O Uri Geller da Pedreira
Eu
sempre desconfiei que tinha em mim algum
poder. Desde aquele dia que repassei pra mamãe toda a sequência de números que
consegui lembrar de um cochilo que dera à tarde, ela anotou, jogou e cravou o
Corujão na cabeça, sinto que tenho superpoderes. Tudo bem que ainda não sonhei
com os seis números da Supermega da virada, mas calma lá com o andor que meu
santo é o Francisco, humilde e pobre. Regradíssimo. Milita somente ali, pela
raia rasa dos movimentos financeiros miúdos.
Os
meus dons estavam hibernando nesses últimos anos. Ando numa pindaíba, numa
panemice que não fecho uma pule nem pelos cinco. Mas de uma hora pra outra,
pôu! Uma explosãozinha de magia aconteceu em mim.
Olha
só essa:
Tenho
um barbeador elétrico. Num determinado momento do ano passado, quando precisei
do danadinho, ele nem seu Souza. Nem um zunido deu. Pus pra carregar por horas,
chega passou de um dia pro outro. Nada. Não funcionou. Dei umas pancadinhas,
abri o compartimento, rodei, friccionei, excitei os elétrons no lado positivo
da pilhinha na barra do meu short. Liguei e nada. Busquei a ajuda dos
universitários, meus meninos também não obtiveram sucesso. Lascou-se!
Escangalhou. Não tem mais jeito. Meio inconformado, descartei a maquininha.
Qual não foi minha surpresa ao perceber que na queda, ao ser lançada à cesta de
lixo, ela simplesmente reanimou. O motorzinho vibrou de novo com força e
vontade. Peguei do lixo, o barbeador, aproveitei o momento, acoplei os
acessórios e me embonequei.
Não
parou mais. Isso foi no ano passado. Após aquele dia, a máquina, sempre que solicitada,
não negou fogo. Aceitava a recarga, fazia a missão, era desligada; e noutra e
qualquer necessidade mais adianta, lá s’stava ela animada, zunindo e cortando
meus pelinhos da cara. Até que na semana passada, pluft! Pifou de novo.
E
a reação deu-se da mesma forma: recarga varando o dia, pancadinha de um lado,
pancadinha d’outro, excitação dos elétrons... Nada. Nem um pio. Nem um
triiiimmm.
O
Uri Geller era um israelense que na década de 70, intrigou meio mundo
entortando talheres com seus poderes paranormais. Fez e aconteceu pelos quatro
cantos do mundo dobrando garfos e facas das mais renomadas marcas de
inoxidáveis só com a força do pensamento. Lembro dele no programa do Flávio
Cavalcanti, naquele dia, iria atuar à distância, pelas ondas da TV. Eu fiquei
em frente à nossa Empire preto e branco, e durante todo o programa massageando
meu garfo, mas o garfo não entortou. Detalhe, detalhe.
O
que importa é que essa semana que passou foi quando meu aparelho de barbear
parou de funcionar de novo. Fiz a tentativas usuais para reanimá-lo e necas de
pitibiriba. Aí, lembrei dos meus poderes. Busquei plateia. Chamei a família e
anunciei: “lembram que da outra vez joguei a máquina na lixeira e ela tornou?”,
provoquei a assistência. Pois foi batata. Foi só arremessar para a cesta que
motor zuniu. Eu mesmo me surpreendi. Verdade, sou o Uri Geller da Pedreira!
Minha pule não banca nem pelos cinco, mas, tendo uma cesta de lixo por perto,
faço que é uma beleza, um motor rodar.
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