
aí, vem o aniversário, né. Cinco ponto três nos costados e aquela inevitável
paradinha para um balanço. Por fim e por termo, admito-me como verossímil.
Estou na fase dos enta, dobrando a Tordesilhas do tempo, mas ainda transito no
campo das possibilidades.
No
correr desses anos todos escrevendo aqui na coluna trago tilintando em mim uma
crônica que fiz, também quando completava anos. Cinquentão. É uma das minhas
preferidas. Faz essa reflexão sobre o tempo. Comparara esta fase que vivo, com
um cubo de gelo. Mostra meu conformismo em reconhecer que daqui pra frente o
tempo vai ser mais curto do que daqui pra trás. Quando escrevi a crônica fiquei
todo metidão porque havia feito um apanhado elegante e sincero sobre essa arte
de ir ficando velhinho. Achava que estava sendo inovador, original na percepção
e no conceito. E nem fui. A mesmíssima conotação que dei à passagem do tempo,
achei em outros e afamados autores nos mesmos bem feitinhos termos, distintos e
racionais. Na real, as nossas retas se encontram no insondável futuro. Que
certo e reto não é. Mas pode ser, pode ser. O futuro para mim, transita no
campo da verossimilhança.
Hoje,
sabadão, dia de uma preguicinha daquelas, o descanso do guerreiro. Hoje, o dia
que acordo todo dengoso querendo mimos e atenções, é big, é hora, rá tim bum,
me animo a projetar bons dias vindouros.
Do
balanço, o dito é certo. Passou, tá passado. Se para o bem ou para o mal, me
foi dado viver extraindo o máximo que pude dos licores dos dias. E eis-me aqui
como resultado, e olha, me sentindo bem que só.
De
meu futuro... O fato dado. Sabadão, mimos, dengos, um bolinho, apagar velas, um
presentinho num embrulho bonitinho, Um parabéns pra você tradicional e... um
logo mais, que espero venha pautado na verossimilhança, nas possibilidades, um
pouco de invencionice, uma pitada de desejo. E sonhos, porque sonhar, ainda tá
valendo.
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