sábado, 5 de julho de 2014

crônica da semana - a suíça é aqui

A Suíça é aqui
No início da semana, resolvi assistir a um jogo da copa, no Ver-o-Peso. Deu certo na partida da Argentina contra a Suíça. Foi bem bacana. Mesmo dia de semana, naquele afoguedo da uma da tarde, o Veropa ainda chama muita gente. As coisas acontecem por lá. Fiquei na beira, de confronte à baía, no front, afinal. Me aprumei numa mesa, pedi uma gelada, e fiquei secando os hermanos. Assim, na margem da Guajará e apegado a uma das barracas do mercado, a gente, além do jogo se atém, se inteira das coisas, se integra. Vai atinando...
Já havia desconfiado pelos rumores, pelas empolgações da vizinhança e até pelo alarido descompassado aqui de casa mesmo, que há um atraso na recepção da imagem de uma TV convencional, para uma dessas modernas digitais. Mas ali no Veropa, tirei a cisma de palmo em cima. Na fronteira entre duas barracas, a de cá era de tubo porruda, a outra de lá, dessas novas fininhas. Fiquei um tempão, antes do jogo, comparando os tempos distintos de exibição. Na TV de tubo, o Messi coçava a cabeça se ajeitando pra entrar em campo; um instantinho depois é que a imagem ia aparecer na outra moderninha. Aí, feito menino besta, fiquei pinguepongueando com os detalhes sincopados. Câmera fecha no cumprimento dos juízes, e aí eu dizia pra mim mesmo: “quer ver, quer ver, vai já aparecer na outra...” e era vapt, o cumprimento se repetia; um close na torcedora suíça, e eu, de pronto... “quer ver, quer ver...” e lá s’stava a loira, num loguinho, no outro hemisfério de tela.  E tudo igualzinho. Até ali só tinha tomado um gole de nada da minha gelada, heim, e já estava nessa viagenzinha destrambelhada sem noção. Só parei com este ‘tá aqui, tá ali do mesmo jeitinho’, quando uma vizinha de mesa alertou sobre uma pequena que se aproximava. “olha, não dá dinheiro pra ela não. Ela pede só pra tomar cerveja, ela mais o cara dela e não é da barata não, faz questão das melhores cervejas”. A moça vinha cachingando, amparada por uma muleta, e pedindo um trocado de mesa em mesa. Demorou-se por ali um tempo, mas aí começou o jogo e despluguei dela. Não mais a vi. Deve ter pressentido o desvelar de seus segredos e passou ao largo.
Desse contato em diante, me enturmei, arranjei prosa com meus amigos de bar. Uma jovem senhora que acompanhava um cidadão de fala baixa e vacilante, e que sem que eu a inquirisse, ou que de minha conta fosse, se anunciou com quarenta e seis anos, três filhos e quatro netos; era a mais animada para a conversa fiada. Declarou que independente das fragilidades do escrete canarinho, torcia e levava fé era no Brasil. O importante era a emoção. O cidadão que com ela estava e que articulava com muita discrição as palavras, despregando bem pouco os lábios, do que eu pude entender, mesmo sob o levante da galera, num lance de perigo da Suíça, ponderou meio descrente, meio previdente: “o jogo só ganha emoção no segundo tempo”. E ela: “tudo é emoção, meu filho”. Eu pedi mais uma cerveja, dei com os olhos lá pro fim da baía, naquela dobra de Icoaraci e concordei com os dois: “é mesmo, é mesmo”. Nisso que me volto para as cenas do Ver-o-Peso, qual não foi a minha surpresa quando me deparei com dois suíços, já perfeitamente acomodados, assistindo ao jogo no bar ao lado. Torcedores de tezes doiradas, bochechas rosadas. Deduzi que eram suíços porque traziam estampada na camisa a bandeira do país, símbolo conhecido aqui em Belém por causa de um colégio que fica ali por Nazaré. E naquele afogueado da uma da tarde, no Veropa, no irmanamos, na torcida contra os argentinos, mas quando que adiantou. O Messi...Sempre o Messi.
 

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