sábado, 30 de maio de 2015

crônica da semana - dia do geólogo Darwin

Darwin e o peão de Rondônia
Em 2004, depois de 22 anos longe dos bancos de escola, entrei na faculdade. Ali pelo início de março, lá s’estava eu no corredor do P-04 esperando junto com meus coleguinhas, a primeira aula do curso de Geologia. Cabeça raspada, pastinha, canetas de duas cores no bolso, o da merenda, um certo constrangimento (logo superado) de estar ali, de par com estudantes bem mais jovens que eu (que já estava velejando nos mares dos ‘enta’). Querendo porque querendo me formar.
Antes, porém, tinha que mudar conceitos, rever certezas. Estava num curso que tinha tudo a ver com minha vida profissional. Trabalhando como Técnico de Mineração pelos rincões amazônicos, me embrenhei, em várias oportunidades, em tarefas que tinham a Geologia como fonte principal de informação e inspiração. Éramos íntimos.
Deu-se então que quando cheguei à universidade, na minha cabecinha reinava uma certa arrogância. Ia dar de dez naquela molecada, tirar ‘E’ em todas as disciplinas, convencer meus mestres com a minha vivência. Achava que já sabia de tudo. Que estava ali na Federal só pra pegar meu diploma de geólogo. Mas quando! Sabia de nada, inocente!
Não que minha vivência e o meu aprendizado na Escola Técnica me estivessem em débito. Não. É que na Universidade, a escala é diferente. O teor é mais apurado. Detalhes nos são apresentados. Um novo cenário (até mesmo microscópico) é recriado para velhos enredos. Aí, eu fui revisando a história...
Certa vez, um auxiliar de campo que trabalhava comigo em Rondônia me trouxe uma amostra de solo e foi logo caracterizando e dando nome para aquele testemunho arenoso. Eu, que era vaidoso, cheio de besteiragem porque tinha um diploma de segundo grau, desdenhei, saí de banda negando, detonando a informação do rapaz. Anos depois, na Universidade, calhou de um professor-doutor nos apresentar uma amostra escritinha àquela do pequeno, caracterizá-la e dar-lhe o nome do mesmo jeitinho como me foi ditado pelo auxiliar de campo lá em Rondônia. Bateu no cocuruto um arrependimento na hora. O pequeno tinha razão e eu era um bestão iludido. Como fui injusto.
Por causa de umas questões paralelas, abandonei o curso. Meu canudo ficou para ainda mais tarde, mas uma coisa aprendi na Universidade: é um lugar de revelações, de reconsiderações, de remissões. É a chance que temos de alinhar noções do saber e a cada uma delas, dar um peso, uma responsabilidade e, convenientemente, uma equivalência na sensibilidade do vulgo.

Hoje se comemora o dia do geólogo. Quem está lá na Federal experimentando as dores e as delícias da Geologia, perseguindo um diploma, agora, é meu menino. Meu desejo de pai é que, com o canudo na mão, meu filho procure sempre lutar pela harmonização dos saberes (indiscutivelmente, apostar nesta procura, das coisas que aprendi na Universidade, foi a mais importante). Que descarte os desprezos vis, a soberba (admitindo que a Geologia possa se realizar com o mesmo zelo, pela genialidade de um Darwin e pela intuição de um auxiliar de campo). E que em tudo, seja feliz nesta profissão fascinante. 

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